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PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XIX • Issue Fascículo 1 • 1
st
january janeiro-30
th
june junho 2023 • pp. 109-142
Tiago Encarnação, Cátia Sousa
esferas, traduz-se em desequilíbrios, que por sua vez implicam níveis de produtividade baixos,
elevadas taxas de absentismo, ausência de satisfação laboral e de bem-estar (Georgellis et al.,
2012; White et al., 2003).
O género apresenta uma enorme significância no que concerne à competência individual
na coordenação das funções, assumindo um papel moderador que interfere na forma como os
conflitos laborais, as estratégias para lidar com o conflito e a sua manifestação são encaradas
(Higgins et al., 1994). As mulheres apresentam uma extrema dificuldade em equilibrar todas as
suas responsabilidades, não só devido à escassez de tempo, mas também em virtude da ausência
dos seus cônjuges na vida doméstica aliado ao preconceito ainda existente nos locais de trabalho
(Rehman & Roomi, 2012). O conflito experienciado pelos homens destaca a sua atividade laboral
como uma fonte de identidade e de autoestima que inferioriza a importância das suas obrigações
familiares (Karkoulian et al., 2016). Para além disso, as mulheres sofrem a forte influência cultu-
ral que impõe o seu maior envolvimento na vida familiar, distanciando-as da meio profissional
(Watts, 2009). Esta disposição leva os homens a despender horas extra no seu local de trabalho
para além das exigidas, a fim de compensar a não empregabilidade do seu cônjuge, funcionando
igualmente como uma forma de distanciamento à agitação familiar (Watts, 2009).
As investigações desenvolvidas em torno desta questão (Behson, 2002; Bruck et al., 2002;
Frone et al., 1996) evidenciaram que as mulheres tendem a experienciar níveis de conflito famí-
lia-trabalho mais elevados quando comparadas com os homens. Igualmente se comprovou que
as mulheres apresentam índices elevados de conflito trabalho-família, sendo estes superiores
aos experienciados pelos homens (Cinamon & Rich, 2002; Lee et al., 2003). Em sentido contrário,
outros teóricos concluíram que eram os homens que apresentavam mais conflito família-traba-
lho quando comparados com as mulheres, não se verificando, contudo, quaisquer diferenças ao
nível do conflito trabalho-família (Boyar et al., 2005). Um outro estudo, que envolvia casais em
que ambos os cônjuges trabalhavam, efetivou que os homens manifestavam mais conflito traba-
lho-família relativamente às mulheres (Hammer et al., 2005).
São inúmeros os tópicos que destacam as diferenças entre homens e mulheres nesta vertente,
no entanto contatou-se em alguns casos a inexistência de diferenças de género no que diz res-
peito ao conflito de papéis (Aryee et al., 2005; Carnicer et al., 2004; Hammer et al., 2004; Kinnu-
nen, et al., 2004; Simon, et al., 2004). Para além das diferenças de género referenciadas na litera-
tura sobre o binómio trabalho-família, importa também destacar as diferenças no workaholism.
Blair-Loy (2003) defende que as mulheres, em sentido oposto aos homens, enfrentam geralmente
um dilema na escolha do domínio ao qual devem prestar a sua dedicação. Para Ridgeway (2011) o
género é uma identidade passível de influenciar de uma forma consciente ou inconsciente outras
identidades, como a identidade sustentada pela mulher no meio laboral e no meio familiar.
Contudo, as mulheres geralmente apresentam motivação extra para trabalhar, experien-
ciando sentimentos de prazer e stress que se efetivam numa maior dedicação ao trabalho (Spence
& Robbins, 1992). Estes mesmos autores consideraram que os sujeitos do sexo feminino apresen-
tam frequentemente caraterísticas workaholic em virtude das exigências laborais e dos níveis
competitivos patenteados nas requisições de sucesso. Em termos de matéria investigacional não
se verificaram diferenças significativas entre géneros relativamente ao workaholism, observan-
do-se scores similares em ambos os sexos (Aziz & Cunningham, 2008; Bakker et al., 2009; Burke,
1999). Em estudos de autorrelato os resultados foram similares, verificando-se igualmente a
inexistência de diferenças de género relativamente ao workaholism (Aziz & Cunningham 2008;