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PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XIX • Issue Fascículo 1 • 1
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january janeiro-30
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june junho 2023 pp. 7-8
NOTA EDITORIAL
A Psicologia do Trabalho atua ao nível organizacional e individual, de forma a potenciar a
produtividade e bem-estar quer dos profissionais, quer das organizações. Os profissionais desta
área procuram aplicar o conhecimento científico da psicologia ao comportamento organizacio-
nal e à gestão de recursos humanos, alicerçando a sua ação em teorias e práticas consolidadas.
O contributo desta área de especialidade é fundamental para a realidade individual, social e
organizacional, integrando uma melhoria contínua das empresas ao bem-estar dos profissionais
que nelas exerçam funções. A valorização das empresas deve e pode estar em sintonia com a
qualidade de vida dos profissionais, promovendo um clima organizacional positivo es a ser
promovida a saúde dos profissionais.
No contexto de alise do comportamento humano diversos estudos têm sido desenvolvidos.
Este número temático procura dar resposta ao crescente interesse de profissionais e estudantes,
promovendo reflexões em temáticas prementes e atuais.
Um dos aspetos relevantes para a investigação nesta área é a existência de medidas aferi-
das e validadas para a população portuguesa. O artigo 1 (Fernandes & Viseu) propõe adaptar e
validar a medida Humor Styles Questionnaire (HSQ), enfatizando o papel do humor na saúde e
bem-estar em contextos de trabalho. O estudo preserva a estrutura original da escala, de Martin
(2007). A adaptação e validação do HSQ mostra-se essencial para compreender que outcomes
podem surgir a partir dos diferentes estilos de humor. O artigo 2 (Sousa & Gonçalves) afere a
medida de atitude multicultural numa amostra portuguesa, salientando a importância de estu-
dar a atitude geral face ao multiculturalismo que se apresenta como um desafio para as organiza-
ções que, cada vez mais, precisam integrar profissionais de diferentes países e culturas. A atitude
geral face ao multiculturalismo, ao dar indicações sobre o clima ideológico geral de um país,
pode ajudar a minorar potenciais tenes decorrentes da integração de profissionais de outras
culturas e fornecer indicadores para o desenho de intervenções para a promoção de políticas que
promovam a diversidade multicultural.
O artigo 3 (Machado & Gomes) preocupou-se em caraterizar a representação social do tra-
balho, tendo como base a ideia de que o comportamento do indivíduo no trabalho é afetado pela
metacognição existente sobre o mesmo. O estudo mostra uma representação social do trabalho
dividida entre o produto (i.e., dinheiro) e o processo (i.e., desempenho) que inclui caratesticas
como responsabilidade, esforço e empenho.
O artigo 4 (Calcinha, Silva, & Vieira dos Santos) procura analisar a forma como os valores, as
crenças, as atitudes e comportamentos organizacionais (i.e., cultural organizacional) impactam
a ligação ao laço psicogico que une os colaboradores às organizações (i.e., commitment). Este
estudo reforça a importância do estudo da cultura organizacional e como o seu conhecimento
pode contribuir positivamente para profissionais implicados com a organização, indo ao encon-
tro de estudos anteriores (e.g. Rodríguez, et al., 2020) que mostram que uma cultura organizacio-
nal vigorosa potencia profissionais mais empenhados do que os com uma cultura frágil. O artigo
5 (Carneiro & Vieira dos Santos) centra-se no estudo do constructo de motivação para o trabalho
como um processo psicológico que influencia o modo como o esforço e os recursos pessoais são
alocados para as ações relativas ao trabalho, incluindo a direção, a intensidade e a persistência
dessas ações. Este estudo mostra que a relação entre a motivação intrínseca e o empenhamento
afetivo é mediada pela satisfação profissional.
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PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XIX • Issue Fascículo 1 • 1
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As exigências profissionais tendem a impactar noutros domínios da vida dos profissionais,
nomeadamente no equilíbrio com a vida pessoal e familiar, o que gera consequências para a
saúde e bem-estar do capital humano. No artigo 6, Encarnação e Sousa, atras de um estudo
quantitativo, mostram que o workaholism e o conflito trabalho-família são preditores significati-
vos do bem-estar e que o workaholism influencia o conflito trabalho-família. Ao nível do género,
verificaram somente diferenças estatisticamente significativas na variável workaholism e res-
petivas dimenes, apresentando os homens valores de média superiores comparativamente às
mulheres. O artigo 7 (Lopes & Sousa), mostra que quer o conflito trabalho-família quer as altas
exigências do trabalho acarretam outcomes laborais negativos significativos para as organiza-
ções, especificamente, as exigências do trabalho influenciam o conflito trabalho-família e famí-
lia-trabalho e ambas as variáveis têm efeitos negativos no burnout e na satisfação profissional.
A prevenção atras de práticas e de uma cultura amiga da família promoverão o bem-estar e
saúde mental no trabalho.
Guiando-nos pela premissa que o conhecimento permitirá o delineamento de interven-
ções ajustadas às reais necessidades de pessoas e organizações, acreditamos que os diversos
estudos que integram este número temático constituem um contributo relevante para a inves-
tigação produzida em Portugal. Esperamos que fomente reflexões e permita pistas para futuras
investigações e que, em conjunto, possamos contribuir para o desenvolvimento desta área cien-
tífica em Portugal.
Alexandra Gomes
Joana Vieira dos Santos