Issue 2 | 1st July – 31st December 2021
Fascículo 2 | 1 de julho – 31 de dezembro 2021
UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA
e-ISSN 2183-4806
FREE | GRATUITO
XVII
VOLUME
UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA
e-ISSN 2183-4806
FREE | GRATUITO
Issue 2 | 1st July – 31st December 2021
Fascículo 2 | 1 de julho – 31 de dezembro 2021
XVII
VOLUME
PSIQUE | Volume XVII | Issue 2 | 1st July – 31st December 2021
Semiannual Publication. Scientic Journal of the Psychology Research Centre – CIP – from the Universidade Autónoma
de Lisboa – Luís de Camões.
PSIQUE is a scientic journal in Psychology published by the Psychology Research Centre of the
Universidade Autónoma de Lisboa.
Since 2005, PSIQUE has been publishing original papers in the scientic eld of Psychology, in its
several elds of specialization, in open access and free of charge.
From 2018, it is a semi-annual journal publication from 1st January to 30th June and from 1st July to
31st December.
Aims and Scope
It is particularly aimed at psychology researchers, lecturers and students but also at general readers
who are interested in this eld of science.
Psique publishes advances in basic or applied psychological research of relevance for understanding
and improving the human condition in the world. Contributions from all elds of psychology addressing
new developments with innovative approaches are encouraged. Articles that (a) integrate perspectives
from dierent areas within psychology; (b) study the roles of physical, social and cultural domains in
human psychological processes; or (c) include psychological perspectives from dierent regions in the
world are particularly welcomed.
The journal publishes papers in Portuguese, Spanish, French and English.
Directory: Repositório Cientíco de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP).
Databases: Repositório Institucional da Universidade Autónoma de Lisboa (Camões).
Indexed by: Academic Search (EBSCO Publishers)
Fuente Academic (EBSCO Publishers).
PSIQUE | Volume XVII | Fascículo 2 | 1 de julho – 31 de dezembro 2021
Publicação semestral. Revista Cientíca do Centro de Investigação em Psicologia – CIP – da Universidade Autónoma
de Lisboa – Luís de Camões.
A Psique é uma revista cientíca em Psicologia, editada pelo Centro de Investigação em Psicologia da
Universidade Autónoma de Lisboa.
Desde 2005 publica artigos originais e comunicações na área cientíca da Psicologia, nos seus vários
domínios de especialização, de acesso livre e gratuito.
É um periódico semestral, a partir de 2018, com data de publicação de 1 de janeiro a 30 de junho e de
1 de julho a 31 de dezembro.
Âmbito e Objetivos
Dirige-se particularmente a investigadores, docentes e estudantes em Psicologia, mas também aos lei-
tores em geral que se interessem pelo conhecimento desta ciência.
A Psique publica avanços na investigação cientíca básica ou aplicada, em Psicologia, com relevância
para compreender e melhorar a condição humana no mundo. A Psique encoraja a submissão de con-
tribuições de todos os campos da Psicologia, produzindo novos desenvolvimentos cientícos, através
de abordagens inovadoras. Particularmente bem-vindos são os artigos que: (a) integram perspetivas de
diferentes áreas da Psicologia; (b) estudam o papel dos domínios físico, social e cultural nos processos
psicológicos humanos; ou (c) integram perspetivas psicológicas de diferentes regiões do mundo.
A revista aceita artigos em Português, Espanhol, Francês e Inglês.
Diretórios: Repositório Cientíco de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP).
Base de Dados: Repositório Institucional da Universidade Autónoma de Lisboa (Camões).
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PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVII • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2021
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e-ISSN: 2183-4806
Title tulo: Psique
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PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVII • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2021
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PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVII • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2021
TABLE OF CONTENTS ÍNDICE
Nota Editorial
Gabriela Gonçalves & Nídia Braz 7
Nota Editorial
José Magalhães & Luisa Ribeiro 8
Cuidadores informais: Principais diculdades ereceiosno ato de cuidar
Informal caregivers: Main diculties and fears intheactofcaring
Cátia Sousa, Gabriela Gonçalves, Nídia Braz & António Sousa 9
Resiliência, Saúde percebida, Bem-estar Subjetivo e Psicológico e Suporte social em Idosos
Institucionalizados e Não-institucionalizados
Resilience, Perceived Health, Subjective and Psychological Well-being and Social Support in
Institutionalized and Non-Institutionalized Elderly
Maria Helena Martins & Sílvia Henriqueto 26
Connamentosanitárioe experiências restauradoras: Estudoexploratórioemidososportugueses
Sanitary connement and restorative experiences: Exploratory study in Portuguese elderly
Jacinta Fernandes, Cátia Sousa & Gabriela Gonçalves 49
A demência ou depressão grave: fatores de risco do estado nutricional em idosos institucionalizados
Dementia or severe depression: nutritional status risk factors in institutionalized elderly
Ana Soa Ferreira Albuquerque, Maria Palma Mateus, Paulo Filipe Henriques Marques Rodrigues Niza,
LúciaFilipa Guerreiro da Rocha &NídiaMaria Dias Azinheira Rebelo Braz 73
Author Instructions
Instruções aos Autores 88
Reviewers instructions
Instruções aos Revisores 92
PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVII • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2021
7
NOTA EDITORIAL
Neste número especial da revista PSIQUE, dedicado a “Viver com mais idade: Qualidade de vida e bem-
-estar”, aborda-se o tema com uma perspetiva alargada, apresentando aos investigadores, docentes e
estudantes de psicologia e aos leitores em geral, leituras e preocupações que, não sendo diretamente do
âmbito da psicologia, são sobre o ser humano, os seus comportamentos e as suas preocupações.
Assim, para a seleção dos artigos, considerámos fundamental o impacto que a PSIQUE pode ter para
públicos com diferentes interesses temáticos, e também a heterogeneidade de temas, essencial para aflo-
rar as tão distintas e variadas dimensões que o envelhecimento assume.
Numa sociedade onde cada vez mais pessoas atingem idades mais avançadas e onde o número de idosos
ocupa uma parte progressivamente maior da população, muitas são as pessoas que necessitam de cuida-
dos, e o primeiro artigo dedica-se às dificuldades e receios de quem cuida, de modo informal, no seio da
família ou da comunidade.
O segundo artigo aborda o suporte social, resiliência e perceção de saúde e bem-estar dos mais velhos,
institucionalizados ou com vida autónoma.
Nesta época de confinamentos recorrentes, apresenta-se um estudo exploratório em idosos portugueses
sobre esta vivência de experiências inesperadas.
E porque a alimentação adequada, garante do equilíbrio nutricional, é essencial para a saúde e bem-estar,
o último artigo analisa os fatores de risco para desequilíbrio nutricional em idosos institucionalizados,
concluindo que se destacam a demência ou a depressão grave.
Muito mais fica por dizer, agradecemos à PSIQUE e aos presentes autores terem contribuído para iniciar
esta abordagem tão necessária e atual.
Gabriela Gonçalves
Nídia Braz
PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVII • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2021
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PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVII • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2021
NOTA EDITORIAL
Esta edição temática da revista PSIQUE pretendeu responder à preocupação permanente de diversificar
as linhas de investigação no sentido de corresponder por um lado, às expectativas e necessidades dos
leitores e por outro ao reforço da imagem e notoriedade da publicação.
De realçar que os artigos publicados foram avaliados, submetidos para revisão, analisados e ratificados
com base em critérios científicos suportados na lógica da interdisciplinaridade e do interesse psicológico
transversal.
A importância dos temas abordados vai ao encontro dos principais objetivos de uma publicação que pre-
tende ser contributiva para os leitores interessados na abordagem das ciências sociais sejam professores,
investigadores ou alunos e, que procura, igualmente, estimular a investigação e a submissão de trabalhos.
Num contexto social e económico desafiante para todos, como estes dois anos têm sido, o cuidado para
com os mais frágeis, como é o caso dos idosos, tornou-se ainda mais pertinente. Mais do que nunca, o
conhecimento científico atualizado na área da Psicologia é essencial para informar, sensibilizar e desen-
volver boas práticas que permitam melhorar a saúde psicológica deste grupo, bem como dos seus cuida-
dores. Acreditamos dar aqui um contributo.
Em mais um ano, particularmente severo e limitativo devido à pandemia da COVID-19, importa sublinhar
o empenho de toda a equipa com particular enfoque na coordenação desta edão temática. Foi neces-
sário um empenho redobrado e direcionado que envolveu autores, revisores e editores para o sucesso da
concretização da edição.
José Magalhães & Luisa Ribeiro
(Co-editores)
9
CUIDADORES INFORMAIS: PRINCIPAIS DIFICULDADES
ERECEIOSNO ATO DE CUIDAR
INFORMAL CAREGIVERS: MAIN DIFFICULTIES AND FEARS
INTHEACTOFCARING
tia Sousa1, 2, Gabriela Gonçalves1, 2, Nídia Braz1, & António Sousa1
PSIQUE • EISSN 21834806 • VOLUME XVII • ISSUE FASCÍCULO 2
1ST JULY JULHO  31ST DECEMBER DEZEMBRO 2021 PP. 925
DOI: https://doi.org/10.26619/2183-4806.XVII.2.1
Submitted on 2.01.21 Submetido a 2.01.21
Accepted on 17.03.21 Aceite a 17.03.21
Resumo
O aumento da esperança média de vida, a prevalência de doenças crónicas e a falta de serviços
e infraestruturas de apoio à saúde, têm conduzido à necessidade cada vez mais premente de cuida-
dores informais. A prestação de cuidados informais afeta a vida dos cuidadores, pelo que determi-
nar as suas principais dificuldades pode melhorar tanto a qualidade de vida dos cuidadores quanto
das pessoas cuidadas. Este estudo qualitativo de tipo fenomenológico, objetiva explorar as princi-
pais dificuldades que o cuidador informal sente na tarefa de cuidar, o receio e o tipo de acidentes.
Um total de 19 cuidadores informais (15 mulheres e 4 homens), com idades entre os 27 e os 81 anos,
foram entrevistados com base num guião semiestruturado. Os resultados permitem observar que a
maioria dos acidentes se relaciona com quedas no manuseamento da pessoa. Em termos de dificul-
dades sentidas pelos cuidadores, estes relataram dificuldades nos cuidados com a pessoa, em par-
ticular, associadas à falta de informação e de apoio. Os participantes referem ainda sentir falta de
tempo para as suas atividades pessoais. Este estudo permitiu uma melhor compreensão de alguns
dos problemas e dificuldades que os cuidadores informais enfrentam na atividade de cuidar.
Palavras-chave: cuidadores informais; acidentes; dificuldades; investigação qualitativa
Abstract
The increase in average life expectancy, the prevalence of chronic diseases and the lack of
health support services and infrastructures, have led to an increasingly urgent need for informal
caregivers. The provision of informal care affects the lives of caregivers, so determining their main
difficulties can improve both the quality of life of caregivers and those cared for. This qualitative
study of a phenomenological type aims to explore the main difficulties that the informal caregiver
1 Universidade do Algarve, Faro, Portugal
2 Centro de Investigação em Psicologia (CIP/UAL)
10
PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVII • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2021 pp. 9-25
Cátia Sousa, Gabriela Gonçalves, Nídia Braz, António Sousa
feels in the task of caring, the fear and the type of accidents. A total of 19 informal caregivers
(15 women and 4 men), aged between 27 and 81 years old, were interviewed, based on a semi-
structured script. The results allow us to observe that most accidents are related to falls in the
handling of the person. In terms of difficulties experienced by caregivers, they reported difficulties
in caring for the person associated with a lack of information and support. Participants also report
feeling lack of time for their personal activities. This study allowed a better understanding of some
of the problems and difficulties that informal caregivers face in the care activity.
Keywords: informal caregivers; accidents; difficulties; qualitative research
1. Introdução
Os especialistas estimam que em 2030 o número de cuidadores chegará a 21.5 milhões e que
estes cuidarão dos doentes ou fornecerão cuidados por, pelo menos, 20 horas por semana (Natio-
nal Alliance for Caregiving & AARP, 2015). As estimativas do número de cuidadores informais
variam de 10% a 25% da população total da Europa (Verbakel et al., 2017). Em Portugal, perto de
1.4 miles de pessoas são cuidadores informais: aqueles que eram cuidadores ocasionais deixa-
ram de o ser e passaram a ser cuidadores a tempo inteiro, facto este impulsionado pela pandemia
COVID-19 e pelo fecho das respostas sociais após o confinamento (Agência Lusa, 2020). De acordo
com Sun et al. (2021) para muitas pessoas, o cuidado informal é uma ocupação a tempo inteiro.
O aumento das doenças crónicas e da esperança média de vida, gerou um aumento da procura
por cuidados de saúde, e a necessidade de cuidadores informais tem vindo a aumentar (Aksoy-
dan et al., 2019). Segundo o INE, o índice de envelhecimento cresceu de 161.3 idosos por cada 100
jovens em 2019, para 165.1 em 2020. O grupo etário com 65 e mais anos, que em 2010 represen-
tava 18.5% da população total, em 2020 representa 22.3% (PORDATA, 2021). De acordo com o
Ageing Europe 2019 (Eurostat, 2019) Portugal será o país mais envelhecido da União Europeia em
2050, ou seja, em três décadas, 35.1% da população terá 55 anos ou mais. Oenvelhecimento e o
aumento de doenças crónicas são processos que trazem consigo um conjunto de modificações psi-
cológicas, sicas, emocionais, cognitivas, sociológicas, económicas e interpessoais, que por vezes
exigem a presença de alguém que cuide, um cuidador (Manuel et al., 2020; Pinto & Róseo, 2014).
O cuidado está presente em toda a nossa existência, cuidamos, somos cuidados e zelamos
pelo cuidado do outro (Fragoso, 2006). O cuidado pode ser definido como o fornecimento do que
é necessário para a saúde, bem-estar, manutenção e proteção de alguém ou algo (Cambridge
University Press, 2019) e pode ser dividido em cuidado formal ou informal (Albin et al., 2011).
O cuidador formal é aquele que assume livremente as funções de cuidador, para as quais teve
preparação acamica e profissional, e que aufere uma remuneração pelo seu trabalho (Areosa
et al., 2014; Vieira et al., 2011). A Lei n.º 100/2019, que reconhece o estatuto de cuidador informal,
considera que o cuidador principal é o cônjuge, unido de facto ou parente afim aao 4.º grau da
pessoa cuidada, que acompanha e cuida de forma permanente, que com ela vive em comunhão
de habitação e que não aufere qualquer remuneração de atividade profissional ou pelos cuidados
que presta à pessoa.(Serviço Nacional de Saúde, 2019). Apesar de grande parte dos cuidados a
dependentes ser assegurado por cuidadores informais, na sua maioria familiares próximos tais
como esposas e filhas/noras (Grunfeld et al., 1997; Karsch, 2003), os cuidadores informais podem
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Cuidadores informais: Principais dificuldades ereceiosno ato de cuidar
ser amigos, conhecidos e/ou vizinhos, que prestam cuidados não remunerados a um indivíduo
(Adelman et al., 2014; Oliveira et al., 2007). São pessoas que desempenham um papel fundamental
na enfermagem de tais pacientes com doenças crónicas, especialmente os idosos. Esta situação
constitui um desafio que exige que os cuidadores informais prestem assistência direta nas ativi-
dades drias dos pacientes, administração de medicamentos, transporte, confeção de comida,
cuidados com a saúde e suporte emocional (Shebl & Abd Elhameed, 2014; Silva etal.,2013).
O inquérito realizado a 1133 cuidadores informais pelo Movimento Cuidar dos Cuidadores
Informais (MCCI, 2021) em Portugal, mostra que a maioria cuida dos seus pais (51.4%), seguidos
daqueles que cuidam dos cônjuges (18%) e dos filhos (12.7%). Muitos dos cuidadores informais
carecem de uma formação adequada, o que aumenta os riscos de sobrecarga emocional, sica,
social e financeira, sobretudo porque ter a cargo uma pessoa dependente exige cuidados espe-
ciais, com acentuada variação de tarefas (Mendes et al., 2019). Am disso, no exercício de dife-
rentes papéis, os cuidadores informais sentem uma diminuão do tempo para as suas relações
interpessoais, frustração por não conseguir colocar em prática os seus próprios projetos de vida,
e solidão (Stackfleth et al., 2012). Aliás, o estudo do MCCI (2021), constatou que 38.8% dos cui-
dadores informais relata a perda de tempo para si próprio e para a sua família e cerca de 90.5%
gostaria de ter mais tempo para voltar às suas rotinas antes de ser cuidador.
Para além da alteração nos hábitos de vida pessoal e familiar, alguns estudos têm observado
igualmente que os cuidadores têm necessidades físicas, psicológicas e sociais (Lopez-Hartmann et
al., 2012; Rodger et al., 2015), sentem necessidade de informação, formação, suporte profissional,
jurídico, financeiro e até de adquirir competências comunicacionais (Akgun-Citak et al., 2020; Silva
et al., 2013). Neste sentido a formão, além de ajudar os cuidadores, dando-lhes maior confiaa
nas tarefas de cuidar, diminuindo a ansiedade e a frustração, poderia contribuir para a redução
dos custos com os cuidados de saúde e para a melhoria da qualidade de vida dos cuidadores e de
quem é cuidado (Akgun-Citak et al., 2020; Aksoydan et al., 2019). Contudo, verifica-se ainda uma
lacuna na prestação de formação aos cuidadores informais, formação esta necessária para que
desempenhem as suas funções eficazmente e com conhecimento de como se deve fazer determi-
nada tarefa, como por exemplo, tratar feridas ou administrar medicamentos (Manueletal., 2020).
O papel dos cuidadores informais está a tornar-se uma questão marcante ao nível político,
sociogico e económico (Akgun-Citak et al., 2020; Van Durme et al.,2012). O Estatuto do Cuida-
dor Informal, aprovado pela Lei n.º 100/2019, de 6 de setembro, visa reconhecer o papel funda-
mental do cuidador informal no desempenho e manutenção do bem-estar da pessoa cuidada,
bem como o direito a ser acompanhado e receber formação para o desenvolvimento das suas
capacidades e aquisição de competências para a prestação adequada dos cuidados de saúde à
pessoa cuidada. Reforça ainda a prestação de apoio psicológico dos serviços de saúde, sempre
que necessário, e mesmo após a morte da pessoa cuidada, bem como a garantia de períodos de
descanso que visem o seu bem-estar e equilíbrio emocional e a conciliação da vida profissional
com a prestação de cuidados. Este estatuto assume-se assim como um marco social importante,
reforçando a relevância cada vez maior dos cuidadores informais.
Contudo, o estudo realizado pelo MCCI (2021), revela que apenas 40.9% dos cuidadores
conhece o estatuto e que cerca de 81.3% considera que os apoios são insuficientes. O mesmo
estudo revela que as principais dificuldades e desafios associados ao papel de cuidador informal
se prendem com o apoio emocional e psicológico e com outros recursos humanos (64.6%), apoios
sociais (apoios do estado/associações/estatuto do cuidador) e dificuldades laborais (59.1%) e cerca
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Cátia Sousa, Gabriela Gonçalves, Nídia Braz, António Sousa
de 51.8% refere dificuldades financeiras e falta de formação e capacitação do cuidador informal,
nomeadamente no que respeita aos cuidados a ter no tratamento e manuseamento do doente
(35.6%), formação adequada à patologia: tratamento, evolução e terapias (23.2%), formação para
lidar com questões emocionais mentais e psicológicas (22.6%), informação sobre cuidados em
geral (15.5%) e estimulação cognitiva (3.1%).
Assim, é possível observar que apesar dos esforços do Estado para a inclusão dos cuidadores
informais, há ainda um longo caminho a percorrer, sendo necessário repensar as políticas sociais
e o papel que desempenham junto dos cuidadores informais, nomeadamente o reconhecimento
do cuidador informal como um elemento fundamental na prestação de cuidados. Muitas vezes o
cuidador informal desempenha o seu papel sozinho, sem qualquer ajuda, o que pode conduzir ao
cansaço e exaustão (Zarit, 1997). Vários estudos m mostrado que os cuidadores informais apre-
sentam baixa qualidade de vida, depressão, stresse, esgotamento e doenças físicas, o que pode
ser uma consequência de um suporte insuficiente e necessidades não atendidas (Tatangelo et al.,
2018). Am disso, os cuidadores sentem que o seu papel como cônjuge, filho(a) ou irmão(a) é alte-
rado, passando a ser vistos apenas como cuidadores (Akgun-Citak et al., 2020; Rodger et al., 2015).
Para além das dificuldades e problemas associados à tarefa de cuidar, a falta de formão
reportada na literatura é suscetível de aumentar a ocorrência de acidentes e/ou situações de
perigo. Face a esta problemática, este estudo de carácter qualitativo, tem como objetivos identifi-
car a ocorrência de acidentes no ato de cuidar, os principais receios de acidentes, assim como as
principais dificuldades que o cuidador informal sente na tarefa de cuidar. A identificação destes
receios e destas situações permiti conhecer melhor a realidade que os cuidadores informais
vivem diariamente, contribuindo não para o enriquecimento da temática da área, mas tam-
bém para o possível reforço dos apoios e serviços disponibilizados a estas pessoas e, em última
análise, visando a melhoria dos cuidados informais prestados à pessoa cuidada e o aumento do
nível de bem-estar dos cuidadores.
2. Metodologia
2.1. Amostra
Na tabela 1 é possível observar a caracterização sociodemográfica dos participantes, carac-
testicas das pessoas cuidadas e da atividade de cuidar. A amostra, é composta por 19 cuidado-
res informais, sendo na sua maioria do género feminino (n = 14), com idades entre os 27 e os 81
anos (M = 55.37; DP = 13.25). Estes participantes exercem o papel de cuidadores há pelo menos 4
meses, sendo que o participante que é cuidador há mais tempo, exerce este papel há pelo menos
144 meses (12 anos). Em relação ao grau de parentesco, a maioria das pessoas são filhas (n = 9)
ou cônjuges (n = 7) da pessoa cuidada. No que concerne ao tempo despendido no cuidado, este é
também variável, entre 1 hora diária e as 24 horas. Relativamente às pessoas cuidadas, as idades
variam entre 55 e 89 anos (M = 72.95 e DP = 11.99), 13 são do género feminino (M = 73.77 e DP =
12.58) e 7 são do género masculino (M = 71.43 e DP = 11.59). Os problemas de saúde mais indica-
dos são a demência, tumores e hipertensão (6 pessoas), seguido dos problemas músculo-esquelé-
ticos e visuais (5 pessoas) e 9 pessoas são indicadas como tendo vários problemas de saúde.
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Cuidadores informais: Principais dificuldades ereceiosno ato de cuidar
TABELA1.
Características sociodemográficas dos participantes (cuidadores) e dados relativos às pessoas cuidadas
Cuidador Género Idade Habilitações
Académicas
Situação
Prossional
Grau de
parentesco com a
pessoa cuidada
Idade
(género)
da pessoa
cuidada
Cuidador
(meses)
Tempo diário
despendido no
cuidado
Problema de
saúde
C1 F 61 Ens. Superior Trab. conta
outrem Cônjuge 60 (M) 60 8h Demência
C2 F 50 9º ano Trab. conta
outrem Filha 81 (F) 60 4h
Diabetes,
tumores, músculo-
esqueléticas,
visuais
C3 F 53 9º ano Trab. conta
outrem Filha 81 (F) 60 6h
Diabetes,
tumores, músculo-
esqueléticas,
visuais
C4 F 57 12º ano Desempregada Filha 89 (F) 120 24h Demência
C5 F 43 9º ano Desempregada Filha 69 (M) 72 2h
Hipertensão,
cardiovasculares,
diabetes,
demência, visuais,
amputação de
dedos dos pés,
C6 M 63 9 ºano Reformado Cônjuge 62 (F) 4 24h Hipertensão,
tumores
C7 F 69 Ens. Superior Reformada Cônjuge 80 (M) 60 6h Tumores
C8 F 70 9º ano Reformada Filha 89 (F) 132 12h Cardiovasculares
C9 F 47 12º ano Trab. conta
outrem Cônjuge 57 (M) 30 2h Esclerosa múltipla
C10 F 27 Ens. Superior Trab. conta
outrem Neta 84 (F) 48 15h Hipertensão,
demência
C11 F 29 Ens. Superior Trab. conta
outrem Filha 65 (M) 48 1h Bipolaridade
C12 F 53 12º ano Trab. Conta
outrem Filha 79 (F) + 86
(M) 24 1h
Hipertensão,
músculo-
esqueléticas,
depressão,
demência
C13 M 69 9º ano Reformado Cônjuge 68 (F) 144 3h Doença de
Huntington
C14 F 57 9º ano Desempregada Filha 83 (M) 36 6h
Hipertensão,
cardiovasculares,
diabetes,
músculo-
esqueléticas,
visuais Parkinson
C15 F 60 Ens. Superior Trab. conta
outrem Filha 82 (F) 24 2h
Hipertensão,
músculo-
esqueléticas
C16 F 51 Ens. Superior Trab. conta
outrem Irmã 55 (F) 4 2h Tumores
C17 M 53 Ens. Superior Trab. conta
outrem Cunhada 55 (F) 4 2h Tumores
C18 M 81 9º ano Reformado Cônjuge 76 (F) 20 24h Cardiovasculares
C19 M 59 9º ano Desempregado Cônjuge 58 (F) 36 24 h Demência, visuais
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2.2. Instrumento
As entrevistas semiestruturadas foram conduzidas de acordo com um guião construído em
função das questões que pretendíamos explorar. O guião foi previamente aplicado a dois cuida-
dores (não incluídos na amostra) para melhor aferir a eficácia na captação da informação pre-
tendida. O guião é composto por dois grupos de questões. O primeiro grupo é composto por
três questões relativas a acidentes e situações de perigo: a) número de acidentes ou situações de
perigo vivenciadas nos últimos 12 meses durante o ato de cuidar; b) descrição do(s) acidente(s) e
c) o maior receio de acidente ao cuidar pessoa. O segundo grupo apresenta uma questão relativa
às principais dificuldades/problemas sentidos na tarefa de cuidar. Foi ainda contemplada uma
questão referente ao grau de dificuldade sentida em arranjar tempo para as atividades pessoais,
operacionalizada numa escala crescente tipo Likert de 1 (Nada difícil) a 6 (Extremamente difícil).
Para uma melhor caracterização da amostra foram também acrescentados itens relativos a
características biogficas (idade, habilitações literárias, situação profissional, grau de paren-
tesco com a pessoa cuidada, há quanto tempo é cuidador, tempo despendido no cuidado à pes-
soa, bem como alguns dados sobre a pessoa cuidada).
2.3. Procedimentos
Antes da realização do estudo, este foi aprovado pela Comissão de Ética do Centro de Inves-
tigação em Psicologia.
De forma a identificar o tipo de acidentes mais frequentes na atividade de cuidar e os maio-
res receios e dificuldades dos cuidadores, foram entrevistados 19 participantes de acordo com
um guião semi-estruturado. A amostra foi recolhida por conveniência e bola de neve e, como cri-
tério de inclusão, considerou-se o facto de ser cuidador, independentemente do género, da idade,
da relação entre cuidador e pessoa cuidada e do tipo de doença da pessoa cuidada.
Foi feito um primeiro contacto pelos autores com o objetivo de definir local para a entrevista
e dia e hora de acordo com a disponibilidade dos entrevistados. As entrevistas foram realizadas
por um dos autores no local de trabalho ou em casa dos entrevistados de forma presencial e indi-
vidual. Foi assegurada a liberdade de participação ou interrupção e o consentimento informado
(resultados para uso científico e divulgação em journal científico da especialidade), bem como o
sigilo e o anonimato das respostas. O anonimato das respostas, além de permitir a manutenção
de pades éticos e proteger os respondentes de possíveis danos, aumenta a confiança dos par-
ticipantes e como tal a integridade do processo de pesquisa (Baez, 2002). o foi estabelecido
tempo limite, foi aplicado o princípio da saturação, a entrevista terminava quando o participante
deixava de fornecer novas informações. As entrevistas foram realizadas durante os meses de
setembro e outubro de 2020. O ponto de saturação (i.e., quando nenhuma nova informação é
observada) foi alcançado no participante 19 (e.g., Lofland & Lofland, 1995). Os participantes não
receberam qualquer comparticipação financeira pela participação.
2.4. Alise de dados
A análise qualitativa das entrevistas foi realizada com recurso à metodologia de análise de
conteúdo (e.g., Bardin, 1997; Hsieh & Shannon, 2005; Moraes, 1999; Stemler, 2001) que consiste na
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definição de categorias de análise em três etapas: pré-análise, formação de categorias e discus-
são dos dados (Bardin, 1997).
Na primeira etapa, pré-análise, procedeu-se à leitura exaustiva das entrevistas.
Na segunda etapa, formação de categorias, as respostas às questões foram objeto de a-
lise temática de conteúdos (Boyatzis, 1998; Braun & Clarke, 2006), permitindo a identificação de
padrões e facilitando a interpretação dos dados. A análise de conteúdo e a codificação da infor-
mação foi realizada com base nos princípios de codificação de Saldanha (2009). A definição das
unidades do discurso obedeceu ao critério temático e os temas emergentes foram identificados e
organizados por categorias (Boyatzis, 1998).
Na última e terceira etapa, discussão dos dados, procedeu-se à interpretação do conteúdo das
entrevistas e à discussão dos dados.
As três etapas foram realizadas por dois dos autores e as categorias emergentes foram valida-
das por quatro juízes (membros da equipa de investigação).
3. Resultados
Acidentes e situações de perigo
Para identificar as situações de acidente e/ou perigo, foram colocadas as seguintes ques-
tões: “Quantas vezes se viu envolvido(a) em situações de perigo/acidente nos últimos 12 meses,
durante o ato de cuidar?; “Fale um pouco sobre esse(s) acidente(s); e “Qual o maior receio de
acidente ao cuidar da pessoa?.
Relativamente ao mero de acidentes ou situações de perigo, embora alguns tenham indi-
cado que ainda não ocorreram situações perigosas (n = 10), quem reporte acidentes ou situa-
ções de perigo muitas vezes ou todos os dias (n = 3, Cuidadores: C1, C7 e C6). O cuidador C17 em
4meses como cuidador relata seis acidentes, seguindo-se aqueles que vivenciaram três acidentes
(n=3, Cuidadores: C4, C8 e C15), o cuidador C12 indicou duas ocorrências e o cuidador C5 referiu
um acidente.
Na tabela 2 podemos observar um surio das categorias identificadas, relativamente às
características dos acidentes e aos principais receios dos cuidadores sobre a ocorrência de aci-
dentes.
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TABELA2.
Principais categorias de análise, unidades de contexto e respetivos cuidadores
Questões Categoria Unidades de contexto Cuidador informal
Acidentes e situações
de perigo
Quedas “Passagem da cadeira de rodas para a sanita” C4, C6, C12, C15, C17
Engasgos
“Engasgos devido à paralisia do lado direito. Tenho
diculdade em fazer o meu marido tossir para
expelir a comida”
C7
Agressões verbais “Revolta por parte da pessoa, referindo que me
matava” C5
Condução perigosa “Comportamentos de grande risco, como condução
sobre o efeito de medicamentos e álcool” C1
Receios
Quedas “Quedas graves” C4, C6, C10, C13, C14, C15,
C18
Morrer “Que morra” C8
Magoar-se a si
próprio/Suicídio “Suicídio” C1, C11
Engasgar-se “Engasgos” C7
Agressões aos outros “Receio que ele se torne novamente agressivo” C5, C11
Desgraça e limitação
de recursos pessoais
para ajudar (e.g.,
tempo, técnica, física)
“…impotência para ajudar” C8, C10, C12, C17, C19
Nota: O cuidador E8, indicou a ocorrência de 3 acidentes, mas não referiu o tipo de acidentes
Conforme se pode observar na Tabela 2, dos oito cuidadores que relatam acidentes, cinco
referem, sobretudo, quedas na transferência da pessoa cuidada, quer seja da cadeira para a
cama, para a sanita ou no banho, quer seja na movimentação na cama, na mudança de fraldas,
higienização ou mudança de roupa.
Quando preciso de mudar a fralda, ao rolá-la na cama... já ia caindo da cama várias vezes...
Quando tento colocá-la na cadeira de rodas ou desta para a cama é sempre muito difícil e há
a possibilidade de a deixar cair... talvez 80% a 90% das vezes é mesmo difícil.(C6, mascu-
lino, 63 anos, reformado)
Uma das cuidadoras informais reportou também acidentes relacionados com engasgamento:
“Engasgos devido à paralisia do lado direito. Tenho dificuldade em fazer o meu marido tossir para
expelir a comida. (C7, feminino, 69 anos, reformada)
Outras situações de perigo reportadas relacionam-se com comportamentos de agressividade:
Comportamentos de grande risco, como condução sobre o efeito de medicamentos e álcool (C1,
feminino, 61 anos, empregada). “Revolta por parte da pessoa cuidada, referindo que me matava<