Issue 2 | 1st July – 31st December 2024
Fascículo 2 | 1 de julho – 31 de dezembro 2024
UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA
e-ISSN 2183-4806
FREE | GRATUITO
XX
VOLUME
UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA
e-ISSN 2183-4806
FREE | GRATUITO
Issue 2 | 1st July – 31st December 2024
Fascículo 2 | 1 de julho – 31 de dezembro 2024
XX
VOLUME
PSIQUE | Volume XX | Issue 2 | 1st July – 31st December 2024
Semiannual Publication. Scientic Journal of the Psychology Research Centre – CIP – from the Universidade Autónoma
de Lisboa – Luís de Camões.
PSIQUE is a scientic journal in Psychology published by the Psychology Research Centre of the
Universidade Autónoma de Lisboa.
Since 2005, PSIQUE has been publishing original papers in the scientic eld of Psychology, in its
several elds of specialization, in open access and free of charge.
From 2018, it is a semi-annual journal publication from 1st January to 30th June and from 1st July to
31st December.
Aims and Scope
It is particularly aimed at psychology researchers, lecturers and students but also at general readers
who are interested in this eld of science.
Psique publishes advances in basic or applied psychological research of relevance for understanding
and improving the human condition in the world. Contributions from all elds of psychology addressing
new developments with innovative approaches are encouraged. Articles that (a) integrate perspectives
from dierent areas within psychology; (b) study the roles of physical, social and cultural domains in
human psychological processes; or (c) include psychological perspectives from dierent regions in the
world are particularly welcomed.
The journal publishes papers in Portuguese, Spanish, French and English.
Directory: Repositório Cientíco de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP).
Databases: Repositório Institucional da Universidade Autónoma de Lisboa (Camões).
Indexed by: Academic Search (EBSCO Publishers)
Fuente Academic (EBSCO Publishers).
PSIQUE | Volume XX | Fascículo 2 | 1 de julho – 31 de dezembro 2024
Publicação semestral. Revista Cientíca do Centro de Investigação em Psicologia – CIP – da Universidade Autónoma
de Lisboa – Luís de Camões.
A Psique é uma revista cientíca em Psicologia, editada pelo Centro de Investigação em Psicologia da
Universidade Autónoma de Lisboa.
Desde 2005 publica artigos originais e comunicações na área cientíca da Psicologia, nos seus vários
domínios de especialização, de acesso livre e gratuito.
É um periódico semestral, a partir de 2018, com data de publicação de 1 de janeiro a 30 de junho e de
1 de julho a 31 de dezembro.
Âmbito e Objetivos
Dirige-se particularmente a investigadores, docentes e estudantes em Psicologia, mas também aos lei-
tores em geral que se interessem pelo conhecimento desta ciência.
A Psique publica avanços na investigação cientíca básica ou aplicada, em Psicologia, com relevância
para compreender e melhorar a condição humana no mundo. A Psique encoraja a submissão de con-
tribuições de todos os campos da Psicologia, produzindo novos desenvolvimentos cientícos, através
de abordagens inovadoras. Particularmente bem-vindos são os artigos que: (a) integram perspetivas de
diferentes áreas da Psicologia; (b) estudam o papel dos domínios físico, social e cultural nos processos
psicológicos humanos; ou (c) integram perspetivas psicológicas de diferentes regiões do mundo.
A revista aceita artigos em Português, Espanhol, Francês e Inglês.
Diretórios: Repositório Cientíco de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP).
Base de Dados: Repositório Institucional da Universidade Autónoma de Lisboa (Camões).
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PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XX • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2024
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e-ISSN: 2183-4806
Title tulo: Psique
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Periodicity: Semiannual Periodicidade: Semestral
Editor in Chief Director: Odete Nunes
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Este trabalho é nanciado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia – no âmbito
doprojeto do CIP com a referência UIDB/04345/2020.
This work was funded by national funds through FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia – as part
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PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XX • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2024
EDITOR IN CHIEF DIRECTOR
Odete Nunes Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
ASSOCIATE EDITORS COEDITORES
João Hipólito
José Magalhães
Luísa Ribeiro
Cristina Nunes
Rute Brites
Sandra Figueiredo
Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
Universidade do Algarve, Portugal
Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
EDITORIAL BOARD CONSELHO EDITORIAL
Alexandra Gomes
Ana Antunes
Ana Gomes
Anne-Marie Vonthron
Aristides Ferreira
Carla Moleiro
Célia Oliveira
Daniel Roque Gomes
David Rodrigues
Dulce Pires
Edlia Alves Simões
Filomena Matos
Florence Sordes–Ader
Gina C. Lemos
Inês Ferreira
Isabel Leite
Isabel Mesquita
Isabel Silva
João Viseu
Jorge Gomes
José Eusébio Pacheco
Liliana Faria
Luis Sérgio Vieira
Magda Soa Roberto
Manuel Sommer
Marjorie Poussin
Melanie Vauclair
Miguel Ángel Garcia-Martin
Miguel Pereira Lopes
Monique K. LeBourgeois
Odete Nunes
Patrícia Jardim de Palma
Pedro Armelim Almiro
Pedro Duarte
Ricardo B. Rodrigues
Rosa Novo
Rui Costa Lopes
Saul Neves de Jesus
Sílvia Araújo
Tito Laneiro
Vera Engler Cury
Universidade do Algarve, Portugal
Universidade da Madeira, Portugal
Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
Univerité Paris Ouest-Nanterre, França
ISCTE, Lisboa, Portugal
ISCTE, Lisboa, Portugal
Universidade Lusófona Porto, Portugal
Instituto Politécnico de Coimbra, Portugal
ISCTE, Lisboa, Portugal
I.Criap – Psicologia e Formação Avançada, Portugal
University of Saint Joseph (Macao), Macau
Universidade do Algarve, Portugal
Universidade de Toulouse, França
Instituto Politécnico de Setúbal / Escola Superior de Educação
Universidade Europeia, Portugal
Universidade de Évora, Portugal
Universidade de Évora, Portugal
Universidade de Évora, Portugal
Universidade de Évora, Portugal
ISEG – Universidade Técnica de Lisboa, Portugal
Universidade do Algarve, Portugal
Universidade Europeia, Portugal
Universidade do Algarve, Portugal
Universidade da Beira Interior, Portugal
Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
Universidade de Lyon II, França
Instituto Universitário de Lisboa, Portugal
Universidad de Málaga, Espanha
ISCSP – Universidade de Lisboa, Portugal
University of Colorado Boulder, United States of America
Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
ISCSP – Universidade Técnica de Lisboa, Portugal
Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
Universidad Veracruzana, México
Instituto Universitário de Lisboa, Portugal
Universidade de Lisboa, Portugal
ICS – Universidade de Lisboa, Portugal
Universidade do Algarve, Portugal
Universidade do Minho, Portugal
Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Brasil
ASSISTANT EDITORS EDITORES ASSISTENTES
Afonso Herédia
Andreia Bandeira
Filipa Inácio
Francisco Castro
Ana Jarmela
Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
TRANSLATION TRADUÇÃO
Carolina Peralta Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
DESIGN COMPOSIÇÃO GRÁFICA
Undo
WEBSITE SITE
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IT DEVELOPMENT DESENVOLVIMENTO INFORMÁTICO
Anselmo Silveira Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XX • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2024
TABLE OF CONTENTS ÍNDICE
Nota Editorial
Rute Brites VII
Apoio social e acontecimentos de vida negativos nasfamílias em risco psicossocial e a população
emgeraldo algarve
Social support and negative life events in families at psychosocial risk and the general population of the
algarve
Carmen Macedo, Rita dos Santos, Cátia Martins, Cristina Nunes 8
Bullying na infância: estatuto socioprossional dospais e diferenças entre géneros
Bullying in childhood: parents’ socio-professional status andgender dierences
Ana Maria Gomes, Edite Ferreira 27
The mediating eect of social support in the relationship between resilience and loneliness among the
elderly people
Matilde Castro, Lídia Serra 45
Predicting Well-being of Bulgarian University Students in Health Sciences: The Role of Religious and
Secular Meaning-Making Coping
Kremena Mineva 57
Author Instructions 72
Instruções aos Autores 76
Reviewers instructions 80
Instruções aos Revisores 81
PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XX • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2024
PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XX • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2024
NOTA EDITORIAL
Nos dias de hoje, e em consonância com a linha de investigação do CIP, Vulnerabilidade Psicossocial
e Contextos Instáveis, os desafios psicossociais enfrentados por indivíduos e comunidades destacam-se
como áreas prioritárias para a investigação e a intervenção. Nesse sentido, este número da Psique apre-
senta um conjunto de estudos que exploram questões pertinentes como o apoio social, bullying, coping e
resiliência, fornecendo evidências que podem contribuir para nortear políticas e práticas voltadas para
o fortalecimento de redes de suporte, a mitigação dos efeitos negativos de adversidades e a promoção do
bem-estar psicossocial.
O primeiro artigo, “Apoio Social e Acontecimentos de Vida Negativos nas Famílias em Risco Psicos-
social e a População em Geral do Algarve” destaca as disparidades entre famílias em risco e a população
geral, nesta região. Os resultados sublinham a relevância de redes formais e informais na promoção da
resiliência em contextos vulneráveis, ressaltando a necessidade de intervenções personalizadas e basea-
das em evidências.
No artigo Bullying na Infância: Estatuto Socioprofissional dos Pais e Diferenças entre Géneros,
Gomes et al. investigam o impacto de dinâmicas sociais e económicas no bullying em Portugal, no 1º ciclo
do ensino básico. As conclues reforçam a necessidade de intervenções que promovam a equidade e
consciencialização sobre o impacto de normas de género nas escolas.
O terceiro artigo, Predicting Well-being of Bulgarian University Students in Health Sciences: The Role of
Religious and Secular Meaning-Making Copingaborda o papel do coping religioso e secular em estudantes.
Os seus resultados sublinham a importância de adaptar as estratégias de intervenção aos contextos cul-
turais, explorando dimensões de coping quer religiosas quer existenciais.
Por fim, o artigo The Mediating Effect of Social Support in the Relationship Between Resilience and
Loneliness Among the Elderly Peopleinvestiga a relação entre resiliência, solidão e suporte social em
idosos. Num contexto de envelhecimento populacional, este estudo enfatiza o papel crítico de redes de
apoio robustas na promoção da qualidade de vida e bem-estar. Destaca ainda a importância de desenvol-
ver estratégias que promovam o suporte social e fortaleçam a resiliência para melhorar a qualidade de
vida da população idosa.
No seu conjunto, estes estudos providenciam dados relevantes sobre a interseção entre fatores indi-
viduais, sociais e culturais na resposta à adversidade. Reafirmam, também, o valor de abordagens basea-
das na evidência, que reconhecem a singularidade de cada contexto e população.
Rute Brites
(Co-editor)
8
APOIO SOCIAL E ACONTECIMENTOS DE VIDA NEGATIVOS
NASFAMÍLIAS EM RISCO PSICOSSOCIAL E A POPULAÇÃO
EMGERALDO ALGARVE
SOCIAL SUPPORT AND NEGATIVE LIFE EVENTS IN FAMILIES AT
PSYCHOSOCIAL RISK AND THE GENERAL POPULATION OF THE ALGARVE
Carmen Macedo1, Rita dos Santos2, Cátia Martins3, Cristina Nunes4
PSIQUE • EISSN 21834806 • VOLUME XX • ISSUE FASCÍCULO 2
1ST JULY JULHO  31ST DECEMBER DEZEMBRO 2024 PP. 826
DOI: https://doi.org/10.26619/2183-4806.XX.2.1
Submitted on 03/04/2024 Submetido a 03/04/2024
Accepted on 17/06/2024 Aceite a 17/06/2024
Resumo
O objetivo deste estudo foi analisar os acontecimentos de vida negativos, o impacto emo-
cional e o apoio social em famílias com menores em risco psicossocial e a população em geral.
Foram entrevistados 348 pais residentes no Algarve, 131 acompanhados pelas Comises de Pro-
teção de Crianças e Jovens e 217 da população em geral. Utilizou-se a entrevista estruturada de
Apoio Social de Arizona, a escala de Apoio Social para Situações Vitais Estressantes, o Inventário
de Situações Estressantes e de Risco e um questionário sociodemográfico.
As famílias em risco psicossocial reportaram mais acontecimentos de vida stressantes e de
risco, atuais e passados, da própria e do ambiente próximo. Também reportaram mais necessi-
dade de apoio, emocional, tangível e informativo e mostraram-se mais satisfeitas com exceção
do apoio emocional, comparativamente às famílias da população geral.
Ambos os grupos possuem redes de apoio social de tamanho idêntico. No entanto, as famílias
em risco apresentaram maior presença dos filhos menores na sua rede de apoio social, indicando
uma possível disfuncionalidade do sistema familiar e parental. Constatou-se também uma maior
presença de profissionais nas suas redes de apoio, o que enfatiza alguma dependência relativa-
mente aos serviços, como também a importância da intervenção junto destas famílias.
Palavras-Chave: Acontecimentos de vida negativos, Apoio social, Famílias em risco, Risco psicossocial
1 Universidade do Algarve, 8005-135 Faro, Portugal. https://orcid.org/0000-0001-6259-0737 (cspmacedo@gmail.com)
2 Universidade do Algarve, 8005-135 Faro, Portugal. Centro de Investigação em Psicologia (CIP). https://orcid.org/0000-0002-
3278-8424 (rasantos@ualg.pt)
3 Universidade do Algarve, 8005-135 Faro, Portugal. Centro de Investigação em Psicologia (CIP). https://orcid.org/0000-0002-
1819-85 (csmartins@ualg.pt)
4 Universidade do Algarve, 8005-135 Faro, Portugal. Centro de Investigação em Psicologia (CIP). https://orcid.org/0000-0002-
1009-0519 (csnunes@ualg.pt)
Autor de contacto: Cristina Nunes, csnunes@ualg.pt
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Carmen Macedo, Rita dos Santos, Cátia Martins, Cristina Nunes
Abstract
This study aimed to analyze negative life events, emotional impact, and social support in
families with minors at psychosocial risk and the general population. A total of 348 parents were
interviewed, with 131 being monitored by the Child and Youth Protection Commissions and 217
from the general population, all residing in the Algarve. We used the Arizona Social Support
Interview, the Social Support Scale for Stressful Life Situations, the Stressful and Risky Situations
Inventory, and a sociodemographic data questionnaire.
Families at psychosocial risk reported more stressful and risky life events, both current and
past, involving themselves and their immediate environment. These families reported a greater
need for emotional, tangible, and informational support and expressed higher satisfaction,
except for emotional support, than the general population.
Families at risk showed a higher presence of their minor children in their social support
network, which may indicate some dysfunction in the family and parental system. They also
showed a greater presence of professionals, suggesting both a degree of dependency and the
importance of professional intervention with families in more vulnerable situations.
Keywords: At-risk families, negative life events, psychosocial risk, social support.
1. Introdução
A família representa o principal contexto de desenvolvimento e socialização das crianças,
sendo a sua diversidade complexa e dinâmica. Apesar do caráter normativo, nem todas as famí-
lias são iguais e são muitos os contextos familiares em que as necessidades básicas dos menores
não são satisfeitas, comprometendo o seu saudável desenvolvimento, integridade física e psico-
gica (Ayala-Nunes et al., 2014, 2018; Hidalgo García et al., 2009).
As famílias em situão de risco psicossocial constituem uma realidade em Portugal, deno-
tando-se uma crescente preocupação, em virtude dos múltiplos desafios e fatores de stresse
(internos e externos), com os quais têm de lidar. Estes encontram-se muitas vezes associados
a condições de vida desfavorecidas, como ltiplos acontecimentos de vida stressantes, que
as desafiam frequentemente face a mudanças e adaptações, o que coloca em evidência os seus
escassos recursos (Ayala-Nunes et al., 2017; Nunes et al., 2013, 2023) e dificultando o exercício
efetivo das suas competências parentais (Ayala-Nunes et al., 2017; Mendez et al., 2010), bem
como o desenvolvimento dos menores e o bem-estar da família (Bauch et al., 2022; Pérez et al.,
2017).
Ao longo da vida, poderão surgir múltiplos acontecimentos de vida (i.e., desequilíbrios),
alguns com importantes repercuses ao nível do funcionamento pessoal e familiar, e que impli-
cam mudanças e adaptação psicossocial (Lorence et al., 2013; Karhina et al., 2023). Estes even-
tos, denominados de acontecimentos de vida stressantes e de risco, despoletam níveis elevados
de stress (Rodrigo et al., 2008), podem ser definidos como experncias que afetam ou amea-
çam a atividade diária dos indivíduos, implicando a sua necessidade de adaptação (Gao et al.,
2020; Lorence, 2008; Mangalagiu et al., 2024), exigindo um maior grau de reestruturação e de
mudança na vida dos indivíduos ou das famílias (Rodrigo et al., 2008). Podem ser agrupados
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Apoio social e acontecimentos de vida negativos nasfamílias em risco psicossocial e a populão emgeraldo Algarve
cinco categorias: a) acontecimentos de vida significativos (e.g., desemprego, perdas afetivas,
divórcio); b) acontecimentos do quotidiano (e.g., falta de dinheiro e de tempo livre), c) aconte-
cimentos sociais (e.g., pobreza, racismo, conflitos familiares); d) acontecimentos traumáticos ou
catástrofes (e.g., sismos, guerras); e e) fatores ambientais (e.g., poluição da água, do ar) (Evans &
Cohen, 1987).
As famílias em situação de risco psicossocial caracterizam-se por elevada acumulação de
acontecimentos de vida stressantes (Mendez et al., 2010; Rodrigo et al., 2008), que podem acu-
mular-se ao longo da vida enquanto crises sucessivas e inesperadas, decorrentes da sua elevada
vulnerabilidade e de preses do meio, que dificultam a sua capacidade para lidar com as cir-
cunstâncias adversas (Sousa, 2005). Neste sentido, as circunstâncias de risco, nomeadamente a
sua acumulação, m vindo a ser relacionadas com o bem-estar psicológico (Ayala-Nunes et al.,
2014; Hidalgo et al., 2018), e a falta de suporte social (i.e., o isolamento social) um fator crítico para
a etiologia dos maus-tratos infantis (Ayala-Nunes et al., 2017; Nunes & Ayala-Nunes, 2015; Rayce
et al., 2017) e risco de deterioração do ambiente familiar (Nunes et al., 2021).
O apoio social é um dos fatores de proteção que pode contribuir para mitigar o efeito dos
indicadores que influenciam o perfil de risco psicossocial, devido aos seus efeitos diretos e indi-
retos na diminuição do impacto negativo de diversos fatores de risco sobre o bem-estar físico
e psicológico (Alvarez et al., 2020; Cohen, 2004; Hong et al., 2023; Li et al., 2011). Constitui um
constructo multidimensional reconhecido pela sua influência sobre a saúde, o bem-estar psico-
gico (An, 2018; Cohen & Wills, 1985; Thoits, 2011; Nunes, et al., 2021), a qualidade das práticas
parentais (Belsky & Jafee, 2015), o impacto no relacionamento entre pais-filhos (Ayala-Nunes et
al., 2017) e o exercício de uma parentalidade adequada lvarez et al., 2020; Brown et al., 2018;
Martin et al., 2012). É muitas vezes associado a um tipo de ajuda (formal ou informal) que as
pessoas recorrem para ultrapassar as suas necessidades e dificuldades, com repercussões nas
práticas parentais e na forma como as famílias superam os acontecimentos de vida stressantes
(Martins et al., 2022). Assim, a provisão estratégica e eficiente de apoio às famílias, que atenda
às suas necessidades, revela-se crucial para aliviar o stresse (Hong et al., 2020), promover o bem-
-estar da família (UNESCO, 2022) e a sua resilncia face às adversidades (Benzies & Mychasiuk,
2009; Rayce et al., 2017).
As redes de apoio social proporcionam à família padrões de comportamento, feedback, apoio
material e emocional, bem como oportunidades e recursos para lidar com os efeitos negativos
do stresse (Garbarino, 2017). Podemos considerar três dimenes fundamentais do apoio social
(i.e., três tipos de suporte funcional): a) emocional que se refere a aspetos como a intimidade,
afeto, conforto, cuidado e preocupação); b) material respeitante à provisão de assistência a nível
material; e ainda, c) informativo que envolve aspetos como o conselho, orientação ou informação
relevante para determinada situação (Barrera, 1986; Lagdon et al., 2018; Nunes et al., 2021).
O apoio social constitui um recurso importante para minimizar os efeitos causados por uma
situação stressante, na medida em que a partir da interação entre os membros da rede pode
ser alargado o repertório comportamental para formas mais adaptáveis às exigências do meio
ambiente (Barrón, 1996). A adaptação pessoal e social resulta de uma boa capacidade para utili-
zar os recursos internos e externos, que vão permitir lidar com êxito e enfrentar determinadas
situações adversas que vão surgindo ao longo do ciclo de vida (Rodrigo et al., 2008).
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Carmen Macedo, Rita dos Santos, Cátia Martins, Cristina Nunes
O presente estudo tem como objetivo analisar os acontecimentos de vida stressantes e de
risco atuais, o impacto emocional e as características do apoio social percebido nas famílias em
risco psicossocial e na população em geral.
2.todo
2.1. Desenho
O presente estudo apresenta um cariz descritivo-correlacional e pretende, por um lado carac-
terizar as famílias da população em geral e de risco relativamente aos construtos em análise (i.e.,
acontecimentos de vida negativos e apoio social) e, por outro lado, comparar os níveis obtidos
consoante cada tipo de família.
2.2. Participantes
A amostra do estudo foi constituída por 131 pais e mães acompanhados pelas Comissões de
Proteção de Crianças e Jovens (CPCJs) e por 217 progenitores da população em geral, residentes
na região do Algarve. Os participantes com menores em risco psicossocial foram selecionados de
acordo com os critérios: 1) ser pais e mães de crianças ou jovens acompanhados pelas CPCJs; 2)
as situações de perigo não configuravam gravidade suficiente para a separação do menor da sua
família. Os pais e mães da população em geral foram selecionados pelos técnicos de instituições
com intervenção nas áreas da infância, juventude e segurança.
2.3. Instrumentos
Acontecimentos de vida negativos. Foi utilizado o Inventário de Situações Stressantes e
de Risco (Nunes & Lemos, 2010), versão portuguesa do Inventario de Situaciones Estresan-
tes y de Riesgo (ISER) de Hidalgo et al. (2005). Este instrumento inclui 24 itens e avalia os
fatores de risco, ou seja, a existência e impacto de acontecimentos de vida especialmente
difíceis ocorridos no passado (8 itens; e.g., “Maltrato na inncia, Precariedade econó-
mica”) e no presente (16 itens; e.g., “Ser vítima de maltrato, “Situação económica bastante
difícil”), ao sujeito ou a alguém do seu ambiente próximo, respondidos numa escala de 1
a 3 pontos (1=afetou-me pouco; 2=afetou-me bastante; 3=afetou-me muitíssimo”).
Este inventário permitiu, ainda, obter índices sobre a acumulação de situações de risco e
da vulnerabilidade emocional associada. Os autores do instrumento obtiveram índices de
consistência interna aceitáveis no grupo das famílias da população em geral (αPróprio =,69;
αFamília =,72) e nas falias de risco (αPróprio =,60; αFamília =,67).
Apoio Social Percebido. Foi medido através da Entrevista de Apoio Social Arizona de Nunes
et al., (2013), versão portuguesa do Arizona Social Support Interview Schedule (ASSIS, Bar-
rera, 1980). Este instrumento é administrado através de uma entrevista semi-estruturada
(19 queses) que, perguntando relativamente ao mês anterior (e.g..: “Durante o último mês,
quanto acha que precisou de pessoas para falar sobre assuntos pessoais e privados?”), ava-
lia a rede de suporte nas suas dimensões a) apoio emocional (i.e., participação social e sen-
timentos pessoais; e.g., “Com quem fala...”); b) apoio tangível (i.e., assistência material e
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Apoio social e acontecimentos de vida negativos nasfamílias em risco psicossocial e a populão emgeraldo Algarve
física; e.g., “Se, por acaso, precisasse de algum dinheiro, a quem pediria ajuda?”); e c) apoio
informativo (i.e., aconselhamento e feedback positivo; “Quando fazes uma refeição espe-
cial, dizem-te que a fizeste bem?”). Avalia também a rede de conflitos (e.g., “Quais são as
pessoas com quem pode ter algum desgosto, discussão ou desacordo?”) e a satisfação dos
participantes, respondidos numa escala de 1 a 10, com o apoio que receberam nas dimen-
sões descritas anteriormente. Recorreu-se ainda à versão portuguesa (Nunes et al., 2013) da
Escala de Apoyo Social para Situaciones Vitales Estresantes (ASSE, López, et al., 2006), per-
mite obter informação sobre o tamanho, composição, necessidades e satisfação com a rede
social de apoio em situações stressantes e de risco (3 questões; e.g. “Se hipoteticamente
acontecesse alguma destas situações [e.g., se o seu marido fosse preso], com quem poderia
contar?”). No presente estudo utilizaram-se as dimenes referentes à da necessidade de
apoio (famílias da população em geral: α=,59; famílias de risco: α=,71) e satisfação (fa-
lias da população em geral: α=,62; famílias de risco: α=,70).
2.4. Procedimentos
Após a obtenção das autorizações e consentimento informado dos participantes no estudo,
realizámos a recolha dos dados, do grupo de famílias de risco, através de uma entrevista, no
domicílio familiar ou na sede das CPCJs, de acordo com parecer técnico e disponibilidade dos
participantes. A recolha dos dados do grupo de comparação, famílias da população em geral, foi
realizada através da formalização de protocolos de colaboração com Agrupamentos de Escolas,
Guarda Nacional Republicana, Associações Humanitárias de Bombeiros Voluntários e Centros
de Saúde da região do Algarve. Os participantes foram contactados pelos técnicos das institui-
ções, tendo sido esclarecidas todas as instruções para o preenchimento das folhas de resposta
dos instrumentos, existindo possibilidade de clarificação de dúvidas ao longo da aplicão. A
participação foi voluntária e sem compensação.
O estudo foi aprovado pelo Conselho Científico do Departamento de Psicologia e Ciências da
Educação da Universidade do Algarve (CC_55_20/12/2017).
2.5. Plano de análise
Os dados foram analisados com o software SPSS v29 (IBM SPSS, 2024). Recorreu-se à ANOVA
(p < ,05) para comparação dos valores dios entre grupos, considerando as duas condições de
aplicação (i.e., grupos > 30 participantes e homogeneidade de variâncias, medidas com recurso
ao Teste de Levene e, quando esta condição não se verificava [p<,05], recorreu-se à versão corri-
gida com o teste Brown-Forsythe). Foi ainda calculado o h2 como medida de magnitude de efeito,
sendo que valores de 0,01 foram considerados de efeito pequeno, 0,06 de efeito moderado e 0,14
como um efeito grande. O teste de independência de Qui-quadrado (p < ,05) foi utilizado na com-
paração de dados categoriais, atendendo à sua condão de aplicação (i.e., cada célula ter obser-
vações >5). As correlações de Pearson (p < ,05) foram usadas para analisar as associações entre
variáveis escalares, sendo que valores inferiores a ,20 foram considerados esrios, entre ,20-,40
pequena magnitude, ,40 - ,60 moderada, entre ,60 - ,80 de elevada magnitude e acima de 80 como
muito elevada. A consistência interna foi medida através do alfa de Cronbach e considerada
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adequada acima de .70 e as correlações item-total corrigidas quando acima de .30 (Tabachnick &
Fidell, 2019).
3. Resultados
3.1. Acontecimentos de vida stressantes e de risco atuais e passados
Os resultados do estudo mostram que os progenitores de famílias em risco psicossocial apre-
sentam índices mais elevados de acontecimentos de vida stressantes e de risco atuais que os
progenitores de famílias da população em geral. No que se refere aos acontecimentos de vida
stressantes e de risco atuais, os problemas mais relatados pelos progenitores de famílias em
risco psicossocial foram profissionais (64%), económicos (63%), conjugais (41%), tomar conta de
um familiar (33%), divórcio/separação (31%), físicos (29%), conflitos com filhos (28%), psicológicos
(26%), e maus-tratos (26%). Os problemas mais frequentes reportados pelos progenitores de famí-
lias da população em geral foram profissionais (37%), tomar conta de um familiar (22%), conjugais
(21%), económicos (20%), físicos (13%), e divórcio/separação (12%) (Figura 1). Observámos dife-
renças significativas na maioria dos acontecimentos de vida stressantes e de risco atuais entre
os grupos de famílias da população em geral e de risco, com exceção dos acontecimentos prisão
(FRisc=0.8%, FGeral=0%, [1, 346]=1.67, p=,197) e consumo de drogas (FRisc=5%, FGeral=3%,
[1, 345]=3.28, p=,194). O ambiente familiar próximo das famílias em risco apresentou também
uma incidência mais elevada de acontecimentos de vida stressantes atuais que o ambiente fami-
liar das famílias da população em geral, e os tipos de problemas mais comuns foram semelhan-
tes, entre si, profissionais (60% e 30%), ecomicos (48% e 22%), físicos (40% e 20%), morte de
alguém pximo (39% e 32%), e psicológicos (39% e 17%).
Os acontecimentos de vida stressantes atuais sofridos pelos progenitores de famílias em
risco psicossocial percecionados com maior impacto (Min=1; Max=3) foram prisão (M=3,00),
despejo (M=2,90), problemas económicos (M=2,77), profissionais (M=2,76) e tima de maus-
-tratos (M=2,74). No caso das famílias da população em geral, os acontecimentos de vida stres-
santes que tiveram mais impacto emocional nos progenitores foram os problemas de despejo
(M=3,00), dircio/separação (M=2,79), psicológicos (M=2,48), económicos (M=2,44), profissio-
nais (M=2,37), e ser vítima de maus-tratos (M=2,36).
No que se refere ao passado, os problemas mais comuns sofridos pelos progenitores de famí-
lias em risco foram económicos (59%), profissionais (51%), psicológicos (45%), maus-tratos na
idade adulta (35%) e infância (30%). Nas famílias da população em geral, os problemas mais fre-
quentes foram económicos (21%), psicológicos (19%), profissionais (17%), maus-tratos na infância
(10%) e idade adulta (8%). Constataram-se diferenças significativas em todos os acontecimentos
de vida stressantes passados entre os grupos de famílias, verificando-se que as famílias em risco
apresentaram mais acontecimentos de vida negativos passados que as famílias da população em
geral.
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Apoio social e acontecimentos de vida negativos nasfamílias em risco psicossocial e a populão emgeraldo Algarve
FIGURA1
Acontecimentos de vida stressantes atuais do próprio em falias da população em geral e em risco
3.2. Apoio Social Percebido
No global, quer as famílias da população em geral quer as em risco psicossocial contam, em
média, com cerca de oito pessoas na sua rede de apoio total (F=0,45; p=,505; h2=,00; MGe-
ral=8.11; DPGeral=3,24; MRisco=7.81; DPRisco=5,19) (Tabelas 1 e 2), não se observando dife-
renças significativas. A rede social de apoio do grupo de famílias da população em geral (Tabela
1) é constituída sobretudo por familiares e amigos (52%), familiares (43%) e amigos (5%). No grupo
das famílias em risco é composta principalmente por familiares (41%), familiares e amigos (32%)
e amigos (27%).
Nos tipos específicos de apoio, as famílias da população em geral apresentaram uma rede
mais extensa de apoio emocional constituída por uma média 5.27 pessoas (DP=2,65, Amp=1-20),
composta na maioria por familiares e amigos (67,3%). Observou-se também a presença combi-
nada com profissionais intica na rede de apoio emocional (6%) e informativa (6%), e mais redu-
zida na rede tangível (1,4%). A média da necessidade de apoio total reportada pelos progenitores
foi de 5,14 (DP=1,91) e o tipo específico que referiram ter precisado mais foi o apoio emocional
(M=6,21; DP=2,31). No total, os progenitores apresentaram uma média de satisfação com o apoio
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recebido de 7,08 (DP=2,14) e mostraram-se mais satisfeitos com o apoio emocional (M=7,58;
DP=2,25), seguido do informativo (M=7,44; DP=2,07) (Tabela 1).
TABELA1
Dimensão, composição, necessidade e satisfação segundo as dimensões da Rede de Apoio Social (i.e.
emocional, tangível e informativa) das famílias da população em geral (n=217)
Emocional Tangível Informativa Total
Dimensão
M (DP) 5,27 (2,65) 4,23 (2,12) 4,79 (2,39) 8,11 (3,24)
Min - Máx 1 - 20 1 - 13 1 - 13 2 - 20
Composição
Familiares 18,9% 53,0% 27,6%
Amigos 7,8% 4,6% 6,5%
Familiares e amigos 67,3% 41,0% 59,9%
Combinado com prossionais 6,0% 1,4% 6,0%
M (DP)
Necessidade 6,21 (2,31) 3,91 (2,43) 5,04 (2,49) 5,14 (1,91)
Satisfação 7,58 (2,25) 6,70 (2,38) 7,44 (2,07) 7,08 (2,14)
Nota. M=Média, DP=Desvio-padrão, Min=Mínimo, Máx =Máximo.
As famílias em risco psicossocial (Tabela 2) apresentaram uma rede emocional constituída
por quase 5 membros (M=4,76; DP=4,13; Amp=0-31), seguida da informativa (M=4,48; DP=3,68;
Amp=0-22) e tangível (M=3,33; DP=2,91; Amp=0-22), compostas na sua maioria por familia-
res e amigos. Constatou-se a presença de apoio combinado por profissionais na rede emocional
(17,3%) e tangível (2,5%). Os progenitores revelaram uma média de necessidade de apoio total
de 6,30 (DP=2,25) e uma maior necessidade de apoio emocional (M=6,89; DP=2,60). Quanto à
satisfação com o apoio social recebido, as famílias em risco mostraram uma média total de 8,04
(DP=2,04), com resultados muito semelhantes para os três tipos específicos de apoio, nomeada-
mente o informativo (M=8,01; DP=2,43), o tangível (M=8,00; DP=2,63) e o emocional (M=7,79;
DP=2,62).
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TABELA2
Dimensão, composição, necessidade e satisfação segundo as dimensões da Rede de Apoio Social (i.e.
emocional, tangível e informativa) das famílias em risco (n=130)
Emocional Tangível Informativa Total
Dimensão
M (DP) 4,76 (4,13) 3,33 (2,91) 4,48 (3,68) 7,81 (5,19)
Min - Máx 0 - 31 0 - 22 0 - 22 1 - 33
Composição
Familiares 29,1% 42,1% 23,2%
Amigos 8,7% 13,2% 10,4%
Familiares e amigos 44,9% 42,1% 48,8%
Combinado com prossionais 17,3% 2,5% 15,2%
Prossionais 0% 0% 2,4%
M (DP)
Necessidade 6,89 (2,60) 5,54 (2,72) 5,96 (2,91) 6,30 (2,25)
Satisfação 7,79 (2,62) 8,00 (2,63) 8,01 (2,43) 8,04 (2,04)
Nota. M=Média, DP=Desvio-padrão, %=Percentagem, Min=Mínimo, Máx =Máximo.
A rede de conflito das famílias da populão em geral é constituída na sua maioria por fami-
liares (40%), familiares e amigos (35%), cônjuge (17%), filhos (4%) e ex-cônjuge (4%). Nas famílias
em risco é composta principalmente pelo cônjuge (40%), familiares (19%), filhos (14%) e ex-côn-
juge (12%).
As famílias da população em geral apresentaram uma rede social de apoio mais ampla face
à vivência de situações de vida stressantes (M=5,22; DP=3,42; Min.=0; x.=20), compa-
rativamente com as famílias em risco (M=2,31; DP=2,96; Min.=0; x.=20), e revelaram
sentir menos necessidade de apoio (M=5,81; DP=3,54), do que as famílias em risco (M=7,01;
DP=3,56). Ambas apresentaram uma satisfação com a rede de risco muito semelhante (MGe-
ral=7,82; MRisco=7,84).
A comparação entre os dois grupos relativamente à sua necessidade de apoio mostrou dife-
renças significativas em todas as dimensões avaliadas, nomeadamente ao nível total (F= 25,20;
p < ,001; h2=,07), emocional (F= 6,02; p=,015; h2=,02), tangível (F= 29,13; p < ,001; h2=,09) e
informativo (F= 8,92; p=,003; h2=,03), sendo que as famílias em risco mostraram níveis mais
elevados. No que se refere à satisfação com a rede de apoio social percebido, os resultados mos-
traram apenas diferenças significativas ao nível total (F= 13,08; p < ,001; h2=,05) e tangível (F=
8,50; p=,004; h2=,06), em que as famílias de risco mostraram-se mais satisfeitas do que as famí-
lias da população em geral.
Ao nível da rede de risco, observaram-se diferenças significativas no tocante à dimensão (F=
65,16; p < ,001; h2=,16) e necessidade de apoio (F= 8,54; p=,004; h2=,03), em que as famílias da
população em geral apresentaram uma rede mais ampla do que as famílias em risco (MRisc=2,31;
DPRisc=2,96; MPop=5,22; DPPop=3,42).
Na tabela que se segue, no quadrante superior encontram-se os valores referentes às famí-
lias da população em geral e no quadrante inferior as das famílias em risco. Todas as redes e
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dimensões, necessidade e satisfão de apoio social estavam positiva e significativamente asso-
ciadas entre si (Tabela 3).
TABELA3
Correlações entre as dimensões do apoio social percebido
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1. Rede total - ,58*** ,55*** ,64*** -,03 -,02 ,13 -,11 -,10 -,02
2. Rede emocional ,79*** - ,42*** ,49*** ,03 -,08 ,06 ,25** ,16 ,13
3. Rede tangível ,60*** ,34*** - ,37*** -,11 -,20** -,05 ,08 -,07 ,06
4. Rede informativa ,76*** ,45*** ,63*** - -,03 -,02 -,05 ,05 -,09 ,06
5. Necessidade emocional ,11 ,13 ,05 ,13 - ,28*** ,39*** ,26*** ,14 ,16
6. Necessidade tangível -,13 -,15 ,00 -,12 ,31** - ,30*** -,03 ,62*** ,11
7. Necessidade informativa -,04 -,06 -,01 ,06 ,54*** ,52*** - ,07 ,22 ,41***
8. Satisfação emocional ,13 ,23* ,14 ,15 ,00 ,27* ,32** - ,36** ,40***
9. Satisfação tangível -,01 -,01 ,21 ,08 ,17 ,23 ,26 ,50** - ,36**
10. Satisfação informativa -,02 -,02 ,07 ,09 -,02 ,26* ,21 ,44*** ,44** -
Nota. No quadrante superior apresentam-se as correlações das famílias da população em geral e no inferior as das famílias em risco; *p < ,05;
**p<,01; *** p < ,001; † p < ,10
Nas famílias da população em geral, a rede emocional apresenta-se positivamente correla-
cionada com a satisfação emocional (r=,25; p <,01), e a rede tangível negativamente associada
à necessidade tangível (r=-,20; p=<,01). Nas famílias em risco, observou-se também que a rede
emocional estava positivamente associada à satisfação emocional (r=,23; p=<,01), embora com
uma pequena magnitude.
3.3. Diferenças nos Índices de Acontecimentos de Vida Stressantes (Atuais e Passados) e
Níveis de Apoio Social Percebido entre as Famílias da população em geral e em Risco, em
função das características sociodemográficas
As famílias em situação de risco psicossocial apresentaram índices mais elevados em todas
as dimensões dos acontecimentos de vida stressantes e de risco atuais e passados, quer da pró-
pria quer do ambiente próximo, comparativamente às famílias da população em geral, sendo esta
diferença estatisticamente significativa (Tabela 4).
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