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PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVII • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2021 • pp. 49-72
Confinamentosanitárioe experiências restauradoras: Estudoexploratórioemidososportugueses
situação pandémica e de confinamento, esse isolamento inevitavelmente aumentou. Deacordo
com Santini e colegas (2020), várias características associadas ao isolamento social, como a
desconexão social, aumentam o risco de isolamento social percebido, conduzem a sintomas de
ansiedade, depressão e stresse, sobretudo em idosos. Assim, e a par dos problemas de saúde
física, a COVID-19 trouxe consigo outras adversidades a este grupo de indivíduos. Os riscos
de contágio associados e as medidas restritivas impostas, especialmente a distância social e
o confinamento em casa, vieram a constituir-se como fatores de stresse adicionais, e nunca
antes vivenciados para a maioria das pessoas, mas com especial relevo para os de idade mais
avançada.
A vida em confinamento está associada ao isolamento total ou parcial do mundo exterior, e,
portanto, à redução substancial dos contactos sociais e dos afetos, bem como à impossibilidade
do contacto ou proximidade com a natureza. Locais como prisões, submarinos, bunkers milita-
res, estações científicas polares ou estações espaciais, podem ser classificados como ambientes
confinados. O estudo de ambientes confinados e da vida em ambientes confinados, apesar de ser
uma área pouco explorada até agora, evidencia que, quando as pessoas se vêm forçadas a viver
e permanecer durante algum tempo em locais confinados, estão sujeitas a fatores de stresse que
potencialmente afetam o seu bem-estar (Beldade, 2015; Krins, 2009). Por exemplo, um estudo de
Brasher e colegas (2010) revelou cronicidade de stresse em trabalhadores de submarinos, rela-
tivamente aos de navios. Em contrapartida, um largo conjunto de estudos tem vindo a mostrar
que a interação com ambientes naturais e espaços verdes está associada a um vasto conjunto de
benefícios para a saúde, contribuindo positivamente para o bem-estar, físico e mental. A intera-
ção com espaços naturais ou naturalizados, ou a mera exposição a estes, melhora o funciona-
mento cognitivo e emocional, reduz o stresse e facilita a recuperação física e mental da doença
(e.g., Bird, 2007; Bratman et al. 2015; Chen et al., 2018; Hartig et al., 2003; Hartig et al. 2014; Hel-
bich et al., 2018; Yu et al., 2020).
Tais capacidades atribuídas aos cenários (settings) naturais são explicadas por duas teorias
– a Teoria da Restauração da Atenção (ART, Kaplan & Kaplan, 1989) e Teoria da Recuperação ao
Stresse (SRT, Ulrich et al., 1991). A ART explica como os ambientes naturais captam a atenção
involuntária, facilitando a recuperação da fadiga mental (Hartig et al., 2014), dos recursos aten-
cionais e das capacidades cognitivas (e.g., Berto, 2014; Kaplan & Kaplan, 1989). A SRT sugere que
configurações naturais não ameaçadoras são evolutivamente preferidas. De acordo com Ulrich
(1983, 1991), a preferência estética por ambientes naturais impulsiona os benefícios afetivo-emo-
cionais e também os cognitivos. Ambientes visualmente prazerosos promovem a atenção invo-
luntária, mais automática e espontânea e menos exigente em termos cognitivos do que a atenção
voluntária, e, em consequência, promovem o afeto positivo e diminuem a excitação fisiológica,
facilitando a recuperação do stresse e fadiga mental (e.g., Browning et al., 2020; Hunter et al.,
2019; Ulrich et al., 1991). Os efeitos da interação ou exposição a ambientes naturais não amea-
çantes, como por exemplo parques urbanos, jardins residenciais e florestas, estão organizados
em três domínios (Markevych et al., 2017) – redução de danos, restauração de capacidades e
construção e desenvolvimento de novas capacidades. A título de exemplo observam-se efeitos
positivos na pressão sanguínea, batimento cardíaco, tensão muscular, níveis de cortisol, doenças
respiratórias e alergias, tempos de cicatrização e recuperação de doença, estado de humor, entre
outros (e.g., Hartig et al., 2003; Horiuchi et al., 2014; Park et al., 2010; Tsunetsugu et al., 2007). No
contexto de ambientes confinados e extremos, também Beldade et al. (2015) observaram que em