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EVIDÊNCIA PSICOMÉTRICA DO HUMOR STYLES QUESTIONNAIRE
(HSQ) NUMA AMOSTRA DE TRABALHADORES PORTUGUESES
PSYCHOMETRIC EVIDENCE OF THE HUMOR STYLES QUESTIONNAIRE HSQ
IN A PORTUGUESE WORKING SAMPLE
Rui Paulo Cavaleiro Fernandes
1
, João Nuno Ribeiro Viseu
2
PSIQUE • EISSN 21834806 • VOLUME XIX • ISSUE FASCULO 1
1
ST
JANUARY JANEIRO  30
TH
JUNE JUNHO 2023 PP. 1032
DOI: https://doi.org/10.26619/2183-4806.XIX.1.1
Submitted on 15.06.21 Submetido a 15.06.21
Accepted on 31.10.22 Aceite a 31.10.22
Resumo
O humor tem uma vasta história, nos últimos anos começou a ser alvo de maior atenção
devido aos seus benefícios para a saúde e o bem-estar. Trabalhos recentes indicaram que este
conceito pode ser uma ferramenta útil no contexto laboral. Porém, na literatura não registo
de uma medida validada para aferir o humor no contexto de trabalho numa amostra de traba-
lhadores portugueses. O principal objetivo desta investigação foi colmatar esta lacuna, contri-
buindo para a adaptação e validação do Humor Styles Questionnaire (HSQ). Os objetivos espe-
cíficos relacionaram-se com a avaliação: (a) da validade fatorial dos indicadores do HSQ; (b) da
validade convergente das dimensões deste instrumento; (c) da validade de critério, recorrendo a
conceitos como a satisfação no trabalho, o commitment afetivo, o commitment de continuidade, o
engagement no trabalho, a exaustão emocional e a performance no trabalho; e (d) da fidelidade.
Foi recolhida uma amostra de 201 participantes, 52% do sexo feminino e 48% do sexo masculino.
Os resultados obtidos demonstraram que o modelo com quatro fatores correlacionados apresen-
tou um melhor ajustamento. Houve evidência de validade fatorial e de fidelidade, porém alguns
resultados, particularmente ao nível da validade convergente e da validade de critério, não
foram ao encontro do esperado. A adaptação e validação do HSQ é essencial para compreender
que outcomes podem surgir a partir dos diferentes estilos de humor, bem como pode contribuir
para o delineamento de intervenções ligadas ao humor, a investigação tem demonstrado que
intervenções ligadas à psicologia positiva promovem efeitos desejáveis para os trabalhadores.
Palavras-chave: Humor no Contexto de Trabalho, Humor Styles Questionnaire, Validade, Fidelidade
1 Universidade do Algarve – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Faro, Portugal, a54309@ualg.pt
2 Universidade de Évora – Escola de Ciências Sociais, Departamento de Psicologia; Universidade de Évora – Centro de Inves-
tigação em Educação e Psicologia (CIEP-UÉ), joao.viseu@uevora.pt
Autor correspondente: João Nuno Ribeiro Viseu, Universidade de Évora – Escola de Ciências Sociais, Departamento de Psico-
logia; Universidade de Évora – Centro de Investigação em Educação e Psicologia (CIEP-UÉ), joao.viseu@uevora.pt
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Abstract
Humor has a rich and wide history; in recent years it has started to receive greater attention
due to its benefits for health and well-being. Recent works have highlighted that this construct
can be a useful tool in the work context. Nevertheless, in the literature there is no record of a
validated measure to assess humor at work in a sample of Portuguese workers. The main aim
of this study was to fill this gap, by contributing to the adaptation and validation of the Humor
Styles Questionnaire (HSQ). The specific objectives defined were related to the assessment of
the: (a) factor validity of the HSQ indicators; (b) convergent validity of the dimensions of this
instrument; (c) criterion validity, using concepts such as job satisfaction, affective commitment,
continuance commitment, work engagement, emotional exhaustion, and job performance; and
(d) reliability. A sample of 201 workers, 52% females and 48% males, was collected. The obtained
results showed that the model with four-correlated factors achieved a better fit. Also, there was
evidence of factor validity and reliability, however some results, particularly at the convergent
validity and criterion validity level, did not meet the expectations. The adaptation and validation
of the HSQ is crucial to understand which outcomes can emerge from the different humor styles,
as well as it contributes for the development of interventions linked to humor, research has
shown that positive psychology interventions promote desirable effects for workers.
Keywords: Humor at Work, Humor Styles Questionnaire, Validity, Reliability
1. Introdução
Ao longo dos últimos anos, o conceito de humor começou a ganhar maior notoriedade na
área da psicologia devido ao seu impacto na saúde e no bem-estar (Martin et al., 1993; Mar-
tin et al., 2003; Mesmer-Magnus et al., 2012). Não obstante, a sua história começou a ser traçada
no início do século XX por psicólogos ligados ao estudo das características individuais (Kuiper
et al., 1993). Por exemplo, Freud defendia que o humor atuava como um mecanismo de defesa,
aspeto também corroborado por May, que argumentou que o papel do humor era preservar o self
(Bhattacharyya et al., 2019; Kuiper et al., 1993). Por sua vez, Maslow indicou que este constructo
caracteriza pessoas autorrealizadas e Allport salientou que o humor promove efeitos desejáveis
para o sujeito (Martin et al., 2003). Ou seja, os trabalhos iniciais sobre este conceito tiveram um
foco individual e procuraram compreender a existência de diferenças interindividuais. Nos anos
80 (século XX) assistiu-se a uma explosão da investigação sobre este constructo, nomeadamente
sobre os seus benefícios para a saúdesica e mental, bem como para o contexto de trabalho
(Mesmer-Magnus et al., 2012). Vários estudos (e.g., Kalliny et al., 2006; Pryor et al., 2010) demons-
traram que o humor fomenta as atitudes e os comportamentos laborais desejáveis (e.g., criativi-
dade), diminui a frequência de atitudes e comportamentos laborais indesejáveis (e.g., frustração)
e potencia relações interpessoais saudáveis com as chefias e os pares. Além disso, também se
verificou que o humor é fulcral para atenuar o impacto do stresse ocupacional, funcionando
como um mecanismo de coping (Cann et al., 2010; Caudill & Woodzicka, 2017; Martin et al., 2003;
Mesmer-Magnus et al., 2012). Recentemente, sobretudo desde a publicação do artigo de Seligman
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Evidência psicométrica do Humor Styles Questionnaire (HSQ) numa amostra de trabalhadores portugueses
e Csikszentmihalyi (2000), onde se debateu a importância de a psicologia se focar no crescimento
e desenvolvimento psicológico dos indivíduos, que maior atenção começou a ser dada a cons-
tructos com uma natureza positiva (e.g., humor, esperança, resiliência e otimismo).
o obstante a sua relevância, a evolução deste conceito sofreu alguns percalços devido à
complexidade em operacionalizá-lo e à existência de várias perspetivas teóricas que o explicam
(Cooper, 2008; Duarte & Duarte, 2016). De acordo com Mesmer-Magnus et al. (2012), várias situa-
ções contribuíram para o lento desenvolvimento do humor, algumas relacionadas com aspetos
teórico-metodológicos e outras ligadas à semântica. As diversas correntes que conceptualizam
o humor consideram que ele tem uma origem multidimensional (Cooper, 2008; Jalalkamali et
al., 2016). Porém, esta diversidade de modelos também contribuiu para que existam diferentes
dimensões de humor, muitas delas totalmente díspares, e múltiplos instrumentos para analisar
este conceito (Duarte & Duarte, 2016; Martin et al., 2003). Por outro lado, existe a questão semân-
tica, imeros autores utilizaram o sentido de humor e o humor como sinónimos (Mesmer-Mag-
nus et al., 2012). Apesar deste ruído conceptual, pode-se afirmar que o humor é um traço de
personalidade, que se manifesta através da interação social e que visa uma adaptação eficaz
do indivíduo ao meio (Caudill & Woodzicka, 2017; Cheng & Wang, 2015; Mao et al., 2017; Mes-
mer-Magnus et al., 2012). Este constructo também pode ser percecionado como um recurso de
coping, que permite aos trabalhadores lidarem com as adversidades que surgem no ambiente
laboral, protegendo-os dos efeitos negativos que elas podem originar, contribuindo, assim, para a
promoção da resiliência (Bhattacharyya et al., 2019; Cheng & Wang, 2015). Resumindo, o humor
melhora o funcionamento individual e permite o surgimento de resultados laborais desejáveis,
mesmo em situações de elevado stresse (Mao et al., 2017).
Devido à importância do humor, é essencial referir as principais perspetivas que o abor-
dam e indicar os seus benefícios para os trabalhadores e as organizações. Am disso, devido ao
impacto deste conceito na saúde mental e no bem-estar, é fulcral apresentar um dos instrumentos
mais relevantes para o avaliar.
2. Revisão da Literatura
2.1 Perspetivas de Humor
Têm vindo a surgir várias perspetivas de humor, as quais deram origem a inúmeros instru-
mentos de autorresposta (Martin, 2003). Esta proliferação contribuiu para o lento desenvolvi-
mento deste conceito e para o surgimento de alguns problemas ao nível da sua conceptualização
(Martin et al., 2003). As principais perspetivas existentes dividem-se em quatro grupos. Martin
e Lefcourt (1983) propuseram que o humor fosse compreendido como um mecanismo de coping,
auxiliando os indivíduos na gestão de situações de stresse. Deste modo, o humor seria utilizado
quando um indivíduo fosse confrontado com situações que excedem as suas capacidades indivi-
duais, atuando no sentido de repor a homeostasia. Por sua vez, Martin e Lefcourt (1984) apresen-
taram uma perspetiva situacional de humor, onde definiram que o sentido de humor es asso-
ciado à frequência com que as pessoas utilizam expressões ligadas ao humor (e.g., sorrir) na sua
vida diária. A premissa base desta perspetiva é que quanto maior a frequência destas expressões,
maior a utilização do humor no dia-a-dia. Esta corrente foi criticada pela excessiva simplificação
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do sentido de humor, reduzindo-o à expressão do riso ou do sorriso (Martin, 1996). Hoje em dia,
sabe-se que o uso do sorriso não está associado somente a aspetos positivos do funcionamento
humano, podendo ser utilizado para danificar ou dificultar as relações interpessoais (Martin et
al., 2003). Svebak (1974) defendeu que o sentido de humor é composto por três dimensões, a capa-
cidade para identificar o humor nos mais variados contextos, a compreensão do papel do humor
e o gosto em utilizá-lo, e a tendência para exprimir livremente as emoções sentidas. Por último,
Thorson e Powell (1993) desenvolveram uma perspetiva de humor composta por seis dimensões,
perceção de que um indivíduo possui sentido de humor, identificão do estado de humor dos
outros, valorização do humor, utilização do riso, enquadramento dos acontecimentos de forma
humorística e aplicação do humor enquanto mecanismo de coping.
Como se pode verificar, as perspetivas supracitadas encaram o humor e o sentido de humor
de diferentes maneiras. Além disso, algumas delas podem estar desatualizadas, nomeadamente
devido ao período de tempo que decorreu desde a sua formulação (Martin, 2003). Nos últimos
anos, surgiu uma perspetiva inovadora que, além de reunir consenso entre os investigadores da
área, permitiu uma integração das características de outras perspetivas (Bhattacharyya et al.,
2019). Esta perspetiva, que enquadra o humor num modelo de dois por dois, defende que este
conceito tem uma natureza bidimensional, estando direcionado para o self ou para as relações
interpessoais, e possui um foco positivo ou negativo (Mesmer-Magnus et al., 2012).
2.1.1. Estilos de Humor de Martin et al. (2003)
Martin et al. (2003) propuseram uma perspetiva de humor inovadora e que integrou os con-
tributos de trabalhos anteriores. Na opinião de Bhattacharyya et al. (2019), esta perspetiva per-
mitiu o alcance de um consenso no estudo do humor, o que possibilitou um crescimento signifi-
cativo da investigação. Este incremento conduziu à realização de vários estudos (e.g., Ford et al.,
2014; Leist & Muller, 2013; Mesmer-Magnus et al., 2012), de índole meta-analítica ou empírica, que
demonstraram que o humor atua como um mecanismo promotor da saúde e do bem-estar.
Os estilos de humor dizem respeito à frequência com que os indivíduos utilizam o humor
no dia-a-dia (Martin et al., 2003; Torres-Marín et al., 2018). A perspetiva de Martin et al. (2003)
propõe a existência de quatro estilos de humor, dois orientados para o self, humor autovalora-
tivo e humor autodepreciativo, e dois orientados para as relações interpessoais, humor afiliativo
e humor agressivo (Caudill & Woodzicka, 2017; Torres-Marín et al., 2018). Além desta divisão,
na literatura também se têm separado estes estilos em humor positivo e humor negativo ou em
humor adaptativo e humor desadaptativo (Caudill & Woodzicka, 2017). Deste modo, o humor
autovalorativo e o humor afiliativo enquadram-se no humor positivo/humor adaptativo, e o
humor autodepreciativo e o humor agressivo integram-se no humor negativo/humor desadapta-
tivo (Ford et al., 2017).
O humor afiliativo diz respeito a uma tendência para fazer brincadeiras engraçadas ou para
contar piadas, tendo como objetivo fomentar relações interpessoais saudáveis e atenuar even-
tuais tensões (Martin et al., 2003; Yue et al., 2014). Trata-se de um estilo de humor benevolente, de
tipo afirmativo e que fomenta a coesão e a atração interpessoal (Torres-Marín et al., 2018). Como
resultado, o humor afiliativo desencadeia emoções positivas no Outro, facilitando o relaciona-
mento interpessoal e o suporte social (Cann et al., 2010; Caudill & Woodzcika, 2017). Por sua vez,
o humor agressivo está relacionado com o uso do sarcasmo, do escárnio, da ameaça e da provoca-
ção nas relações (Martin et al., 2003). Os indivíduos que utilizam este estilo de humor procuram
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alcançar um status superior, adotando, para tal, uma postura hostil para com o Outro (Torres-
-Marín et al., 2018). Este estilo não valoriza ou considera o impacto do humor nas outras pessoas
(e.g., piadas sexistas) e caracteriza sujeitos incapazes de controlarem as expressões humorísticas
(Martin et al., 2003). Logo, o humor agressivo danifica as relações interpessoais e desencadeia
reações de raiva ou de hostilidade (Cann et al., 2010; Kuiper & McHale, 2009).
O humor autovalorativo está associado a indivíduos que possuem uma perspetiva positiva
da vida mesmo perante possíveis incongrncias e adversidades (Caudill & Woodzicka, 2017;
Martin et al., 2003; Zeigler-Hill & Besser, 2011). Trata-se de um estilo que desempenha um papel
de regulação emocional e que funciona como um mecanismo de coping (Martin, 2007; Torres-Ma-
n et al., 2018). De acordo com Cann et al. (2010), o humor autovalorativo permite aos indivíduos
uma reinterpretação dos obstáculos (i.e., dos stressores), conduzindo a um aumento do bem-estar
psicológico e da autoestima. Por seu turno, o humor autodepreciativo diz respeito à utilização de
piadas ou anedotas exageradas, cujo alvo é o próprio sujeito com o objetivo de gerar a aceitação
de outros indivíduos ou grupos (Scheel et al., 2016; Torres-Marín et al., 2018). Além da procura
de aceitação, a literatura também tem indicado que este estilo de humor pode servir para evitar
emoções negativas ou situações problemáticas, podendo ser compreendido como um mecanismo
de defesa (Martin et al., 2003; Saroglou & Scariot, 2002). Apesar dos seus objetivos, este estilo tem
consequências negativas, e.g., depressão e ansiedade (Cann et al., 2010).
Em suma, a perspetiva de Martin et al. (2003) propõe que os estilos de humor podem estar
orientados para as relações interpessoais, que podem ser fomentadas ou inibidas, ou para o self,
sendo benéficos ou prejudiciais para este. Devido ao seu crescimento, esta perspetiva de humor
foi transposta para a área organizacional, onde procurou compreender que estilos podem trazer
outcomes desejáveis para os colaboradores e as organizações.
2.2 Benefícios do Humor para os Colaboradores e as Organizações
A evidência empírica tem-se debrado sobre os outcomes de cada um dos estilos de humor
propostos por Martin et al. (2003), com o objetivo de perceber os mecanismos que conduzem à
promoção da saúde e do bem-estar, e de desenvolver estratégias que mitiguem os efeitos negati-
vos do humor.
Caudill e Woodzicka (2017) observaram que o humor positivo (afiliativo e autovalorativo)
estava positivamente associado com o suporte social e o bem-estar no trabalho. Ou seja, quanto
maior a tendência dos trabalhadores em expressarem formas adaptativas de humor, maior será
a sua perceção de suporte social e mais elevados serão os seus níveis de bem-estar ocupacional.
Estes autores também testaram o efeito mediador do suporte social na relação entre o humor
positivo e o bem-estar no trabalho, verificando que o humor positivo e o suporte social atuam
sinergeticamente para promover o bem-estar (Caudill & Woodzicka, 2017). Por sua vez, Ford et
al. (2017) registaram que os estilos de humor adaptativos estão positivamente associados com a
felicidade. Deste modo, indivíduos que têm uma perspetiva favovel da sua vida e que utilizam
o humor para facilitar as relações interpessoais, serão mais felizes. Numa análise adicional, com
o objetivo de identificar possíveis antecedentes do humor e de testar o efeito mediador deste,
Ford et al. (2017) descobriram que a extroversão, o lócus de controlo, o otimismo e a autoestima
contribuem para a adoção de estilos adaptativos de humor, o que, por seu turno, facilita o sur-
gimento da felicidade. Segundo Kuiper e McHale (2009), a felicidade pode emergir através da
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adoção de uma perspetiva de vida positiva, que pode atuar como um mecanismo protetor da
saúde mental. Ainda ao nível das características individuais, Torres-Marín et al. (2018) indicaram
que o humor autovalorativo diminui a raiva e a expressão externa da mesma e que o humor auto-
depreciativo atua no sentido contrário, i.e., incrementando a raiva e a sua expressão. Scheel et
al. (2016) focaram-se no humor adaptativo e registaram que este estabelece uma relação positiva
com o otimismo, a autoeficácia e a satisfação no trabalho, e uma relação negativa com a irritação.
Assim, trabalhadores que usam estilos de humor adaptativos desenvolvem uma perspetiva posi-
tiva acerca do presente e do futuro, têm confiança nas suas capacidades para atingir o sucesso e
estão satisfeitos com as suas funções, a profissão e o ambiente laboral. Um trabalho pioneiro, ao
nível do humor positivo, foi a meta-análise de Mesmer-Magnus et al. (2012), que procurou obser-
var o efeito deste tipo de humor em variáveis ligadas ao trabalho e à saúde. Os resultados obtidos
sugeriram que o humor positivo leva a um aumento da performance, da satisfação no trabalho, da
coesão grupal e da saúde, e conduz a uma diminuição do stresse ocupacional e do burnout.
Lussier et al. (2017), num estudo com 149 díades vendedor-cliente, verificaram que a frequên-
cia do humor é fulcral para o desenvolvimento da criatividade, o que contribui para uma melho-
ria da relação entre o vendedor e o cliente. Logo, o humor pode auxiliar no desenvolvimento
de produtos e/ou serviços originais que podem criar vantagens competitivas para a entidade
empregadora. Esta relação já havia sido verificada por Lang e Lee (2010), sendo que estes autores
indicaram que a criatividade é fulcral para a performance laboral. Por seu turno, Robert et al.
(2015) registaram que o humor afiliativo aumenta a probabilidade de manutenção no posto de
trabalho, i.e., diminui o turnover. Romero e Arendt (2011) testaram as relações estabelecidas entre
os quatro estilos de humor de Martin et al. (2003) e um conjunto de outcomes organizacionais.
Estes autores verificaram que o humor agressivo se relacionou de modo positivo com o stresse, já
o humor afiliativo estabeleceu uma associação com sinal contrário. Ao nível da satisfação com o
pares, observou-se a situação inversa, i.e., o humor afiliativo fomenta este tipo de satisfação ao
passo que o humor agressivo o inibe. Também se registou que o humor adaptativo se relaciona
positivamente com a cooperação entre os membros da equipa e o commitment organizacional,
sendo que o humor agressivo se associa de modo negativo com estes constructos. Por último, há
que realçar um aspeto deste estudo, o humor autodepreciativo não estabeleceu nenhuma asso-
ciação com significância estatística. Wang et al. (2018), num estudo conduzido em dois momentos
com trabalhadores chineses, verificou que o humor positivo diminuiu a incidência de stresse do
primeiro para o segundo momento.
Nos últimos anos também se procurou compreender como é que o humor dos líderes pode
influenciar os trabalhadores e as organizações. A evidência empírica tem demonstrado que o
humor dos líderes facilita o engagement no trabalho, a satisfação no trabalho, os comportamentos
de inovação, as emoções positivas e a performance dos trabalhadores (Goswami et al., 2016; Mao
et al., 2017; Mesmer-Magnus et al., 2012; Yam et al., 2017).
Os estudos apresentados apontaram para a importância do humor no contexto de trabalho,
sendo uma ferramenta vital para os trabalhadores, os líderes e as organizações. Estes argumen-
tos consubstanciam a importância de adaptar e validar instrumentos destinados a conhecer os
estilos de humor utilizados pelos trabalhadores portugueses. Neste âmbito, e devido à perspetiva
de humor a que está associado, o HSQ assume maior relevância.
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2.3 O Humor Styles Questionnaire (HSQ)
O HSQ foi desenvolvido a partir do modelo de estilos de humor de Martin et al. (2003). A sua
composição inicial era de 60 itens, que foram refinados até se chegar a uma solução final. Trata-
-se de um instrumento composto por 32 itens organizados numa escala de Likert de sete pontos,
que varia entre 1 (Discordo totalmente) e 7 (Concordo totalmente). Cada uma das dimensões do
HSQ, humor autovalorativo, humor autodepreciativo, humor afiliativo e humor agressivo, apre-
senta oito itens. Existem 11 itens que devem ter a sua classificação invertida, cinco para a dimen-
são humor afiliativo, um para a dimensão humor autovalorativo, quatro para a dimensão humor
agressivo e um para a dimensão humor autodepreciativo. Ao nível da fiabilidade, calculada
através do coeficiente alfa de Cronbach (α), verificou-se que os valores das dimensões do HSQ
variaram entre .77 e .81 (humor afiliativo=.80; humor autovalorativo=.81; humor agressivo=.77; e
humor autodepreciativo=.80) (Martin et al., 2003).
Os autores também efetuaram um conjunto de análise correlacionais com medidas de ansie-
dade, hostilidade, agressão, autoestima, otimismo e bem-estar. Verificou-se que o humor afilia-
tivo e o humor autovalorativo se correlacionaram de forma negativa e estatisticamente signifi-
cativa com as medidas de ansiedade e depressão. O mesmo sinal foi observado na correlação
com a agressão, ainda que não tenha existido significância estatística. Ao nível da hostilidade, e
contrariamente ao esperado, registou-se uma correlação positiva, no entanto não foi atingido um
valor estatisticamente significativo. Por outro lado, o humor afiliativo e o humor autovalorativo
correlacionaram-se de forma positiva e estatisticamente significativa com a autoestima e o bem-
-estar. No que diz respeito ao otimismo, também se obteve uma correlação de sinal positivo, mas
somente o humor autovalorativo obteve um p-value significativo. O humor autodepreciativo cor-
relacionou-se de maneira positiva e estatisticamente significativa com as medidas de ansiedade,
depressão, hostilidade e agressão. Relativamente às medidas de autoestima, otimismo e bem-es-
tar obtiveram-se correlações negativas, a única que não alcançou significância estatística foi com
o otimismo. Por último, o humor agressivo correlacionou-se de forma positiva e estatisticamente
significativa com a hostilidade e a agressão. Com as restantes medidas utilizadas não se observa-
ram quaisquer correlações com valores de p estatisticamente significativos (Martin et al., 2003).
As quatro dimensões do HSQ também foram correlacionadas com os cinco traços de perso-
nalidade do modelo The Big Five. O humor afiliativo correlacionou-se de forma positiva e esta-
tisticamente significativa com a extroversão e a abertura à experiência, o mesmo sucedeu com o
humor autovalorativo. Além disso, esta dimensão também estabeleceu uma correlação negativa
e com significância estatística com o neuroticismo. O humor agressivo e o humor autodeprecia-
tivo correlacionaram-se de modo positivo e estatisticamente significativo com o neuroticismo e
de modo negativo com a conscienciosidade e a amabilidade (Martin et al., 2003).
Na atualidade, o HSQ é a medida mais utilizada para analisar os estilos de humor (Bhatta-
charyya et al., 2019). A investigação realizada tem demonstrado que este instrumento apresenta
boas qualidades psicométricas (e.g., Ford et al., 2014; Leist & Mueller, 2013), ainda que em algu-
mas situações tenham sido reportados valores de consistência interna inferiores a .70, nomeada-
mente para o humor agressivo (Rnic et al., 2016; Yue et al., 2014). A maioria destes estudos tem
associado os estilos de humor a indicadores de bem-estar, de regulação emocional e de coping
(Bhattacharryya et al., 2019). Este instrumento tem sido adaptado e validado para diversas amos-
tras, e.g., crianças, adolescentes, estudantes e adultos (Fox et al., 2013; James & Fox, 2016; Nezlek
& Derks, 2019; Ruch & Heintz, 2016). Não obstante, tem-se verificado que a frequência de estudos
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com amostras de trabalhadores é residual. Urge colmatar esta lacuna devido aos benefícios que
os estilos de humor trazem para os trabalhadores e as organizações.
2.4 Objetivos da Investigação
Este estudo pretendeu contribuir para a adaptação e validação de uma medida de humor, o
HSQ, para o contexto de trabalho, utilizando, para tal, uma amostra de trabalhadores portugue-
ses.
De maneira específica, desejou-se avaliar a validade fatorial dos indicadores (i.e., itens) do
HSQ e a validade convergente das diferentes dimensões que compõem o modelo de Martin et al.
(2003). A investigação realizada até ao momento, que tenhamos conhecimento, não contemplou
a aferição da validade fatorial. No que diz respeito à validade convergente, a evidência empírica
é ainda residual, facto que justifica o exame desta componente de validade. Além disso, também
deseja testar a validade critério das diferentes dimensões de humor. Perspetiva-se as dimen-
es de humor positivo se correlacionem de forma positiva com as atitudes e os comportamentos
laborais desejáveis (satisfação no trabalho, commitment afetivo, engagement no trabalho e perfor-
mance no trabalho) e que as dimensões de humor negativo se correlacionem de forma negativa
com este tipo de atitudes e comportamentos. Por outro lado, perspetiva-se que as dimenes
de humor negativo se correlacionem de forma positiva com as atitudes e os comportamentos
laborais indesejáveis (exaustão emocional e commitment de continuidade) e que as dimenes de
humor positivo se correlacionem de forma negativa com estas atitudes e comportamentos. Por
último, deseja-se testar a precisão das dimensões do HSQ, recorrendo-se a dois coeficientes, alfa
de Cronbach (α) e Composite Reliability (CR).
Esta investigação utilizou uma metodologia quantitativa e seguiu um design transversal.
3.todo
3.1 Participantes
Esta investigação seguiu uma amostragem não-probabilística por conveniência, tendo-se
definido um único critério de inclusão, à data da resposta ao protocolo de investigação os indiví-
duos deviam estar empregados.
Foi recolhida uma amostra composta por 201 participantes, a maioria era do sexo feminino
(52%), tinha até 25 anos (20.7%), era casado(a) ou vivia numa união de facto (44.4%) e apresentava
como nível de escolaridade mais elevado o ensino secundário (34.5%). Ademais, verificou-se que,
em média, os respondentes trabalhavam na sua organização atual há, aproximadamente, 10 anos
(M=10.44; DP=10.23). Um resumo desta informação encontra-se na Tabela 1. Relativamente a esta
tabela, há que ressalvar um aspeto, os participantes que informaram possuir outra formação fre-
quentaram um curso profissional.
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TABELA1
Caracterização da Amostra (N=201)
Características dos participantes %
Sexo
Masculino 48
Feminino 52
Idade
Até 25 anos 20.7
25-29 anos 10.6
30-34 anos 10.6
35-39 anos 11.1
40-44 anos 9.1
45-49 anos 12.6
50-54 anos 15.2
55-59 anos 4
60-64 anos 3.5
Mais de 65 anos 2.5
Estado civil
Solteiro(a) 42.4
Casado(a) ou a viver em união de facto 44.4
Separado(a) ou divorciado(a) 13.1
Nível de escolaridade
Ensino básico 9.3
Ensino secundário 34.5
Licenciatura 27.3
Mestrado 10.8
Doutoramento 1.5
Pós-graduação 9.3
Outra formação 7.2
Tempo de trabalho na organização
M=10.44 anos (DP=10.23); Min.=3 meses; Máx.=39 anos
Nota. M=valor de média; DP=valor de desvio-padrão; Min.=valor mínimo; Máx.=valor máximo.
3.2 Instrumentos
Os estilos de humor foram aferidos através do HSQ de Martin et al. (2003). Este instrumento
apresenta 32 itens (e.g., Normalmente, não rio ou gozo muito com as outras pessoas.) organizados
numa escala de Likert de sete pontos (1-Discordo totalmente; 7-Concordo totalmente). O total de
itens divide-se por quatro dimenes, humor afiliativo, humor autovalorativo, humor agressivo
e humor autodepreciativo, com oito itens cada. Am disso, 11 itens devem ser alvo de inversão,
cinco para o humor afiliativo, um para o humor autovalorativo, quatro para o humor agressivo e
um para o humor autodepreciativo. No estudo de desenvolvimento do HSQ (Martin et al., 2003)
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foram obtidos valores de consistência interna superiores a .70. Na atualidade, este instrumento é
o mais consensual na investigação sobre o humor.
A performance no trabalho foi avaliada com recurso a quatro itens (e.g., Acredito que sou um
trabalhador eficaz.) propostos por Rego e Pina e Cunha (2008). Estes itens encontram-se orde-
nados numa escala de Likert de sete pontos (1-Esta afirmação não se aplica nada a mim; 7-Esta
afirmação aplica-se totalmente a mim). O valor de alfa de Cronbach obtido para esta medida, no
seu estudo original, foi de .86.
A satisfação no trabalho foi analisada pela Escala de Satisfação Profissional de Lima et al.
(1995). Esta escala é composta por oito itens (e.g., Em relação às suas perspetivas de promoção,
diria que está:) com uma escala de Likert de sete pontos (1-Extremamente insatisfeito; 7-Extrema-
mente satisfeito). O instrumento em análise afere a satisfação no trabalho a partir de uma perspe-
tiva unidimensional e possui uma consistência interna de .81.
O commitment afetivo e o commitment de continuidade foram mensurados através do Ques-
tionário de Empenhamento Organizacional (Rego & Souto, 2004). Esta medida apresenta 14 itens
(e.g., Sinto que existe uma forte ligação afetiva entre mim e a minha organização.) ordenados
numa escala de Likert de sete pontos (1-A afirmação não se aplica rigorosamente nada a mim; 7-A
afirmação aplica-se completamente a mim). Nesta investigação foram somente utilizados os itens
destinados às dimenes commitment afetivo (cinco itens) e commitment de continuidade (cinco
itens). No seu estudo de adaptação para Portugal foram registados valores de alfa de Cronbach
superiores a .80 para cada uma destas dimensões (Rego & Souto, 2004).
O engagement no trabalho foi examinado pela versão portuguesa da Utrecht Work Engage-
ment Scale (UWES; Schaufeli & Bakker, 2003, Sinval et al., 2018) que possui nove itens (e.g., Sin-
to-me cheio de energia no meu trabalho.) organizados numa escala de resposta de sete pontos
(0-Nunca; 6-Sempre/Todos os dias). Trata-se de um constructo latente multidimensional, pelo que
o total de itens desta medida se divide por três dimensões, vigor, dedicação e absorção, cada uma
com três itens. No estudo de adaptação para Portugal foram obtidos resultados de consistência
interna superiores a .90, quer para cada uma das dimensões, quer para o engagement no trabalho
como um todo (Sinval et al., 2018).
A exaustão emocional, dimensão mais relevante do burnout, foi avaliada pela versão portu-
guesa do Oldenburg Burnout Inventory (OLBI; Bakker et al., 2004; Sinval et al., 2019). Este instru-
mento é composto por 16 itens (e.g., Há dias em que me sinto cansado antes mesmo de chegar ao
trabalho.) organizados numa escala de Likert de cinco pontos (1-Discordo totalmente; 5-Concordo
totalmente). O OLBI mede duas dimensões de burnout, distanciamento e exaustão emocional.
Para os fins desta investigação foi selecionada a última, que possui oito itens, quatro dos quais
devem ser invertidos. A adaptação para Portugal alcançou valores de consistência interna supe-
riores a .80 (Sinval et al., 2019).
Por fim, foi aplicado um questionário sociodemográfico com objetivo de recolher informa-
ções sobre o sexo, a idade, o estado civil, o nível de escolaridade e o tempo de trabalho na orga-
nização atual dos participantes.
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3.3 Procedimento de Recolha de Dados
Os dados foram recolhidos numa única vez no tempo, i.e., design transversal, com recurso
a um protocolo de investigação online composto por instrumentos de autorresposta. A recolha
decorreu entre dezembro-2019 e julho-2020. Foi utilizada uma técnica de amostragem não-pro-
babilística por conveniência, devendo ser respeitado um único critério de inclusão, à data da
resposta ao protocolo de investigação os respondentes deveriam estar empregados. Antes de res-
ponder ao protocolo, os participantes leram e tiveram de concordar com um conjunto de infor-
mações, (a) respeito pelos critérios de anonimato e de confidencialidade; (b) dados recolhidos
servem somente para os propósitos da investigação; (c) a resposta pode ser interrompida a qual-
quer momento; e (d) não existe qualquer recompensa associada à participação, monetária ou de
outro cariz.
Para a definição do tamanho mínimo da amostra foi utilizado o pressuposto Lloret-Segura
et al. (2014), a amostra recolhida deve apresentar 200 ou mais participantes para conduzir uma
análise fatorial confirmatória. A adaptação do HSQ para língua portuguesa seguiu um processo
de tradução-retroversão. Num primeiro momento foi efetuada uma tradução do HSQ de língua
inglesa para língua portuguesa, em seguida realizou-se o processo inverso, i.e., procedeu-se a
uma retroversão de língua portuguesa para língua inglesa. Estes dois procedimentos foram con-
duzidos por doisris independentes e fluentes em português e em inglês. As duas veres obti-
das foram comparadas e foram efetuados os ajustamentos necessários.
3.4 Procedimento de Análise de Dados
Inicialmente, foi conduzida uma análise de missings, sendo os valores em falta substituídos
pelos valores de média de cada indicador (Hill & Hill, 2008). Em seguida, foi realizada uma aná-
lise descritiva dos indicadores do HSQ, sendo apresentados os valores de média, desvio-padrão,
erro padrão da média, mediana, moda, mínimo, máximo, assimetria, curtose, percentil 25, per-
centil 50 e percentil 75. Esta análise recorreu ao software Statistical Package for the Social Sciences
(SPSS) versão 20.
A análise fatorial confirmatória (AFC) foi efetuada através do método de máxima verosimi-
lhança (Marôco, 2021). Contudo, para que este método possa ser empregue, há que respeitar um
pressuposto estatístico, normalidade multivariada. Ainda que não exista um consenso quanto
aos valores de assimetria e de curtose que apontam para um respeito deste pressuposto, Curran
et al. (1996) argumentaram que valores de assimetria e de curtose de dois (|sk|≤2) e sete (|ku|≤7),
respetivamente, apontam para uma distribuão normal multivariada. Foram comparadas três
estruturas fatoriais, quatro fatores correlacionados (modelo 1), quatro fatores independentes
(modelo 2) e fator de segunda-ordem (modelo 3). Estes procedimentos foram realizados através
do software Analysis of Moment Structures (AMOS) versão 20.
A avaliação do ajustamento global do modelo iniciou-se com a análise do valor do teste de
Qui-quadrado de bondade do ajustamento (χ
2).
Por norma, este teste deve reportar p-values supe-
riores a .05, mas na presença de amostras com vários participantes podem atingir-se p<.05. De
modo a eliminar esta lacuna, foram selecionados os índices Goodness of Fit Index (GFI), Root
Mean Square Error of Approximation (RMSEA), Standardized Root Mean Square Residual (SRMR),
Comparative Fit Index (CFI) e Normed Fit Index (χ2/df). Os valores de corte para cada um destes
índices basearam-se nas sugestões de Byrne (2010), Marôco (2021) e Hu e Bentler (1999). Assim,
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(a) GFI, ajustamento muito bom: >.95 e ajustamento bom: .90-95; (b) RMSEA, ajustamento muito
bom: <.05 e ajustamento bom: .05-.10; (c) SRMR, ajustamento bom: <.05 e ajustamento aceitável:
.05-.08; (d) CFI, ajustamento muito bom: >.95 e ajustamento bom: .90-.95; e (e) χ2/df, ajustamento
bom: <2 e ajustamento aceitável: <5. Além disso, para comparar a qualidade do ajustamento dos
três modelos, foi utilizado o Expected Cross-Validation Index (ECVI), valores mais baixos indicam
um melhor ajustamento (Marôco, 2021).
O modelo de medida foi testado em termos de validade, fatorial, convergente e de critério,
e de fidelidade (Anderson & Gerbing, 1982). A validade fatorial diz respeito à carga fatorial
padronizada dos indicadores, que deve ser igual ou superior a .50 (Marôco, 2021). As cargas
fatoriais obtidas foram classificadas de acordo com as premissas de Comrey e Lee (1992), pobre
(>.32), aceitável (>.45), bom (>.55), muito bom (>.63) e excelente (>.71). Por sua vez, a validade
convergente foi calculada através do coeficiente Average Variance Extracted (AVE), devem
atingir-se valores iguais ou superiores a .50 (Bagozzi & Yi, 1988; Sharma, 1996). O último tipo
de validade aferido foi a validade de critério, recorrendo-se, para tal, a uma matriz de correla-
ções. Perspetiva-se as dimensões de humor positivo se correlacionem de forma positiva com as
atitudes e os comportamentos laborais desejáveis, satisfação no trabalho, commitment afetivo,
engagement no trabalho e performance no trabalho, e que as dimensões de humor negativo
se correlacionem de forma negativa com este tipo de atitudes e comportamentos. Ademais,
perspetiva-se que dimensões de humor negativo se correlacionem de forma positiva com as
atitudes e os comportamentos laborais indesejáveis, exaustão emocional e commitment de con-
tinuidade, e que as dimensões de humor positivo se correlacionem de forma negativa com
estas atitudes e comportamentos.
Por fim, foi examinada a fidelidade, procedimento conduzido através de dois coeficientes,
alfa de Cronbach (α) e Composite Reliability (CR). É desejável que se obtenham valores superiores
a .70 (Hair et al., 2014; Marôco, 2021). Os resultados de consistência interna foram apresentados
para cada uma das dimensões do HSQ e para este instrumento como um todo. Os dados obti-
dos foram classificados segundo as premissas de Sharma (1996), pobre (<.50), adequado (.70-.80),
muito bom (.80-.90) e excelente (>.90).
4. Resultados
4.1 Estatística Descritiva
Na Tabela 2 é apresentada a estatística descritiva dos itens do HSQ.
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TABELA2
Estatística Descritiva dos Itens do HSQ (N=201)
Itens HSQ
M DP EPM Mdn Mo
Min. Máx. sk ku P25 P50 P75
Item 1 5.38 1.74 .12 6 7 1 7 -.89 -.33 4 6 7
Item 2 5.01 1.51 .11 5 5 1 7 -.39 -.73 4 5 6
Item 3 2.43 1.54 .11 2 1 1 7 1.09 .55 1 2 3
Item 4 2.47 1.60 .11 2 1 1 7 .89 -.24 1 2 4
Item 5 5.03 1.39 .09 5 5 1 7 -.59 -.07 4 5 6
Item 6 4.93 1.62 .11 5 5 1 7 -.50 -.49 4 5 6
Item 7 2.91 1.44 .10 3 2 1 7 .68 -.02 2 3 4
Item 8 2.79 1.69 .12 2 1 1 7 .63 -.74 1 2 4
Item 9 5.20 1.69 .12 6 7 1 7 -.81 -.11 4 6 7
Item 10 4.78 1.45 .10 5 4 1 7 -.29 -.45 4 5 6
Item 11 4.23 1.72 .12 4 4 1 7 -.04 -.93 3 4 6
Item 12 3.59 1.80 .13 4 5 1 7 .02 -1.08 2 4 5
Item 13 6.13 1.13 .08 7 7 2 7 -1.26 .90 5 7 7
Item 14 4.91 1.46 .10 5 5 1 7 -.42 -.46 4 5 6
Item 15 2.43 1.72 .12 2 1 1 7 1.09 .21 1 2 4
Item 16 2.58 1.78 .13 2 1 1 7 .99 -.05 1 2 4
Item 17 5.69 1.43 .10 6 7 1 7 -.99 .34 5 6 7
Item 18 4.99 1.42 .10 5 6 1 7 -.52 -.21 4 5 6
Item 19 3.83 1.68 .12 4 4 1 7 -.07 -.73 3 4 5
Item 20 2.09 1.41 .09 2 1 1 7 1.28 .75 1 2 3
Item 21 5.87 1.26 .09 6 7 2 7 -.94 .10 5 6 7
Item 22 3.56 1.67 .12 4 4 1 7 .15 -.92 2 4 5
Item 23 3.37 1.82 .13 3 1 1 7 .31 -.95 2 3 5
Item 24 3.24 1.67 .12 3 1 1 7 .27 -.94 2 3 5
Item 25 6.12 1.38 .09 7 7 1 7 -1.88 3.03 6 7 7
Item 26 5.51 1.31 .09 6 7 1 7 -.69 .05 5 6 7
Item 27 1.93 1.38 .09 1 1 1 7 1.71 2.59 1 1 3
Item 28 4.12 1.91 .13 4 5 1 7 -.09 -1.17 2 4 6
Item 29 4.59 1.67 .12 5 4 1 7 -.33 -.64 4 5 6
Item 30 4.83 1.60 .11 5 6 1 7 -.45 -.65
4 5 6
Item 31 2.67 1.81 .13 2 1 1 7 .83 -.49 1 2 4
Item 32 2.99 1.73 .12 3 1 1 7 .43 -.91 1 3 4
Nota. M=média; DP=desvio-padrão; EPM=erro-padrão da média; Mdn=mediana; Mo=moda; Min.=mínimo; Máx.=máximo; sk=assimetria; ku=cur-
tose; P25=percentil 25; P50=percentil 50; P75=percentil 75.
4.2 Ajustamento Global do Modelo
As três estruturas fatoriais colocadas em competão, quatro fatores correlacionados (modelo
1), quatro fatores independentes (modelo 2) e fator de segunda-ordem (modelo 3), apresentaram
um ajuste pobre para a maioria dos índices. Os únicos que alcançaram um ajustamento aceitável
foram o RMSEA e o χ2/df (ver Tabela 3).
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TABELA3
Índices de Ajustamento para as Estruturas Fatoriais Propostas
Modelo χ2 GFI RMSEA
90%
RMSEA
SRMR CFI χ2/df ECVI
1 925.90*** .78 .07 [.07-.08] .10 .70 2.02 5.33
2 1012.19*** .76 .08 [.07-.08] .13 .65 2.18 5.70
3 1096.17*** .74 .08 [.08-.09] .10 .59 2.37 6.13
Nota. Modelo 1= quatro fatores correlacionados; Modelo 2= quatro fatores independentes; Modelo 3= fator de segunda ordem; χ2 =Teste Qui-qua-
drado de bondade do ajustamento; GFI=Goodness of Fit Index; RMSEA= Root Mean Square Error of Approximation; SRMR= Standardized Root Mean
Square Residual; CFI=Comparative Fit Index; χ2/df=Normed Fit Index; ECVI= Expected Cross-Validation Index; ***p<.001.
Os modelos foram alvo de uma reespecificação, tendo-se eliminado alguns itens que esta-
vam a comprometer a qualidade do ajustamento e estabelecido correlações entre os erros de
medida dos itens do HSQ. No total foram excluídos 15 itens (3, 7, 9, 11, 12, 19, 22, 24, 25, 27, 28, 29,
30, 31 e 32) e criadas correlações entre os erros de medida dos itens 17 e 21, que pertencem ao
humor afiliativo, e entre os itens 10 e 18, que integram o humor autovalorativo. Estas correlações
registaram significância estatística (p<.001) e respeitaram os pressupostos definidos por Marôco
(2021), a criação de correlações entre os erros de medida dos indicadores deve ter suporte teórico.
Após as modificações efetuadas, os três modelos supracitados foram alvo de uma nova aná-
lise. O modelo 1 (quatro fatores correlacionados) respeitou os valores de corte definidos pela
literatura, variando o seu ajustamento entre o aceitável e o bom. Os restantes modelos, 2 (quatro
fatores independentes) e 3 (fator de segunda-ordem), não atingiram um ajustamento de qualidade
para um ou mais índices. Quanto ao índice ECVI, o modelo 1 atingiu o valor mais baixo, logo foi
aquele que apresentou um melhor ajustamento (ver Tabela 4).
TABELA4
Índices de Ajustamento para as Estruturas Fatoriais Reespecificadas
Modelo χ2 GFI RMSEA
90%
RMSEA
SRMR CFI χ2/df ECVI
1 190.73*** .91 .06 [.05-.07] .06 .92 1.72 1.37
2 318.71*** .86 .08 [.07-.10] .15 .81 2.40 1.97
3 219.08*** .89 .07 [.05-.-08] .07 .89 1.92 1.49
Nota. Nota. Modelo 1= quatro fatores correlacionados; Modelo 2= quatro fatores independentes; Modelo 3= fator de segunda ordem; χ2 =Teste Qui-
-quadrado de bondade do ajustamento; GFI=Goodness of Fit Index; RMSEA= Root Mean Square Error of Approximation; SRMR= Standardized Root
Mean Square Residual; CFI=Comparative Fit Index; χ2/df=Normed Fit Index; ECVI= Expected Cross-Validation Index; ***p<.001.
4.3 Avaliação do Modelo de Medida
Na Tabela 5 encontram-se os resultados para a validade fatorial, validade convergente e fide-
lidade. Existe evidência de validade fatorial, uma vez que as cargas fatoriais padronizadas dos
itens foram superiores a .50 (Marôco, 2021). Recorrendo à classificação de Comrey e Lee (1992),
foi possível registar que as cargas fatoriais variaram entre o aceitável e o excelente. No que diz
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respeito à fidelidade, a consistência interna das dimensões do HSQ variou entre .69 e .81, de
acordo com Sharma (1996) estes valores atingiram uma classificação que oscilou entre o ade-
quado e o muito bom. Além da análise de consistência a cada uma das dimensões do HSQ, tam-
bém foi conduzida uma avaliação para a escala global, α=.70 e CR=.92, valores adequado e exce-
lente, respetivamente (Sharma, 1996). Ao nível da validade convergente, foram registados valores
inferiores a .50 (Bagozzi & Yi, 1988; Sharma, 1996) em todas as dimensões, à exceção da dimensão
humor agressivo. O coeficiente AVE é um dos principais ao nível da validade convergente, con-
tudo recentemente surgiram algumas críticas à forma como é utilizado.
TABELA5
Validade Fatorial, Validade Convergente e Fidelidade do HSQ
Dimensões e indicadores do HSQ
Cargas
fatoriais
Alfa e CR AVE
Humor aliativo .77;.76 .40
Item 1a- Geralmente, não me rio muito ou brinco com outras pessoas. .57
Item 5- Não preciso de me esforçar muito para fazer com que as outras pessoas se riam.
Paro uma pessoa naturalmente bem-humorada.
.70
Item 13- Rio e brinco muito com os meus amigos. .73
Item 17a- Normalmente não gosto de contar piadas ou de divertir as pessoas. .50
Item 21- Gosto de fazer com que as pessoas se riam. .61
Humor autovalorativo .81;.80 .40
Item 2- Se me sinto deprimido, normalmente consigo animar-me através do humor. .67
Item 6- Mesmo quando estou sozinho, frequentemente divirto-me com os absurdos da
vida.
.65
Item 10- Se estou chateado ou infeliz, geralmente tento pensar em algo engraçado sobre
a situação para me sentir melhor.
.62
Item 14- . A minha visão bem-humorada da vida impede-me de car muito chateado ou
deprimido com as coisas.
.62
Item 18- Se estou sozinho e me sinto infeliz, faço um esforço para pensar em algo
engraçado para me animar.
.61
Item 26- Da minha experiência, pensar sobre os aspetos divertidos de uma situação é uma
forma ecaz de lidar com os problemas.
.63
Humor agressivo .69;.73 .59
Item 15a- Não gosto quando as pessoas utilizam o humor para criticar ou rebaixar alguém. .58
Item 23a- Nunca me rio ou gozo com os outros, mesmo que todos os meus amigos o
estejam a fazer.
.92
Humor autodepreciativo .72;.73 .40
Item 4- Deixo que as pessoas se riam de mim e que gozem comigo mais do que deveria. .61
Item 8- Frequentemente rebaixo-me, se isso zer com que a minha família ou os meus
amigos se riam.
.62
Item 16a- Não costumo dizer coisas engraçadas para me rebaixar. .55
Item 20- Frequentemente costumo rebaixar-me em demasia, quando estou a fazer piadas
ou a tentar ser engraçado.
.73
Nota. aItens recodificados; Alfa=Coeficiente Alfa de Cronbach; CR=Composite Reliability; AVE=Average Variance Extracted.
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Por fim, foi testada a validade critério das dimensões do HSQ (ver Tabela 6). As quatro dimen-
es deste instrumento correlacionaram-se de forma estatisticamente significativa, à exceção da
dimensão humor agressivo que só se correlacionou de modo significativo com a dimensão humor
autodepreciativo. Algumas das correlações não alcançaram os resultados esperados, tanto ao
nível da significância estatística, como do sinal. Esta situação foi particularmente evidente para
as dimensões de humor negativo. Era expecvel que o humor agressivo se correlacionasse de
forma negativa e estatisticamente significativa com a performance no trabalho, a satisfação no
trabalho, o commitment afetivo e as três dimensões de engagement no trabalho. Por outro lado, era
esperado que o humor autodepreciativo se correlacionasse de modo negativo e estatisticamente
significativo com a satisfação no trabalho, o commitment afetivo, o vigor e a absorção. Nenhuma
destas previsões se verificou. Outros resultados inesperados foram a correlação negativa e esta-
tisticamente significativa entre o humor agressivo e a exaustão emocional (r=-173, p<.05), a corre-
lação negativa e não estatisticamente significativa entre o humor autodepreciativo e a exaustão
emocional (r=-.098, p>.05) e a correlação negativa e sem significância estatística (r=-.055; p>.05)
entre o humor agressivo e o commitment de continuidade (ver Tabela 6).
TABELA6
Validade de Critério do Humor Styles Questionnaire (N=201)
M DP 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12.
1. Humor aliativo
28.11 5.05 (.77)
2. Humor autovalorativo
30.11 6.31 .535** (.81)
3. Humor agressivo
5.80 3.09 -.063 -.006 (.69)
4. Humor autodepreciativo
9.93 4.78 -.173* -.199** .271** (.72)
5. Performance
5.90 .88 .292** .317** -.046 -.278** (.86)
6. Satisfação no trabalho
5.15 1.06 .278** .305** .078 .010 .460** (.90)
7. Commitment afetivo
5.48 1.39 .142* .159* .002 -.041 .349** .590** (.93)
8. Commitment de
continuidade
3.09 1.69 -.228** -.187** -.055 .140* -.252** -.338** -.214** (.91)
9. Vigor
4.49 1.17 .225** .326** .001 -.080 .458** .615** .611** -.409** (.88)
10. Dedicação
4.63 1.27 .303** .391** -.019 -.142* .474** .622** .594** -.343** .873** (.91)
11. Absorção
4.79 1.21 .307** .391** -.094 -.137 .509** .537** .602** -.273** .779** .830** (.88)
12. Exaustão emocional
2.50 .80 -.146* -.265** -.173* -.098 -.268** -.442** -.436** .433** -.599** -.461** -.431** (.84)
Nota. M=média; DP=desvio-padrão; *p<.05; **p<.01; Na diagonal e em parêntesis estão os valores de alfa de Cronbach.
5. Discussão
O humor tem uma vasta história, tendo sido estudado por inúmeros autores (Bhattachar-
ryya et al., 2019; Kuiper et al., 1993). Contudo, somente desde a década de 80 (século XX) é que
este conceito começou a assumir maior relevância, nomeadamente devido aos seus benefí-
cios para a saúde, física e psicológica, e o bem-estar (Mesmer-Magnus et al., 2012). No entanto,
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o desenvolvimento deste constructo sofreurios reveses associados, sobretudo, às diferentes
perspetivas que o conceptualizam (Cooper, 2008; Duarte & Duarte, 2016; Jalalkamali et al., 2016).
Este impasse foi interrompido pelo surgimento do modelo de Martin et al. (2003) e do HSQ. O
modelo congrega quatro estilos de humor, sendo que dois deles (i.e., humor afiliativo e agres-
sivo) estão direcionados para as relações interpessoais e os restantes (i.e., humor autovalorativo
e autodepreciativo) estão associados ao self (Martin et al., 2003). Classificações recentes indica-
ram que estes estilos podem ser positivos/adaptativos (i.e., humor afiliativo e autovalorativo) e
negativos/desadaptativos (i.e., humor agressivo e autodepreciativo) (Caudill & Woodzicka, 2017;
Ford et al., 2017). Este modelo foi transposto para o contexto de trabalho e a evidência empírica
(e.g., Mesmer-Magnus et al., 2012; Torres-Marín et al., 2018; Wang et al., 2018; Yam et al., 2017) tem
demonstrado que o humor apresenta benefícios para trabalhadores, organizações e líderes. Deste
modo, este estudo procurou contribuir para a adaptação e validação de uma medida de humor, o
HSQ, para uma amostra de trabalhadores portugueses. De maneira específica, este estudo testou
a validade fatorial, validade convergente, validade de critério e fidelidade do HSQ.
O modelo que obteve um melhor ajustamento, segundo os valores de corte definidos, era
composto por quatro fatores correlacionados. Isto significa que os estilos de humor do modelo
de Martin et al. (2003) são interdependentes e que uma alteração num deles implica uma modi-
ficação nos restantes. Esta estrutura fatorial é igual àquela que foi obtida no estudo original de
Martin et al. (2003). Não obstante, comparativamente a este estudo, vários indicadores (i.e., itens)
foram removidos porque apresentavam uma carga fatorial padronizada inferior a .50 (Marôco,
2021). Dito de outro modo, esta eliminação foi realizada em situações onde os itens não estavam
suficientemente correlacionados com as dimensões que deveriam avaliar. A classificação das
cargas fatoriais padronizadas dos indicadores que constam do modelo final variou entre o acei-
tável e o excelente. Uma outra limitação a nível psicométrico residiu nos valores de validade con-
vergente, indicador aferido através do coeficiente AVE. Somente para a dimensão humor agres-
sivo se registou um resultado superior ao valor de corte definido pela literatura, .50. Valentini e
Damásio (2016) argumentaram que a AVE apresenta uma limitação quanto ao cálculo da validade
convergente. Trata-se de um coeficiente que não é afetado pelo número de itens constantes de um
modelo, mas que é influenciado pela heterogeneidade das cargas fatoriais. É frequente obterem-
-se resultados de AVE superiores a .50 quando as cargas fatoriais padronizadas são bastante dis-
tintas. No caso das dimensões humor afiliativo, humor autovalorativo e humor autodepreciativo
observaram-se valores homogéneos de cargas fatoriais padronizadas, o que pode ter prejudicado
os resultados da validade convergente. Por último, ao nível da fiabilidade registaram-se valores
maiores do que .70 em todas as dimensões, exceto para o indicador alfa de Cronbach na dimen-
são humor agressivo. Levando em consideração a classificação de Sharma (1996), a consistência
interna variou entre o adequado e o excelente.
Estudos passados que utilizaram o HSQ também reportaram algumas limitações psicomé-
tricas. Heintz e Ruch (2015) indicaram que não foi possível obter evidência de validade conver-
gente para a dimensão humor autodepreciativo. Esta situação também foi verificada num estudo
recente, Heintz (2019) defendeu que o humor autodepreciativo não afere adequadamente este
estilo de humor negativo orientado para o self. Outros autores (e.g., Reff, 2006) salientaram que a
estrutura do HSQ deve ser alterada, dado que não foi possível distinguir entre as duas dimensões
de humor positivo, afiliativo e autovalorativo. Assim, deviam-se considerar somente três estilos
de humor, humor positivo, que integraria o humor autovalorativo e o afiliativo, humor agressivo
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e humor autodepreciativo. O estudo de Ruch e Heintz (2017) enfatizou que a principal fonte de
variância dos quatro estilos de humor de Martin et al. (2003) também deveria merecer atenção.
Somente o humor afiliativo era determinado por situações de humor, ao passo que as dimensões
remanescentes poderiam ser explicadas por situações sem qualquer natureza humorística. Este
aspeto, segundo os autores, pode prejudicar a validade de constructo do HSQ (Ruch & Heintz,
2017). Quanto à fiabilidade, Ruch e Heintz (2016) demonstraram que os valores de consistência
interna para a dimensão humor agressivo são usualmente mais baixos, variando entre .60 e .70,
resultados semelhantes aos registados na presente investigação. As lacunas apontadas a este ins-
trumento têm colocado em causa o modelo criado por Martin et al. (2003), salientando que este
deve ser alvo de um ajustamento à realidade organizacional atual ou que deve existir uma total
reformulação dos estilos de humor (Heintz & Ruch, 2015; Silvia & Rodriguez, 2020).
Relativamente à validade de critério, os resultados obtidos para o humor afiliativo e o humor
autovalorativo, dimensões adaptativas de humor, alcançaram os resultados esperados. Porém,
para as dimensões humor agressivo e humor autodepreciativo houve resultados que ficaram
aquém do perspetivado. Destes, sublinha-se a correlação entre o humor agressivo e o humor
autodepreciativo e a exaustão emocional, e entre o humor agressivo e o humor autodepreciativo
e o commitment de continuidade. A correlação com a exaustão emocional foi negativa e estatis-
ticamente significativa para o humor negativo e negativa sem significância estatística para o
humor autodepreciativo. O esperado seria que surgisse uma correlação positiva, i.e., à medida
que o humor agressivo e o humor autodepreciativo ocorrem mais frequentemente, a exaustão
emocional também aumenta. Esta mesma situação também deveria ser observada para o com-
mitment de continuidade, ou seja, quanto maior a utilização de estilos de humor desadaptativos,
maior a probabilidade de um colaborador abandonar a sua organização. Ruch e Heintz (2017)
alcaaram resultados semelhantes para variáveis ligadas ao bem-estar ocupacional. A justifi-
cação destes autores prendeu-se com os diferentes fatores explicativos do humor. Há estilos, e.g.,
agressivo e autodepreciativo, que são significativamente explicados por situações contextuais,
facto que pode comprometer a validade de critério.
Este estudo apresenta algumas limitações que devem ser consideradas. A primeira diz res-
peito ao tamanho da amostra. Lloret-Segura et al. (2014) indicaram que para a realização de uma
AFC a amostra deve ser composta por, pelo menos, duzentas observações. No presente estudo
obteve-se um valor marginalmente superior, 201. Este facto pode ter comprometido as alises
efetuadas, uma vez que a amostra pode não ter tido a potência estatística necessária para detetar
efeitos estatisticamente significativos quando estes existiam. Por outras palavras, esta situação
potenciou a ocorncia de um erro de tipo II (Barker et al., 2016). Outra limitação reside no facto
de não ter sido conduzida uma análise fatorial exploratória, que poderia ter indicado uma con-
figuração diferente para os itens do HSQ. Por sua vez, a validade discriminante desta medida
também não foi calculada, um aspeto que foi reportado em estudos passados, e.g., Ruch e Heintz
(2017), onde se utilizou o modelo The Big Five. Por último, também não foi observada a estabili-
dade das respostas ao HSQ ao longo de um determinado período de tempo, ou seja, não foi afe-
rida a invariância temporal. Esta situação seria particularmente relevante para compreender se
existem estilos de humor preponderantes em cada sujeito ou se cada estilo é utilizado em função
do contexto em que cada indivíduo está integrado.
Estudos futuros devem procurar recolher uma amostra com maior dimensão, de modo a evi-
tar o erro de tipo II, o que poderá levar à obtenção de resultados mais robustos. Além disso,
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também deve ser conduzida uma alise fatorial exploratória, que pode sugerir uma configura-
ção distinta dos estilos de humor propostos por Martin et al. (2003). Aliás, Heintz e Ruch (2015)
argumentaram que os estilos de humor não são universais, podendo existir diferenças intercul-
turais. Por fim, deve ser testada a validade discriminante e a variação temporal do HSQ.
o obstante as limitações apontadas à medida utilizada, a adaptação e validação deste ins-
trumento para uma amostra de trabalhadores portugueses é fulcral para compreender que out-
comes podem surgir através da utilização de diferentes estilos de humor. Por outro lado, esta
ferramenta também pode ser importante para avaliar os estilos de humor utilizados por colabo-
radores e lideranças, de modo a perceber se eles estão, ou não, a comprometer o funcionamento
e a excelência organizacionais. Ademais, este trabalho pode ser o primeiro passo para o desen-
volvimento de intervenções ligadas ao humor. A literatura (e.g., Mesmer-Magnus et al., 2012; Tor-
res-Marín et al., 2018; Wang et al., 2018; Yam et al., 2017) tem demonstrado que o humor pode
ser benéfico para trabalhadores, líderes e organizações. Ao longo dos últimos anos, a evidência
empírica tem sugerido (e.g., Wellenzohn et al., 2016) que as intervenções em variáveis com um
foco positivo, como o humor, têm efeitos positivos para os sujeitos. No âmbito do humor, o traba-
lho de Proyer et al. (2013), focado na criação de uma intervenção, apontou para o surgimento de
resultados positivos ao nível do bem-estar, mais concretamente na satisfação com a vida.
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