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CONFINAMENTOSANITÁRIOE EXPERIÊNCIAS RESTAURADORAS:
ESTUDOEXPLORATÓRIOEMIDOSOSPORTUGUESES
SANITARY CONFINEMENT AND RESTORATIVE EXPERIENCES:
EXPLORATORY STUDY IN PORTUGUESE ELDERLY
Jacinta Fernandes1, Cátia Sousa1,2 & Gabriela Gonçalves1,2
PSIQUE • EISSN 21834806 • VOLUME XVII • ISSUE FASCÍCULO 2
1ST JULY JULHO  31ST DECEMBER DEZEMBRO 2021 PP. 4972
DOI: https://doi.org/10.26619/2183-4806.XVII.2.3.
Submited on 04.12.20 Submetido a 04.12.20
Accept on 20.02.21 Aceite a 20.02.21
Resumo
Até 2020, o confinamento tinha sido uma realidade não vivenciada pela generalidade das pes-
soas. Como lidaram emocionalmente as pessoas com o confinamento pandémico associado à COVID-
19, de forma a experienciar emoções positivas e, consequentemente, a manter a sua saúde mental?
Neste estudo descritivo pretendeu-se explorar qual o contributo de diferentes atividades drias,
particularmente de atividades de contacto com ambientes restauradores e de experiências restau-
radoras, para o bem-estar de indivíduos sénior confinados em Portugal devido à pandemia COVID-
19.Analisaram-se os conteúdos dos diários de quatro portugueses maiores de 60 anos (MIdade= 69
anos), realizados durante seis dias do primeiro confinamento sanitário associado à COVID-19 em
Portugal. Foram reportadas predominantemente emoções positivas associadas às atividades coti-
dianas, constituindo as atividades ocupacionais a parcela dominante. Atividades arstico-culturais,
contactos sociais e atividades de contacto com a natureza apareceram predominantemente asso-
ciadas a emoções positivas e as atividades relacionadas com o (tele)trabalho e tarefas domésticas
tendencialmente associados a emoções negativas. As notícias foram responsáveis por grande parte
das emoções negativas. Um dos tipos de atividades diárias considerada como a mais agradável e
escolhida como estratégia consciente para lidar com as maiores dificuldades cotidianas, o contacto
com a natureza, mostrou ter um elevado potencial restaurador do bem-estar percebido. Apesar
da amostra reduzida, os resultados evidenciaram o potencial das experiências que decorrem em
ambientes de proximidade com a natureza na regulação emocional ou restauração do bem-estar psi-
cológico, e também na restauração da capacidade de atenção, em tempos de confinamento sanitário.
Palavras-chave: confinamento; pandemia COVID-19; portugueses seniores; ambiente restaura-
dor;experiênciarestauradora.
1 Universidade do Algarve, Faro, Portugal
2 Centro de Investigação em Psicologia (CIP/UAL)
Financiamento: Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia,
I.P., no âmbito do projeto CIP/UAL – Refª UID/PSI/04345/2020
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Jacinta Fernandes, Cátia Sousa & Gabriela Goalves
Abstract
Confinement has been a condition not already experienced by most of the people until 2020.
How had people emotionally coped with the COVID-19 pandemic confinement to experience
positive emotions and, therefore, to keep their mental health? In this descriptive study it was
intended to explore how daily activities, in particular contact with restorative environments and
restorative experiences, contributed to the well-being of senior individuals confined in Portugal
due to the COVID-19 pandemic. The contents of the diaries of four Portuguese people over 60
years of age (Mage = 69 years) were analyzed during six days of the first sanitary confinement
associated with COVID-19 in Portugal. Participants predominantly reported positive emotions
associated with their daily activities, in which occupational activities constituted the domi-
nant portion. Artistic-cultural activities, social contacts, and activities in contact with nature,
appeared predominantly associated with positive emotions. Activities related to (tele)work and
domestic tasks tend to be associated with negative emotions, with news being responsible for a
large part of the negative emotions reported. Contact with nature activities were being one of
the types of daily activities often considered by participants the most pleasant, and even chosen
as a conscious strategy to deal with daily difficulties. In spite of the small sample size, results
evidenced the emotional regulator/restorative potential of the psychological well-being of expe-
riences that take place in nature related environments during periods of sanitary confinement,
and also their effect in restoring the capacity for attention.
Keywords: confinement; COVID-19 pandemic; Portuguese senior; restorative environments;restora-
tive experiences.
Introdução
As restrições à mobilidade, distanciamento social e medidas de confinamento associadas
à pandemia COVID-19 alteraram a vida cotidiana das pessoas. Muitos viram a sua vida social
reduzida e limitada às pessoas com as quais coabitam (e.g.,Rodriguez-Reyetal., 2020); o período
de confinamento conduziu a um aumento da solidão e de atividades sedentárias (e.g., López-
-Buenoetal., 2020). Vários estudos referem-se a outros efeitos associados ao confinamento pan-
démico, tais como alterações de humor e da saúde mental, aumento do tédio, frustração (e.g.,
Flemingetal., 2020; Wangetal., 2020) e medo (Bitanetal., 2020), a aumentos da ansiedade, preo-
cupações financeiras e solidão, mas também no suporte social percebido (Tull et al., 2020), e a
efeitos sobre os níveis de stresse, embora varveis de país para país, de acordo com o tipo de
medidas oficiais adotadas (Brookset al., 2020).
Embora esta crise de saúde seja global e transversal a todos os grupos etários, a idade
foi desde cedo considerada como o fator que representa maior risco de mortalidade associada
à doença: idade igual ou superior a 60 anos, especialmente em comorbilidade com doenças
crónicas cardiovasculares e do aparelho respirario (Caramelo et al., 2020). Ora, se a perda
quantitativa nas relações sociais é comum em pessoas idosas (e.g., Officeetal., 2020), e se na
população sénior, cujos índices de isolamento social e solidão são, em situação de não pande-
mia, elevados (e.g., Courtin & Knapp, 2015; Fässberg et al., 2012; Leigh-Hunt et al., 2017), nesta
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situação pandémica e de confinamento, esse isolamento inevitavelmente aumentou. Deacordo
com Santini e colegas (2020), várias características associadas ao isolamento social, como a
desconexão social, aumentam o risco de isolamento social percebido, conduzem a sintomas de
ansiedade, depressão e stresse, sobretudo em idosos. Assim, e a par dos problemas de saúde
física, a COVID-19 trouxe consigo outras adversidades a este grupo de indivíduos. Os riscos
de contágio associados e as medidas restritivas impostas, especialmente a distância social e
o confinamento em casa, vieram a constituir-se como fatores de stresse adicionais, e nunca
antes vivenciados para a maioria das pessoas, mas com especial relevo para os de idade mais
avançada.
A vida em confinamento está associada ao isolamento total ou parcial do mundo exterior, e,
portanto, à redução substancial dos contactos sociais e dos afetos, bem como à impossibilidade
do contacto ou proximidade com a natureza. Locais como prisões, submarinos, bunkers milita-
res, estações científicas polares ou estações espaciais, podem ser classificados como ambientes
confinados. O estudo de ambientes confinados e da vida em ambientes confinados, apesar de ser
uma área pouco explorada até agora, evidencia que, quando as pessoas se vêm forçadas a viver
e permanecer durante algum tempo em locais confinados, estão sujeitas a fatores de stresse que
potencialmente afetam o seu bem-estar (Beldade, 2015; Krins, 2009). Por exemplo, um estudo de
Brasher e colegas (2010) revelou cronicidade de stresse em trabalhadores de submarinos, rela-
tivamente aos de navios. Em contrapartida, um largo conjunto de estudos tem vindo a mostrar
que a interação com ambientes naturais e espaços verdes está associada a um vasto conjunto de
benefícios para a saúde, contribuindo positivamente para o bem-estar,sico e mental. A intera-
ção com espaços naturais ou naturalizados, ou a mera exposição a estes, melhora o funciona-
mento cognitivo e emocional, reduz o stresse e facilita a recuperação física e mental da doença
(e.g., Bird, 2007; Bratman et al. 2015; Chen et al., 2018; Hartig et al., 2003; Hartig et al. 2014; Hel-
bich et al., 2018; Yu et al., 2020).
Tais capacidades atribuídas aos cenários (settings) naturais são explicadas por duas teorias
a Teoria da Restauração da Atenção (ART, Kaplan & Kaplan, 1989) e Teoria da Recuperação ao
Stresse (SRT, Ulrich et al., 1991). A ART explica como os ambientes naturais captam a atenção
involuntária, facilitando a recuperação da fadiga mental (Hartig et al., 2014), dos recursos aten-
cionais e das capacidades cognitivas (e.g., Berto, 2014; Kaplan & Kaplan, 1989). A SRT sugere que
configurações naturais não ameaçadoras são evolutivamente preferidas. De acordo com Ulrich
(1983, 1991), a preferência estética por ambientes naturais impulsiona os benefícios afetivo-emo-
cionais e também os cognitivos. Ambientes visualmente prazerosos promovem a atenção invo-
luntária, mais automática e esponnea e menos exigente em termos cognitivos do que a atenção
voluntária, e, em consequência, promovem o afeto positivo e diminuem a excitação fisiológica,
facilitando a recuperação do stresse e fadiga mental (e.g., Browning et al., 2020; Hunter et al.,
2019; Ulrich et al., 1991). Os efeitos da interação ou exposição a ambientes naturais não amea-
çantes, como por exemplo parques urbanos, jardins residenciais e florestas, estão organizados
em três domínios (Markevych et al., 2017) redução de danos, restauração de capacidades e
constrão e desenvolvimento de novas capacidades. A título de exemplo observam-se efeitos
positivos na pressão sanguínea, batimento cardíaco, teno muscular, níveis de cortisol, doenças
respiratórias e alergias, tempos de cicatrização e recuperação de doença, estado de humor, entre
outros (e.g., Hartig et al., 2003; Horiuchi et al., 2014; Park et al., 2010; Tsunetsugu et al., 2007). No
contexto de ambientes confinados e extremos, também Beldade et al. (2015) observaram que em
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10 elementos ausentes (e.g., família, comida, sair à noite) a necessidade de plantas surgia em
quarto lugar. Apesar da variabilidade das metodologias usadas nos estudos e de algumas limi-
tações que apresentam em termos metodológicos (e.g., Browning et al., 2020; Dzhambova et al.,
2020), dos resultados emergem inegáveis efeitos benéficos para a saúde física, cognitiva e emo-
cional, sejam relativos a espaços exteriores (jardins residenciais, hortas, parques urbanos, flores-
tas, etc.), no interior das residências (hortas de varanda, plantas de interior, etc.) ou nos espaços
de trabalho ou salas de aula (e.g., Beldade et al., 2015; van den Bogerd et al., 2021), de tal forma
que os profissionais de saúde na Europa e América do Norte prescrevem “pílulas da natureza
(James et al., 2017).
Perante as dificuldades e adversidades que se impõem na vida, as pessoas recorrem a
estratégias cognitivas e comportamentais que as ajudam a gerir tais adversidades e a manter
ou recuperar o seu bem-estar social, físico e mental, ou seja, recorrem às designadas estra-
gias de coping (Dias & Pais-Ribeiro, 2018). De acordo com Folkman e Lazarus (1984), coping é
definido como um conjunto de estratégias que as pessoas utilizam para se adaptarem às cir-
cunstâncias adversas da vida, i.e., aos pensamentos e comportamentos adotados para enfren-
tar situações internas e externas de stresse. Na opinião de Theodorou e colaboradores (2021),
a promoção de recursos psicológicos como as estratégias de coping, e nomeadamente o envol-
vimento com a natureza, deverá revelar-se uma tática de sucesso em contexto de crise como a
atual. Estudos realizados no contexto pandémico atual têm focado os problemas de saúde e as
estratégias de coping (e.g., Asmundson et al., 2020; Cai et al., 2020; Huang et al., 2020; Munawar
& Choudhry, 2020; Savitsky et al., 2020), e mostradoo só um aumento da procura e da valori-
zação de áreas verdes e naturais em várias partes do mundo (e.g., Grima et al., 2020; Venter et
al., 2020), mas também que o contacto com a natureza pode contribuir significativamente para
a promoção da saúde física e mental em contexto de confinamento associado à COVID-19, quer
na população em geral (e.g., Grima et al., 2020; Heo et al., 2021; Hubbard et al., 2021; Poortinga
et al., 2021; Pouso et al., 2021; Soga et al., 2021; Theodorou et al., 2021), quer em pessoas idosas
(Corley et al., 2021).
Até 2020, viver em confinamento tinha sido uma realidade não experienciada pela gene-
ralidade da população do mundo ocidental. Como tal, a maioria das pessoas não terá desen-
volvido, previamente, estratégias para lidar emocionalmente com situações de confinamento e
experienciar emoções positivas, e, consequentemente, manter a sua saúde mental em tais con-
dições. Como lidaram, então, as pessoas com as restrições impostas à mobilidade e com o dis-
tanciamento social inerentes ao confinamento pandémico? Nomeadamente, como lidaram os
indivíduos mais velhos, aqueles com maior vulnerabilidade à doença, com o aumento do tempo
passado em casa e a redução da vida social? Ou seja, em contexto de confinamento, em que tipo
de atividades ocuparam as pessoas o seu tempo e como contribuíram estas atividades para o seu
bem-estar? Que estragias/recursos usaram as pessoas para experienciar emoções positivas e
manter a sua saúde mental e qual o papel desempenhado pelas atividades de proximidade com
a natureza, na mitigação de efeitos mentais adversos e na restauração do bem-estar durante um
confinamento pandémico?
Num contributo para compreender estas questões, neste estudo descrevem-se as ativida-
des cotidianas de indivíduos sénior (não institucionalizados) durante o primeiro confinamento
pandémico associado à COVID-19 em Portugal e as emoções associadas ao desempenho dessas
mesmas atividades. Descrevem-se também as estratégias adotadas para lidar com as principais
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dificuldades percebidas de um cotidiano confinado, e, especificamente, refere-se o papel desem-
penhado pelas interações com ambientes restauradores no bem-estar emocional dos indivíduos,
nomeadamente na restauração da capacidade de atenção e na recuperação psicofisiológica ao
stresse. O principal objetivo foi explorar a relação entre tipos de atividades desenvolvidas em
contexto de confinamento e bem-estar emocional. Em particular, o estudo focou-se no contributo
das atividades de contacto com ambientes restauradores e das experiências restauradoras no
bem-estar emocional de indivíduos confinados.A literatura sobre o bem-estar de pessoas confi-
nadas, tais como idosos institucionalizados, reclusos e militares, é vasta (e.g., Oliveira et al., 2021;
Wardrop et al., 2021), mas pouco se conhece ainda sobre o papel das atividades diárias, e espe-
cialmente daquelas que envolvem contacto com ambientes restauradores, enquanto estratégia
para vivenciar experiências emocionais positivas em contextos confinados. Apesar do presente
estudo abordar vivências de confinamento associadas à situação pandémica, atual, e referentes
a um pequeno grupo de pessoas, sénior, portuguesas, não institucionalizados, os resultados pare-
cem fornecer indicações aplicáveis a outros contextos de confinamento e populações.
Método
Participantes
A inclusãode indivíduosno estudo obedeceu aos seguintescritérios: 1)mais de 60 anos de idade
e na posse das suascapacidades autónomas de decisão e comunicação(escrita); 2)viveremPor-
tugal durante o confinamento, em casa própria ou de/com familiares (ou seja,pessoas nãoins-
titucionalizadas) e com espaço exterior (quintal, jardim, horta, terraço).Os participantes foram
convidados a participar no estudo por contacto direto dos investigadores, recorrendo a uma lista
de familiares e conhecidos.Dadas as limitações impostas pelo confinamento, os participantes
foram contactados telefonicamente, e, após concordarem em participar no estudo, o consenti-
mento informado e oformurio de participaçãoforam-lhes enviados por e-mail. Os contactos
seguintes foram efetuados via e-mail.
A amostra (de conveniência) é composta porquatroindivíduos com idades entre 62 e 82 anos
(média da amostra = 69 anos), igualmente repartida entre géneros. Todos os participantes são de
nacionalidade portuguesa; dois residem na região centro, e dois na regiãosul.Três deles passa-
ram o período de confinamento acompanhados; o quarto participante viveu só. Dois dos parti-
cipantes são portadores de doença crónica (cardíaca e oncológica). Durante o período do estudo,
dois dos indivíduos estavamno ativo (trabalhadores em teletrabalho), os outros dois reformados.
Todos eles têm formação superior e vivem em ambiente urbanizado (dois na cidade,dois em
pequenos aglomerados habitacionais).A área de espaço exteriorassociado àssuas residências
varia entre 30 e 4000 m2 (Tabela 1).
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TABELA1
Caracterizaçãosociodemográfica dos participantes
Idade Género Literacia Estado
civil Trabalho Companhia Doença
crónica
Local de
Residência
Área exterior
(m2)
P1 62 Feminino Superior Casada Ativo Marido, lha Oncológica Aldeia-
Centro 100
P2 66 Masculino Superior Casado Reforma Esposa Cardíaca Cidade-
Centro 4000
P3 82 Feminino Superior Viúva Reforma Cidade-Sul 200
P4 65 Masculino Superior Casado Ativo Esposa Vila-Sul 30
Procedimento
Utilizou-se a metodologia de diário estruturado para o estudo dos eventos drios. O formu-
rio de participação consistiu num breve questionário inicial para recolha de dados sociode-
mográficos dos participantes (idade, estado civil, literacia, situação perante o trabalho, doenças
crónicas, área do espaço exterior, etc.) e no preenchimento de um drio durante seis dias, com-
preendidos dentro do período correspondente ao primeiro estado de emergência e calamidade
declarado em Portugal devido à COVID-19, isto é, entre19demarçoe4demaio de 2020. O diário
consistiu no registo e descrição das tarefas ou atividades levadas a cabo ao longo do dia, bem
como das emoções/sentimentos associadas a esses acontecimentos/atividades, daquilo que mais
gostaram em cada dia,damaior dificuldade e da forma como lidaram com ela.
O estudo foi previamente aprovado pela Comissão Ética do Centro de Investigação em Psico-
logia Comissão de Ética do CIP – Universidade Autónoma de Lisboa (Parecer 11/2020).
Análise e tratamento da informação
Foi usada uma análise essencialmente qualitativa (Denzin et al., 1994) da informação con-
tida nos drios, na tentativa de captar em profundidade a forma como foi vivido e percebido o
confinamento pelos indivíduos. Os conteúdos dos drios – texto em formato Word – foram ana-
lisados e a informação tratada através de alise temática de conteúdos (Boyatzis, 1998; Braun &
Clarke, 2006), possibilitando a identificação de padrões e facilitando a interpretação dos dados.
Na alise de conteúdo e codificação da informação adotaram-se os princípios de codificação
de Saldanha (2009). O recorte das unidades discursivas obedeceu ao critério temático e os temas
emergentes foram identificados e organizados por dimensões, categorias e indicadores (Boyatzis,
1998). A codificação da informação e a matriz categorial foram validadas por três juízes (mem-
bros da equipa de investigação).
Um total de quatro dimensões, oito categorias e 29 indicadores foram considerados para efeitos da
análise (Tabela 2). A codificação das quatro dimensões (Atividades, Emoções,Estratégias decopinge
O que mais gostou) resultou diretamente dos diários. Os indicadores da dimensão Atividades cor-
respondem a sete tipos distintos de atividades, agrupados emduas categorias. A codificão destes
indicadores emergiu diretamente dos relatos dos participantes (Tabela 3).Não foram considerados
os relatos de atividades relativas à satisfação de necessidades biológicas básicas, como sejam acor-
dar, deitar ou ir dormir, alimentar-se (pequeno-almoço, almoço, jantar) e higiene pessoal dria.
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TABELA2
Dimensões, categorias e indicadores emergentes da análise de conteúdos
Dimensão Categoria Indicador
Atividades Trabalhos Tarefas domésticas
Teletrabalho
Ocupações Artístico-culturais
Contacto com natureza
Exercício físico em casa
Contactos sociais
Notícias
Emoções Positivas Tarefas domésticas
Teletrabalho
Artístico-culturais
Contacto com natureza
Exercício físico em casa
Contactos sociais
Notícias
Negativas Tarefas domésticas
Teletrabalho
Artístico-culturais
Contacto com natureza
Exercício físico em casa
Contactos sociais
Notícias
O que mais gostei Atividades Contactos com Natureza
Contactos sociais
Outras atividades
Outros Outros
Estratégias de coping Atividades Contactos com Natureza
Contactos sociais
Outras atividades
Outras Outras estratégias
A dimensão Emoções foi dividida em duas grandes categorias – as Emoções Positivas e as
Emoções Negativas. Esta codificação que emerge diretamente das narrativas dos participantes,
é baseada no modelo de duas dimensões do bem-estar afetivo (Russell, 1979, 1980) que considera
as emoções como estando sistematicamente interrelacionadas e que balanceiam entre estados
emocionais (emoções, afetos e sentimentos) positivos e negativos, normalmente designados de
afetos positivos e negativos. Na Tabela 4 encontra-se a lista de expressões usadas pelos parti-
cipantes, que foram classificadas como Emoções Positivas e Emoções Negativas para efeitos do
estudo.Os indicadores específicos de cada uma destas categorias referem-se às emoções (positi-
vas ou negativas) associadas a cada um dos indicadores da dimensão Atividades.
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TABELA3
Indicadores da dimensão Atividades: lista de atividades reportadas por indicador
Indicador deAtividade Atividadesdescritas
Teletrabalho
Dar aulasonline;correção de trabalhos de alunos; acompanhamento de alunos online; ler
artigos cientícos; participar em reuniões por videoconferência;preparar reuniões;presidir a
reuniões;fazer formação/cursos on-line;
Tarefas domésticas Cozinhar; preparar refeições; fazer pão; por roupa a lavar; estender e apanhar roupa; dobrar e
arrumar roupa; aspirar, varrer, limpar o pó; fazer camas; limpezas e lavagens; arrumações;
Artístico-culturais Ver lmeseséries;ver TV; ler(livros, revistas, ensaios); escrever estórias; ouvir música;assistir
concerto on-line; bordar; tecelagem; fazer bricolage; 
Contacto com a natureza
No espaço exterior público: passeios a pé ou de bicicletano campo,na vila, na aldeia, na praia,
àbeira-mar;apanhar sol; ver o mar;
No espaço exterior residencial: jardinar; tratar da horta; cavar; semear; mondar ervas daninhas;
colher legumes; ver as plantas/ores; regar as plantas; mexer na terra; cuidar da piscina; passeios e
caminhadas no quintal; estendereapanhar roupa
Virtuais: ver documentáriossobrea natureza;
Exercício físico em casa Aula de ginástica online com PT; yoga e meditação(aula online); pilates(aula online); passadeira;
Contactos sociais Presenciais:visitas ae devizinhos, familiares e amigos;convívio familiar;
Remotos:contactospor telefone,videochamada,e-mails, chats e redes sociais.
Notícias Ver e ouvir notícias na rádio e TV; ler jornais (digitais); acompanhar conferência de imprensa diária
da DGS; assistir a programas televisivos sobre a COVID-19; ler artigos cientícos sobre COVID
A dimensão designada O que mais gostei pretende avaliar qual das atividades diárias mais
terá contribuído para o bem-estar subjetivo de cada indivíduo, em cada dia. A codificação das
categorias e indicadores emergiu diretamente das narrativas. Foram consideradas duas catego-
rias Atividades e Outros; os indicadores Contactos com a natureza e Contactos Sociais desta-
cam-se por serem os tipos de atividades predominantemente referidas, sendo as restantes agru-
padas em Outras e aspetos de natureza mais cognitiva englobados na categoria Outros.
TABELA4
Lista deemoções, conforme referidaspelos participantes, classificadas como emoções positivas e emoções
negativas
Emoções Designações usadas/registadas
Positivas
Satisfeita;satisfeito;satisfação;
Estimularos outros;
Reconciliada com vida; reconciliada comigo;
Sensação de liberdade; libertação;
Foco;manter-me ocupada;canalizar energias positivas;
Serena; tranquila; tranquilo;tranquilidade; calma; acalmar; relaxar; relaxado; relaxada; descontrair;
Prazenteiro; feliz; alegria; contentamento; contente; animado; excitado; excitação; ativo; desportivo;
perfeitamente;desperto;interessado;
Entusiasmada; extraordinário;esperança.
Negativas
Apreensão; apreensiva; tristeza; triste; angústia;angustiada;monotonia;enfadada;aborrecido;preocupante;
preocupação;preocupada;deprimida;cansada; arrastei-me;
Agitação; tensa; diculdade no foco; ansiosa;irritação;irritadiça;irritada;incerteza; medo.
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Confinamentosanitárioe experncias restauradoras: Estudoexploratórioemidososportugueses
A dimeno Estratégias decoping pretende captar as formas conscientes de cada um lidar
com as maiores dificuldades percebidas em cada dia. A codificação desta dimensão emerge dire-
tamente das narrativas e também está dividida nas mesmas duas categorias e quatro indicadores
da dimensão “O que mais gostei.
Foram estimadas as frequências absolutas e relativas de unidades discursivas atribuídas a
cada indicador e categoria, por dimensão. A frequência absoluta corresponde ao total de regis-
tos (unidades discursivas) de cada indicador ou categoria; a freqncia relativa corresponde à
proporção (%) de registos de cada indicador (ou categoria) relativamente ao total de registos de
cada categoria (ou dimensão). Os registos ou anotações dos participantes nos seus diários foram
essencialmente de dois tipos – uns utilizaram um estilo mais descritivos e outros mais por tópi-
cos. Assim, para efeitos de alise entendeu-se por unidade discursiva quer proposições comple-
tas (frases ou conjunto de frases), quer expressões simples (uma ou poucas palavras) desde que
contivessem informão clara e objetiva (ex. “aula de pilates online”). As unidades discursivas da
dimensão Emoções são quase todas do segundo tipo (uma ou poucas palavras), enquanto as das
restantes dimensões são tendencialmente mais elaboradas (frases).
No que se refere às atividades de contacto com a natureza foi ainda realizada uma análise
complementar ilustrativa dos efeitos restauradores percebidos. Codificaram-se as unidades dis-
cursivas em dois novos indicadores, tendo em consideração as duas dimensões fundamentais
dos ambientes e experiências restauradoras de acordo com Kaplan e Kaplan (1989) e Ulrich et al.
(1991) – restauração da atenção e recuperação ao stresse.
Resultadose Discussão
Em Portugal, a 18 de março de 2020 foidecretado oprimeiro período deestado de emergên-
cia associado à COVID-19, que terminou a 4 de maio. Durante este primeiro confinamento, os
participantes deste estudo envolveram-se diariamente em várias atividades – em média cerca
de oito atividades reportadas por indivíduo por dia, para além das referentes à rotina dria de
higiene pessoal e refeições. Dominam largamente as atividades ocupacionais (frequência rela-
tiva da categoria Atividades Ocupacionais = 71%), correspondendo menos de um terço (frequên-
cia relativa da categoria Trabalhos = 29%) ao cumprimento de tarefas obrigariasmundanas
(isto é, Tarefas Domésticas, frequência relativa = 20%) e de compromissos profissionais, ou seja,
ao trabalho a partir de casa (frequência relativa de Teletrabalho = 9%). Na categoria Atividades
Ocupacionais, as atividades de contacto com a natureza (22% do total de atividades reportadas)
e as de caráter cultural-artístico (frequência relativa = 21%) foram os tipos dominantes, mas tam-
bém ouvir e/ou ler notícias constituiu outro tipo de atividade relevante (freqncia relativa =
16%). Os contactos sociais com família e amigos (remotos e presenciais) correspondem a 9% do
total das atividades reportadas, e o exercício físico em casa a apenas 3% (Tabela 5 e Figura 1).
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TABELA5
Frequência absoluta de atividades reportadas por tipo de atividade: total (seis dias) por indivíduo, média
diária por indivíduo e total da amostra
Tele
trabalho
Tarefas
domésticas
Artístico-
culturais
Contacto
natureza
Exercício
em casa
Contactos
sociais Notícias Total/
ind
Média
diária
P 1 8 12 12 8 3 4 13 60 10
P 2 0 3 12 9 3 1 2 30 5
P 3 0 15 7 8 0 8 6 44 7
P 4 10 8 9 17 0 4 11 59 10
Total 18 38 40 42 6 17 32 193 8
Associado ao desempenho destas atividades, os participantes reportaram predominante-
mente estados afetivos ou emocionais positivos: frequência relativa de emoções positivas de 73%
e de emoções negativas de 27% (Tabela 6). Todavia, o envolvimento nas diferentes atividades
parece contribuir de forma desigual para o bem-estar afetivo dos participantes: há atividades
que foram associadas predominantemente a emoções positivas e outras a que os participantes
associaram predominantemente emoções negativas (Figura 1). Tenha-se, todavia, em considera-
ção que os diários (fonte de informação) se caraterizaram por uma grande disparidade de registos
no que se refere às emoções: se por um lado, nem sempre os participantes associaram emoções às
atividades reportadas, por outro lado, outras vezes registaram mais que uma emoção associada
a uma só atividade, ou, ainda, a várias atividades descritas em conjunto associaram uma só emo-
ção. Assim, é de esperar que, à análise de contdos e estimativa das freqncias dos indicadores
emocionais, esteja associada alguma incerteza, seguramente superior à associada aos restantes
indicadores que fazem parte da presente análise.
FIGURA1
Frequência absoluta de atividades e das respetivas emoções positivas e negativas associadas
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TABELA6
Frequência absoluta de EmoçõesPositivas e Negativas por indicador de atividade 
Tele
trabalho
Tarefas
Domésticas
Artístico-
cultural
Contacto
Natureza
Exercício
em casa
Contactos
Sociais
Notícias Total
EmoçõesPositivas 5 20 32 39 7 14 15 132
EmoçõesNegativas 8 9 7 1 2 1 22 50
Total 13 29 39 40 9 15 37 182
A ler, ver e/ou ouvir notícias os indivíduos associaram maioritariamente emoções negativas
(em 60% dos casos), o tipo de atividade que claramente mais contribuiu para reduzir o bem-estar
afetivo destes indivíduos (44% das emoções negativas reportadas estão associadas a esta ativi-
dade). Alguns fragmentos das narrativas dos participantes ilustram esse impacto:
Acordo e leio as notícias do dia []. A curva continua a crescer, a situação na Ilia e em
Espanha está a ganhar repercussões complicadas. Preocupação e apreensão!”
Almoço, hora de ouvir o ponto da situação da pandemia – acompanhar a conferência de
imprensa da DGS. Tristeza! A infeção continua a progredir.
A noite foi boa, acordei tranquila. As notícias é que são pesadas. Apreensão.
“Hoje é domingo []. As notícias continuam duras.” (P1);
Almocei, ouvindo o jornal da tarde []. O nº de pessoas infetadas subiu, assim como o
número de mortes. Triste.” (P3).
As notícias foram também associadas a emoções positivas (40% dos casos, que represen-
tam 11% do total de emoções positivas reportadas). Por exemplo: P4 associou sempre “calmaou
“tranquilidadeà sua atividade diária de Atualização da informação, e P3 escreveu num dos
dias que “a descida mais abrupta do que o habitual, relativamente a novos casos de infeção, dá
alguma esperança.
Os resultados indicam que também as atividades da categoria Trabalhos foram responsáveis
por parte considerável das emoções negativas reportadas (34% do total de registos de emoções
negativas). O cumprimento dos compromissos profissionais via teletrabalho (dois participantes
que se encontravam no ativo) surgiu maioritariamente associado a emoções negativas (62% de
todas as emoções associadas a teletrabalho), que correspondem a 16% de todas as emoções nega-
tivas reportadas (Tabela 6). Por exemplo formação online sobre testes via internet” e “monta-
gem de perguntas para próximo teste online” foram associadas a “angústia, agitação, irritação” e
aborrecimento(P4). O efeito do teletrabalho na desregulação emocional está muito provavel-
mente subestimado, já que este foi o tipo de tarefa a que os participantes associaram menos vezes
emoções, aparentemente para disfarçarem essa tendência através da omissão.
As seguintes palavras de um dos participantes: “Dispensei a empregada desde há um mês
[] Limpar continuamente a casa é uma tarefa pouco estimulante. Nas primeiras semanas fiz
mudanças para tornar as coisas mais aliciantes. Agora nem sei o que fazer. Monotonia.(P1)
exemplificam emoções negativas associadas ao desempenho de tarefas domésticas (31% das
emoções associadas a tarefas domésticas são negativas e correspondem a 18% do total de emo-
ções negativas), apesar dos indivíduos associarem, a este tipo de atividade, maioritariamente
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emoções positivas (69% emoções positivas, correspondendo a 15% de todas as emoções positivas)
(Tabela 6 e Figura 1).
Contrariamente à tendência de afetos negativos surgirem associados a notícias, às restan-
tes atividades ocupacionais foram associadas predominantemente emoções positivas. A ativi-
dades de contacto com a natureza e contactos sociais foram quase exclusivamente associadas a
emoções positivas. Ao conjunto das atividades de contacto com a natureza e artístico-culturais
corresponde a maior parcela relativa de emoções positivas (54% do total de emoções positivas)
(Tabela 6).
Durante o confinamento grande parte das atividades cotidianas deixaram de decorrer pre-
sencialmente, e consequentemente diminuíram os contactos sociais das pessoas. Há ainda que
juntar os efeitos das restrições impostas à circulação de pessoas e aos encontros sociais e familia-
res, que afastaram ainda mais as pessoas. A falta de contactos sociais presenciais foi em grande
parte, e muitas vezes na totalidade, substituída por contactos remotos. Ainda que pouco frequen-
tes, os resultados deste estudo mostram que contactos sociais presenciais foram sempre associa-
dos a emoções positivas (“Felizpois “Os netos acabaram de chegar!” – P1; “Entusiasmadapois
Almoçámos, conversámos, comentámos o período que estamos a viver e a tarde depressa pas-
sou.” – P3; “Contente” pela “Visita dos filhos e convívio familiar” – P4), mesmo quando as regras
de distanciamento social, que afetou muito especialmente a população sénior por se considerar
a mais vulnerável à doença, impuseram novas formas de estar na presença de outros (“Ficámos
conversando, eu junto à porta de entrada da minha casa, e ele [filho] encostado à parede do outro
lado.P3). Os contactos sociais com familiares e amigos associaram-se predominantemente a
emoções positivas (93% positivas e 7% negativas), e contribuíram muito mais para estados afeti-
vos positivos do que negativos (representam, respetivamente, 11% do total de emoções positivas
e 2% de emoções negativas).
À semelhança de outros países, em Portugal as pessoas das faixas etárias consideradas de
maior risco à doença foram aconselhadas a ficar em casa; as refeições e medicamentos entregues
à porta (Officeetal., 2020), comunicações com filhos, netos ou outros familiares apenas através
dotelefone ou de plataformas de média social (e.g., Facebook, Skype, Twitter) passaram a carac-
terizar os seus contactos sociais. Também os seniores profissional e socialmente ativos, além das
alterações no regime de trabalho (Office et al., 2020), viram-se privados das interações com as
famílias, em particular com os netos e, em consequência, dos respetivos efeitos beficos para
o seu bem-estar (e.g., Quirke et al., 2019). Assim, como seria de esperar, as alterações impostas à
vida cotidiana por este novo fator de stresse ligado à saúde (física), mostram ter afetado negativa-
mente o bem-estar emocional dos indivíduos estudados. Até a Páscoa, que é tradicionalmente um
dos momentos “altos” anuais de reunião familiar dos portugueses, em 2020 criou uma situação
absolutamente nova e perturbadora para muitos portugueses, com destaque para os mais velhos,
pois o confinamento em Portugal foi intensificado com medidas especiais para este período. Pois
se é verdade que esta crise de saúde associada à pandemia de COVID-19 é global (de nível mun-
dial) e transversal a todos os grupos etários, o facto de a idade representar maior risco de morta-
lidade associada à COVID-19 (Caramelo et al., 2020), também poderá associar risco acrescido no
que se refere ao bem-estar emocional dos indivíduos seniores.
Também as atividades de caráter arstico-cultural apareceram associadas predominante-
mente a emoções positivas (82% positivas; 18% negativas), correspondendo a 24% de todas as
emoções positivas (e a 14% das emoções negativas). Alguns exemplos ilustrativos: “bordar”
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Confinamentosanitárioe experncias restauradoras: Estudoexploratórioemidososportugueses
associado a “tranquilidade e satisfação (P1); ouvir música, ver filmes e leitura associados a
calmae “tranquilidade” (P2, P3 e P4). E à prática de exercício físico em casa foram, de igual
modo, associadas maioritariamente a emoções positivas (78% positivas; 22% negativas), pese,
contudo, o acompanhamento virtual e as dificuldades que lhe podem estar associadas (e.g., “Aula
de ginástica com PT por videoconferência. Hoje a ligação não foi perfeita, mas a aula correu
bem.” – P1), mas que, ainda assim, corresponderam a momentos do dia nos quais o indivíduo
confinado pode desfrutar de “uma sensação de quase normalidade” (P1).
As atividades de contacto com a natureza, repartidas igualmente pelo espaço público e
espaço privado (real campo, praia, aldeia, a vila piscatória; jardim,horta, piscina e também
virtual), foram associadas quase exclusivamente emoções positivas (98% positivas; 2% negati-
vas), representando 30% de todas as emoções positivas contabilizadas. Por exemplo, passeios, ao
ar livre, a ou de bicicleta foram associados a “Liberdade e procura do Euou a “Descontrair”
(P1), a Animado e satisfeito(P2), “Fez-me muito bem(P3) e “Tranquilidade(P4); ou jardinar
associado a “Sensação de liberdade e libertação” (P1), a “Tranquilidade” e “Perfeitamente” (P2), a
“Faz-me sentir bem” (P3) e a “Excitação” (P4).
A freqncia com que as atividades de contacto com a natureza foram percebidas como o
melhor momento do dia também dá indicações sobre o importante papel desempenhado por
estas atividades no bem-estar dos indivíduos confinados. De todas as atividades e acontecimen-
tos diários, foram as atividades de contacto com a natureza, o tipo que os participantes mais
gostaram (freqncia relativa = 46%) (Tabela 7). Alguns exemplos: “O tempo que passei no meu
quintal, tratando das plantas”,Assistir ao documentário A grande barreira de coral” (P3); Apa-
nhar sol”, “Ir ver o mar” ou “tratar da piscina (P2); “Passeio pelas salinas(P4). Os contactos
sociais presenciais e remotos também ocuparam lugar de destaque entre as atividades preferidas
(frequência relativa=42%); exemplos: “As mensagens dos meus netos, e “O sorriso deslumbrante
dos meus netos. A noite com eles(P1); “Ter convivido com o meu irmão” e comemorado o 25 de
abril com uma amiga (P3); contactos remotos com os alunos, a “videoconferência com a família
e “visita da família(P4). Outros tipos de atividades ou aspetos diversos foram ainda referidos
como o que melhor aconteceu em cada dia de confinamento (12% do total); como por exemplo:
“Comer favas” ou a “Peça de taparia que terminei hoje” (P1), “Leitura ao fim da tarde” (P4), mas
também “Liberdade apesar do confinamento. Faço o que gosto e o que quero” (P2).
TABELA7
“O que mais gostei hoje” eestratégias decoping,por tipo de atividade: Frequência absoluta de registos
Atividadesde contacto com a
natureza Contactos sociais Outras Total
O que mais gosteihoje 11 10 3 24
Estratégia de Coping4 2 16 22
Além das indicações sobre o importante papel desempenhado pelas atividades de contacto
com a natureza no bem-estar emocional, já descritas, os resultados também indicam que envol-
ver-se consciente e deliberadamente neste tipo de atividades foi uma das estratégias de coping uti-
lizadas para lidar com os momentos difíceis (Tabela 7). As maiores dificuldades percebidas pelos
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participantes são de caráter muito diverso, incluindo dificuldades de ordem física e técnica (como
resolver problemas informáticos ligados ao teletrabalho), mas o que mais se destacou refere-se
a dificuldades em lidar com as notícias sobre a evolução da pandemia em Portugal e no Mundo
(Exemplos: As mortes.e as notícias perturbadoras; “Gerir os receios que povoam aos meus pen-
samentos (negros).P1; como um pequeno vírus me impede de festejar coletivamente uma
data tão importante para nós” – P3), mas também se referem à “monotonia dos dias e das semanas
que se vão sucedendo” e à dificuldade emgerir esta cadência de dias sem fim, não diferenciados,
sem calendário” e à “incerteza do futuro” (P1). Entre as estratégias de coping usadas, predominam
as de caráter cognitivo e comportamental, que correspondem a cerca de 70% das estratégias repor-
tadas (Exemplos: Tentando concentrar-me noutras atividades” efazer coisas diferentes sem me
forçar” – P1; “Não ouvindo TV durante quase todo o diae cumprindo estritamente as regras de
distanciamento social para poder visitar amigos e familiares” P3; “Concentração e intervalos a
cada 15-20 minutos” e “Mecanizando procedimentos– P4). Os contactos sociais e as atividades de
contacto com a natureza destacam-se entre as atividades reportadas como estratégias de coping:
as atividades de contacto com a natureza representam 18% dos casos reportados (“Apanhando ar!
O privilégio de ter acesso à rua facilita as coisas.; “Fui à rua. Fui andar.; “Fazendo trabalho de
exterior, mexendo na terra e indo andar.; Apanhar vento e sol na cara e maresiaP1; “Inter-
valando com pequenos passeios” P4) e os contactos sociais correspondem a 9% (“Falei com as
amigas por videochamada” – P1 ou “Fui a casa da minha prima” – P3).
As poucas situações nas quais emoções negativas foram associadas a atividades de contacto
com a natureza parecem ser consequência de situações anteriores, como sejam estar em situação
de teletrabalho, “aborrecido, “angustiado” e/ou “agitado, e fazer uma pausa para um pequeno
passeio. Estes casos indicam ter havido uma procura consciente da proximidade com a natureza
como estratégia para lidar com a situação difícil, sem que o “curto intervalo para passeios” se
tenha revelado suficientemente para restabelecer a regulação emocional (por exemplo, depois de
um curto passeio pela aldeia, P1 diz uma vez ter ficado “mais calma”). Algo semelhante poderia
ser dito relativamente às emoções negativas que foram associadas a atividades artístico-cultu-
rais (exemplos: Arrastei-me toda a tarde entre TV e bordados P1; e “ quando fui para a cama,
li, porque estava cansada e irritada” – P3).
Há ainda algumas narrativas que são ricas em descrever estratégias para lidar com as difi-
culdades cotidianas, sem que os participantes as tenham anotado diretamente como a estratégia
para a dificuldade do dia. Nas unidades discursivas que a seguir se transcrevem, parece evidente
que houve uma escolha deliberada e consciente de atividades de contacto com a natureza, como
forma de lidar com um momento difícil do dia, ou com a dificuldade de gerir as emoções nega-
tivas associadas à situação pandémica e de confinamento que os participantes experienciavam.
Exemplos: P1 – “Ida à horta para aliviar, mexer na terra e cheirar o seu odor”; “Reconciliada com
a vida e comigoapós um passeio de 3,5 km; mais serenaapós passeio à beira-mar durante
uma hora – Andar fez-me bem. Sentir o vento, o sol e o cheiro do mar acalmou-me; “Fui capinar
na horta. Não dei pelas horas passarem. Precisava de gastar energia e de me focar em qualquer
coisa. Fazer esforço.; “Fazer força e gastar energia canalizando os pensamentos para estas tare-
fas e procurando aliviar os sentimentos mais negativos que me assolam; P2 O documentá-
rio Agrande barreira de coralconseguiu afastar-me de toda a realidade difícil que estamos
vivendo atualmente.; P4 – Mans de teletrabalho aborrecido” com “curtos passeios pelo meio”.
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Confinamentosanitárioe experncias restauradoras: Estudoexploratórioemidososportugueses
Os resultados apresentados são, globalmente, concordantes com os resultados de outros estu-
dos recentemente publicados. Em primeiro lugar, tem havido indicações de um aumento da pro-
cura e da valorização de área naturais em tempos de COVID-19, isto é, indicações de terem as
pessoas recorrido mais ao contacto com a natureza para lidar com o confinamento pandémico,
apesar de ser esperado que a redução da mobilidade tivesse semelhante efeito no uso dos espa-
ços verdes urbanos. Por exemplo, Venter e colaboradores (2020) estimaram um aumento muito
significativo no uso dos espaços verdes urbanos e das atividades exteriores durante o confina-
mento parcial 2020, em Oslo, Noruega (quase 300% relativamente à média ponderada dos últimos
três anos). E também Lu e colegas (2021) estimaram aumentos potenciais (cerca de 5%/semana) no
uso dos espaços verdes urbanos de quatro grandes cidades asiáticas, sugerindo que as pessoas
escaparam para a natureza para lidar com a pandemia. Nos EUA foram, igualmente, evidencia-
das mudanças na importância percebida das áreas naturais em períodos de restrões associadas
à pandemia (Grima et al., 2020). mesmo quem sugira que há evidências de uma substituição
em larga escala dos tempos de lazer diversos por tempos de recreação em espaços verdes dispo-
níveis (Day, 2020). Apesar de, no presente estudo, não ter sido avaliada a mudança nos hábitos
cotidianos dos participantes, os resultados mostram que os contactos com a natureza ocuparam
um lugar de relevo entre as atividades cotidianas durante o confinamento destes portugueses
sénior. Será razoável assumir que este tipo de atividade terá passado a assumir uma importância
acrescida na vida destas pessoas durante o primeiro confinamento pandémico das suas vidas.
E, se os resultados de um estudo alargado sobre utilização de espaços verdes urbanos durante o
confinamento de 2020, na Grã-Bretanha, indicam que a probabilidade de visitar espaços verdes
foi significativamente menor nos indivíduos maiores de 65 anos relativamente aos de meia-idade
(Burnett et al., 2021), o facto é que, no que diz respeito aos indivíduos sénior que constituíram a
amostra do presente estudo, o envolvimento em atividades de contacto com a natureza não se
limitou a atividades de exterior que decorreram no espaço público; pelo contrio, a frequência
de atividades de jardinagem, que decorreram no espaço residencial, corresponde a metade do
total de eventos de proximidade com a natureza.
O distress psicológico aumentou em indivíduos que vivem em meio urbano, em zonas pri-
vadas sem acesso a espaço exterior residencial e com menos visitas a espaços verdes públicos
(Hubbard et al., 2021). Os jardins privados mostraram ter um efeito protetor em indivíduos sem
acesso a um espaço verde público próximo, durante o primeiro pico da COVID-19 e da implemen-
tação de medidas mais restritivas (Poortinga et al., 2021). Os jardins domésticos podem ser con-
siderados como um recurso potencial para a saúde durante a pandemia COVID-19 (Corley et al.,
2021). Com as medidas restritivas impostas pelos governos para fazer face à pandemia COVID-
19, as ruas das cidades ficaram desertas, as pessoas ficaram em suas casas e usaram os seus
jardins privados, terraços e varandas, procurando proximidade com a natureza com proteção
de potenciais fontes de contaminação. Também os nossos resultados evidenciam a importância
que podem assumir os espaços verdes privados e os benefícios para o bem-estar das pessoas em
situações de confinamento, embora tal evidência coloque simultaneamente questões relevantes
de justiça ambiental.
Se, por um lado, os estudos sugerem que tanto espaços públicos como privados constituem
importantes recursos para a saúde e bem-estar humanos em tempos de crise, pois ambos pro-
porcionam atividades de contacto com a natureza, por outro lado, os períodos de confinamento
pandémico tornaram mais visível, e potencialmente exacerbaram, as desigualdades no uso de
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espaços verdes. A pandemia aumentou a visibilidade e valor percebido dos espaços exteriores
privados, que estes providenciam segurança física (no que respeita ao risco de contamina-
ção) e, portanto, proporcionam conforto mental perante o isolamento (Jasiński, 2020). Na opinião
deste autor, durante a pandemia tem-se assistido a uma erosão dos espaços públicos acompa-
nhada de privatização; consequentemente, diferenças entre ricos e pobres aumentaram e o valor
dos espaços privados continuará a subir.
A pandemia COVID-19 tornou mais evidente tais disparidades no acesso a espaços verdes e
as fragilidades das populações mais vulneráveis. Dado os potenciais efeitos negativos da pande-
mia na saúde mental, o acesso a espaços verdes torna-se ainda mais vital para a saúde e bem-es-
tar das pessoas. Como resposta a situações de crise de saúde pública, decisores políticos, gesto-
res e planeadores do contexto urbano deverão equacionar as soluções para garantir um acesso
apropriado e seguro de toda a população urbana a algum tipo de espaço (verde) que proporcione
proximidade com a natureza (Banai, 2020; Karl et al., 2020; Slater et al., 2020; Soga et al., 2021).
A crescente consciência da elevada probabilidade de ocorrência de outros surtos pandémicos
(ou de outras crises globais que possam conduzir ao confinamento das populações), enfatizam
a importância da disponibilidade a espaços verdes para todos em futuros confinamentos da
população (Burnett et al., 2021; Uchiyama et al., 2020), e o planeamento e gestão destes espa-
ços urbanos e peri-urbanos ganha maior acuidade com este surto pandémico. Refira-se ainda
que, na impossibilidade de acesso direto a ambientes restauradores, a possibilidade de exposição
a ambientes restauradores virtuais deverá ser equacionada (Imperatori et al., 2020; Riva et al.,
2020; Yu, et al., 2020), eventualmente uma forma de atenuar o efeito da injustiça ambiental verde.
Estudos realizados em diversos países mostram que pessoas em confinamento restrito utili-
zaram o contacto com a natureza para lidar com a situação, e que as emoções foram mais positi-
vas entre aqueles que tiveram acesso a espaços verdes exteriores e a elementos naturais nas suas
vistas cotidianas (Pouso et al., 2021), ou que a frequência de utilização de espaços verdes e a pre-
sença de janelas com vista “verde” estão associados a aumentos na autoestima, satisfação com
a vida e felicidade subjetiva, e a reduções nos níveis de depressão, ansiedade e solidão (Soga et
al., 2021). O estudo da relação entre a jardinagem e o distress psicopatológico durante o confina-
mento associado à primeira vaga de COVID-19 em Itália, revelou que a jardinagem está associada
a distress psicológico baixo, através da redução do distress associado à pandemia (Theodorou et
al., 2021). Os resultados de um estudo, que decorreu na Escócia, durante os períodos de confina-
mento pandémico de 2020, indicaram associações significativas entre a frequência de jardinagem
e a saúde física, mental e emocional, bem como na qualidade do sono, em indivíduos maiores de
70 anos com acesso a jardim doméstico (Corley et al., 2021). Apesar de não ser, o presente estudo,
comparativo, este é outro aspeto em relação ao qual, os resultados apresentados se alinham com
a literatura recente, na medida em que se encontraram evidências claras da associação entre o
desempenho de atividades de contacto com a natureza e estados afetivos positivos, e também do
papel desempenhado na regulação emocional via estratégia de coping.
Também estudos já anteriormente publicados mostraram que as plantas podem contribuir
significativamente para o bem-estar de idosos institucionalizados com demência (Rappe & Lin-
dén, 2002). Ambientes contendo plantas, esteticamente apelativos, que proporcionam possibili-
dades de envolvimento em atividades com sentido, de sociabilização promovem coping na vida
de idosos institucionalizados (Rappe, 2005). Também a jardinagem e horticultura têm sido usadas
como terapia emrios contextos e envolvendo diferentes grupos de indivíduos, como forma de
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promoção da saúde e bem-estar (Davis, 1998; Rappe, 2005; Sempik et al., 2006). Uma revisão sis-
temática evidencia os efeitos positivos da jardinagem na saúde mental e benefícios nos domínios
emocional, social e espiritual (Clatworthy et al., 2013). Os indivíduos estudados, portugueses
seniores, não apresentavam demência, nem tão pouco se encontravam institucionalizados, mas
os nossos resultados indicam claramente que a presença de plantas, no espaço residencial e as
atividades que estas proporcionam, promoveram o bem-estar e o coping durante o confinamento
dos participantes neste estudo.
Para além das evidências já apresentadas sobre o efeito benéfico das atividades de contacto
com a natureza, que os resultados do presente estudo revelam, descrevem-se seguidamente,
aspetos específicos do efeito restaurador percebido destas experiências de contacto com a natu-
reza – a regulação psicofisiológica do stresse e a restauração da atenção. Assim, as idas ao quintal
e à horta, o que me fez muito bem, permitiram a P3 “afastar-me de toda a realidade difícil que
estamos vivendo atualmente, e a P1, “aliviar sentimentos mais negativos, “canalizar energias
positivas, ficar “mais serena” e “reconciliada com a vida e comigo, sentir “liberdade e liberta-
ção” “e procura do Eu, demonstram o potencial de regulação psicofisiológica das experiências.
Outros pequenos detalhes das narrativas, como sejam, “mexer na terra e cheirar o seu odor
quando está a jardinar, ou “sentir o vento, o sol e o cheiro do mar” e “apanhar sol e sentir o seu
calor na minha pelequando vai para o espaço público (P1), e as minhas plantinhas estavam
viçosas, os patos, gansos e cisnes que nadavam no lago “andavam tão felizes e alheios a tudo, ou
a grande variedade de árvores e outras plantas estão não só floridas como cheias de folhagem
(P3), são exemplos que ilustram restauração da capacidade de atenção.
A presença de tais efeitos específicos do contacto com ambientes restauradores e das expe-
riências restauradoras que aí tiveram lugar reforça, no caso deste estudo, as evidências dos
benefícios já descritos anteriormente. O modelo explicativo de Sempik e colegas (2003) assume
que, nos humanos, há uma apreciação inata por ambientes naturais e que a apreciação da natu-
reza, esse envolvimento passivo, facilita a restauração da atenção e a recuperação ao stresse,
promovendo sentimentos de tranquilidade e paz. Além disso, as possíveis sinergias entre os
diferentes benefícios para a saúde têm recebido crescente interesse pela pesquisa interdisci-
plinar. Evidências de estudos com foco na atividade física realizada em ambientes verdes e
naturais, sugerem que o exercício verde pode estar mais positivamente associado ao aprimo-
ramento do humor e ao bem-estar emocional do que a atividade física dentro de casa (Hug et
al., 2009; Thompson et al., 2011) ou em outros ambientes ao ar livre (Barton & Pretty, 2010; Mit-
chell, 2013; Pasanen et al., 2014). Esses efeitos positivos têm sido relatados particularmente em
associação com o exercício em ambientes naturais (Mitchell, 2013; Pasanen et al., 2014) e perto
de espaços azuis, como lagos e áreas costeiras (Barton & Pretty, 2010; White et al., 2013). Espa-
ços verdes e outros ambientes naturais são, consequentemente, visitados devido a níveis mais
baixos de stressores ambientais e sociais, como ruído, tnsito e outras pessoas (Pasanen et al.,
2018). Esses tipos de motivos têm sido caracterizados como motivos de “empurrão” para visitar
ambientes naturais (Knopf, 1987). No entanto, a ausência de stressores não explica totalmente
os benefícios restauradores associados aos ambientes verdes e naturais, mas as suas quali-
dades restaurativas também têm sido atribuídas a fatores de ‘atração, ou seja, aspetos posi-
tivos e envolventes da natureza, como experiências estéticas agradáveis (Hartig et al., 2014).
Na prática, esses motivos de ‘empurrar’ e ‘puxar’ são, no entanto, propensos a entrelaçarem-se
(Browning et al., 2020; Hartig et al., 2014).
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A amostra deste estudo foi constituída por indivíduos seniores a viver em casa própria e com
espaço exterior privado associado à residência. Viver numa casa com espaço exterior privado
não é a situação mais comum da população portuguesa, indicando que os presentes resultados
têm uma representatividade limitada. Todavia, e independentemente das questões de natureza
ecomica e social, ou seja, da injustiça na distribuição e acesso a tais recursos pela população
em geral, estes resultados para além de trazerem luz sobre o que fizeram e como se sentiram indi-
víduos em Portugal durante o confinamento pandémico e perante as dificuldades decorrentes
da situação, dão indicações claras sobre o importante papel desempenhado pelas experiências
ou atividades que decorrem em ambientes restauradores, sejam eles públicos ou privados. Como
outros autores sugerem (e.g., Ma et al., 2021; Pouso et al., 2021; Ugolini et al., 2021), os resulta-
dos deste estudo apontam para a necessidade de o planeamento urbano ser repensado (mais
espaços verdes, de diferentes tamanhos dispersos no tecido urbano e suburbano), mas também
a gestão de parques naturais e área protegidas, para que garantam um baixo risco percebido ou
segurança elevada nomeadamente em futuras situações de crise sanitária, de modo a que cum-
pram a sua função de promover a saúde e bem-estar das pessoas. Além disso, e apesar do pre-
sente estudo abordar vivências de confinamento associado à atual pandemia, e referentes a um
pequeno grupo de pessoas (sénior, portugueses, não institucionalizados), crê-se que os resultados
dão indicações sobre o importante papel desempenhado pelas experiências de proximidade com
a natureza no bem-estar emocional percebido que deverão ser aplicáveis a outros contextos de
confinamento e outras populações ou grupos de indivíduos confinados.
Conclusões
Os resultados deste estudo mostram que, durante o primeiro período de confinamento sani-
tário associado à COVID-19, em Portugal, nas suas rotinas diárias as pessoas envolveram-se em
diversas atividades, dominando as de natureza ocupacional, com destaque para as atividades de
contacto com a natureza e arstico-culturais. Foram reportadas predominantemente emoções
positivas associadas às suas atividades cotidianas, embora o envolvimento em diferentes tipos
de atividades tenha contribuído de forma desigual para o bem-estar afetivo dos participantes: as
notícias (sobre a pandemia) foram responsáveis por grande parte das emoções negativas reporta-
das e o (tele)trabalho também apareceu tendencialmente associado a emoções negativas; contac-
tos sociais, atividades artístico-culturais, e especialmente, atividades de contacto com a natureza
aparecem predominantemente associadas a emoções positivas.
Os resultados também indicam que, em situação de confinamento pandémico, as ativida-
des de contacto com a natureza revelam elevado potencial restaurador do bem-estar percebido.
Trata-se de uma das atividades frequentemente consideradas mais agradáveis no dia-a-dia dos
participantes, também usada como estratégia para lidar com as maiores dificuldades cotidianas.
Para além das evidências da capacidade de regulação emocional das experiências que decorrem
em ambientes de proximidade com a natureza, encontraram-se indicações específicas sobre o
potencial restaurador do bem-estar psicofisiológico e do efeito na restauração da capacidade de
atenção.
Se os ambientes com características que promovem restauração do bem-estar psicológico
já vinham a assumir uma importância crescente na vida das sociedades modernas dadas as
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exigências impostas às pessoas pelo cotidiano, com a pandemia COVID-19 e o condicionamento
sanitário associado, vivido por grande parte da população mundial, as experiências de contacto
ou proximidade com a natureza ganham uma importância acrescida, e tornam-se numa oportu-
nidade. Nesse sentido, os resultados enfatizam a importância que assumem a disponibilidade e
acessibilidade a espaços verdes para futuros confinamentos. Os novos desafios colocados pela
pandemia requerem respostas diversificadas, incluindo um repensar no planeamento e a gestão
de espaço verdes (públicos e privados) que garanta, no futuro, mais justa ambiental (verde) nas
cidades e, portanto, ofereça maiores garantias de contribuir para saúde pública em períodos de
crise sanitária.
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