PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XIX • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2023
NOTA EDITORIAL
A Ciência Psicológica, tal como as restantes áreas científicas, continuamente revê o seu conheci-
mento, revendo e modificando-o à medida que vai progredindo. Este é um sinal de pensamento verda-
deiramente científico, a capacidade de reconhecer que não chegámos ao fim do nosso conhecimento,
que este não é perfeito, mas que necessita de melhorias contínuas, dependendo de toda a comunidade
científica.
Todos os autores dos trabalhos apresentados neste número da Psique fazem jus a este contributo
cienfico. Por um lado, propondo novos instrumentos adaptados a Portugal, contribuindo assim para um
conjunto de ferramentas de diagnóstico que possam ajudar os especialistas em saúde mental no seu pre-
cioso trabalho. O valor de um instrumento psicométrico depende de um cuidadoso trabalho de valida-
ção e adaptação, envolvendo muito mais que uma mera tradução de palavras, para que de facto consiga
medir a realidade dos respondentes.
Contamos ainda com dois trabalhos sobre temas extremamente atuais, a adesão à vacinação COVID
e o trabalho por vezes “invisível” dos cuidadores informais de pessoas com demência. Se por um lado já
ultrapassámos (aparentemente) o pico da COVID-19, compreender os fatores que levam a população em
geral a recear a vacinação, num mundo globalizado e com grande acesso à informação (científica e não
cienfica), pode informar-nos sobre a melhor forma de gerir informação credível que possa proteger-nos
a todos.
Numa sociedade cada vez mais envelhecida e individualista, a probabilidade de desenvolver demên-
cia é cada vez maior. Frequentemente assentará nos braços de cuidadores informais o cuidado de alguém
possivelmente próximo e significativo, que vai perdendo as suas faculdades, e de certa forma, transfor-
mando-se noutra pessoa. A dor da perda pode começar muito antes da morte física, não sendo só a pessoa
com demência que ficará incrementalmente mais doente. Cuidar da saúde é também prevenção, pelo que
conhecer esta realidade relativamente recente poderá informar sobre práticas e políticas importantes.
Finalmente contamos ainda com um artigo que nos ajuda a recordar que a divisão artificial (apesar
de frequentemente necesria) entre a dimensão psicológica esica, recordando-nos que somos uma
unidade que funciona de forma verdadeiramente holística. Ao escolhermos focar num aspeto, não deve-
remos esquecer-nos de que perdemos sempre alguma informação, e exercícios de integração não são
simples, mas são certamente valiosos.
Obrigada a todos, autores, coordenadores, revisores e editores, que realizaram um esforço colabora-
tivo que teve como fruto este novo número da Psique, que tanto nos orgulha.
Luisa Ribeiro
(Co-editor)