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PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XX • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2024 • pp. 8-26
Apoio social e acontecimentos de vida negativos nasfamílias em risco psicossocial e a população emgeraldo Algarve
cinco categorias: a) acontecimentos de vida significativos (e.g., desemprego, perdas afetivas,
divórcio); b) acontecimentos do quotidiano (e.g., falta de dinheiro e de tempo livre), c) aconte-
cimentos sociais (e.g., pobreza, racismo, conflitos familiares); d) acontecimentos traumáticos ou
catástrofes (e.g., sismos, guerras); e e) fatores ambientais (e.g., poluição da água, do ar) (Evans &
Cohen, 1987).
As famílias em situação de risco psicossocial caracterizam-se por elevada acumulação de
acontecimentos de vida stressantes (Menéndez et al., 2010; Rodrigo et al., 2008), que podem acu-
mular-se ao longo da vida enquanto crises sucessivas e inesperadas, decorrentes da sua elevada
vulnerabilidade e de pressões do meio, que dificultam a sua capacidade para lidar com as cir-
cunstâncias adversas (Sousa, 2005). Neste sentido, as circunstâncias de risco, nomeadamente a
sua acumulação, têm vindo a ser relacionadas com o bem-estar psicológico (Ayala-Nunes et al.,
2014; Hidalgo et al., 2018), e a falta de suporte social (i.e., o isolamento social) um fator crítico para
a etiologia dos maus-tratos infantis (Ayala-Nunes et al., 2017; Nunes & Ayala-Nunes, 2015; Rayce
et al., 2017) e risco de deterioração do ambiente familiar (Nunes et al., 2021).
O apoio social é um dos fatores de proteção que pode contribuir para mitigar o efeito dos
indicadores que influenciam o perfil de risco psicossocial, devido aos seus efeitos diretos e indi-
retos na diminuição do impacto negativo de diversos fatores de risco sobre o bem-estar físico
e psicológico (Alvarez et al., 2020; Cohen, 2004; Hong et al., 2023; Li et al., 2011). Constitui um
constructo multidimensional reconhecido pela sua influência sobre a saúde, o bem-estar psico-
lógico (Ayón, 2018; Cohen & Wills, 1985; Thoits, 2011; Nunes, et al., 2021), a qualidade das práticas
parentais (Belsky & Jafee, 2015), o impacto no relacionamento entre pais-filhos (Ayala-Nunes et
al., 2017) e o exercício de uma parentalidade adequada (Álvarez et al., 2020; Brown et al., 2018;
Martin et al., 2012). É muitas vezes associado a um tipo de ajuda (formal ou informal) que as
pessoas recorrem para ultrapassar as suas necessidades e dificuldades, com repercussões nas
práticas parentais e na forma como as famílias superam os acontecimentos de vida stressantes
(Martins et al., 2022). Assim, a provisão estratégica e eficiente de apoio às famílias, que atenda
às suas necessidades, revela-se crucial para aliviar o stresse (Hong et al., 2020), promover o bem-
-estar da família (UNESCO, 2022) e a sua resiliência face às adversidades (Benzies & Mychasiuk,
2009; Rayce et al., 2017).
As redes de apoio social proporcionam à família padrões de comportamento, feedback, apoio
material e emocional, bem como oportunidades e recursos para lidar com os efeitos negativos
do stresse (Garbarino, 2017). Podemos considerar três dimensões fundamentais do apoio social
(i.e., três tipos de suporte funcional): a) emocional que se refere a aspetos como a intimidade,
afeto, conforto, cuidado e preocupação); b) material respeitante à provisão de assistência a nível
material; e ainda, c) informativo que envolve aspetos como o conselho, orientação ou informação
relevante para determinada situação (Barrera, 1986; Lagdon et al., 2018; Nunes et al., 2021).
O apoio social constitui um recurso importante para minimizar os efeitos causados por uma
situação stressante, na medida em que a partir da interação entre os membros da rede pode
ser alargado o repertório comportamental para formas mais adaptáveis às exigências do meio
ambiente (Barrón, 1996). A adaptação pessoal e social resulta de uma boa capacidade para utili-
zar os recursos internos e externos, que vão permitir lidar com êxito e enfrentar determinadas
situações adversas que vão surgindo ao longo do ciclo de vida (Rodrigo et al., 2008).