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A DEMÊNCIA OU DEPRESSÃO GRAVE: FATORES DE RISCO DO
ESTADO NUTRICIONAL EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS
DEMENTIA OR SEVERE DEPRESSION: NUTRITIONAL STATUS RISK FACTORS
IN INSTITUTIONALIZED ELDERLY
Ana Sofia Ferreira Albuquerque1, Maria Palma Mateus1, Paulo Filipe Henriques Marques Rodrigues Niza2,
Lúcia Filipa Guerreiro da Rocha2 & Nídia Maria Dias Azinheira Rebelo Braz1
PSIQUE • EISSN 21834806 • VOLUME XVII • ISSUE FASCÍCULO 2
1ST JULY JULHO  31ST DECEMBER DEZEMBRO 2021 PP. 7387
DOI: https://doi.org/10.26619/2183-4806.XVII.2.4
Submitted on 04.05.2021 Submetido a 04.05.2021
Accepted on 15.06.21 Aceite a 15.06.21
Resumo
Introdução: Portugal é um dos países mais envelhecidos da União Europeia, e mantém uma
tendência de envelhecimento demográfico. O estado nutricional tem um enorme impacto na
saúde e qualidade de vida dos idosos. Estudos recentes indicam que a população idosa portu-
guesa poderá atingir níveis significativos de desnutrão e em risco de desnutrição, com maior
prevalência nos institucionalizados.
Objetivos: Pretende-se caracterizar o estado nutricional de uma população idosa institucio-
nalizada, e identificar os fatores de risco que levam à degradação deste estado.
Metodologia: Estudo epidemiológico, observacional e transversal. Os dados foram recolhidos
usando o Mini Nutritional Assessment (MNA®). A amostra foi constituída por 322 indivíduos.
Resultados: 70.5% dos indivíduos inquiridos encontram-se em risco de desnutrão ou desnu-
tridos e 29.5% apresenta estado nutricional normal.
De entre os fatores de risco mais prevalentes destacaram-se a demência ou depressão grave
(46% nos desnutridos) e as situações de stresse (28.6% nos desnutridos).
Discussão e conclusões: A mobilidade e a funcionalidade revelam-se cruciais, uma vez que
apenas 4.2% dos indivíduos restritos ao leito ou cadeira de rodas apresentam estado nutricional
normal. Contrariamente, entre os indivíduos que são capazes de se alimentar sozinhos, sem difi-
culdade, 98.9% apresentam estado nutricional normal.
A avaliação regular do estado nutricional permite identificar os idosos em risco e promover
uma intervenção precoce.
Palavras-chave: Desnutrição; estado nutricional; fatores de risco; idoso; MNA.
1 Universidade do Algarve, Faro, Portugal.
2 Santa Casa da Misericórdia de Lagos, Lagos, Portugal.
Autor designado para os contactos: Ana Sofia Ferreira Albuquerque, Universidade do Algarve, Faro, Portugal, sofiaalbuquerque.
nutricao@gmail.com
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Ana Sofia Ferreira Albuquerque, Maria Palma Mateus, Paulo Filipe Henriques Marques Rodrigues Niza,
cia Filipa Guerreiro da Rocha & Nídia Maria Dias Azinheira Rebelo Braz
Abstract
Introduction: Portugals population is one of the oldest in the European Union, and the coun-
try keeps a trend of demographic aging. Nutritional status has a huge impact on the health and
quality of life of the elderly. Recent studies indicate that the Portuguese elderly may reach signif-
icant levels of malnutrition and at risk of malnutrition, with a higher prevalence among institu-
tionalized people.
Aim: It is intended to characterize the nutritional status of an institutionalized elderly popu-
lation, and to identify the risk factors that lead to the degradation of this state.
Method: This is an epidemiological, observational and cross-sectional study. Data were col-
lected using the Mini Nutritional Assessment (MNA®). Sample consisted of 322 individuals.
Results: 70.5% of the inquired are at risk of malnutrition or malnourished and 29.5% have
normal nutritional status.
Dementia or severe depression (46% in the malnourished) and stress situations (28.6% in the
malnourished) were among the most prevalent risk factors.
Discussion and conclusions: Mobility and functionality are crucial, since only 4.2% of indi-
viduals restricted to bed or wheelchair present normal nutritional status. Conversely, among
individuals who are able to feed autonomously without difficulty, 98.9% have normal nutritional
status.
The regular assessment of nutritional status allows identifying the elderly at risk and pro-
moting early intervention.
Keywords: Malnutrition; nutritional status; risk factors; elderly; MNA.
Introdução
Nos últimos anos, o número de indivíduos com mais de 60 anos tem aumentado compara-
tivamente a outras faixas etárias, em consequência da diminuição das taxas de fertilidade e
das mortes prematuras, conjugada com o aumento da esperança de vida (Madeira et al., 2020).
Estima-se que em 2025, um total de 1,2 mil milhões de indivíduos tenha mais de 60 anos, e que
em 2050, dois mil milhões de indivíduos se enquadrem nesta faixa etária, dos quais 80% viverão
em pses em desenvolvimento (World Health Organization, 2002). A distribuição entre géneros
não é uniforme, em 2012 existiam oitenta e quatro homens por cada cem mulheres com mais de
sessenta anos em todo o mundo (Fundo de População da Nações Unidas, 2012).
Portugal é um dos países mais envelhecidos da União Europeia e mantém uma tendência
de envelhecimento demográfico. De acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional
de Estatística, relativos ao ano de 2019, a população residente com idades compreendidas entre
65anos ou mais representa 22.1%. Estes mesmos dados indicam que em 2019 houve um aumento
de 175257 idosos, comparativamente a 2014. Assim, tal como no resto do mundo, o índice de
envelhecimento em Portugal tende a aumentar, e estima-se que quase duplique entre 2019 e
2080, passando de 163.2 para 300.3 idosos por cada 100 jovens (INE, 2020).
Em 2020 a esperança de vida da população portuguesa é de 80.9 anos sendo que a partir dos
sessenta e cinco anos é de 19.6. Estes dados também relatam que o sexo masculino apresenta
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A dencia ou depreso grave: fatores de risco do estado nutricional em idosos institucionalizados
uma esperança de vida de 78 anos, e a partir dos sessenta e cinco anos, uma esperança de vida de
17.7, enquanto a mulher tem uma esperança de vida superior, de 83.4 anos e a partir dos 65anos,
uma esperança de vida de 21 (INE, 2020).
As mudanças que constituem e influenciam o envelhecimento são complexas. Segundo
a Direção-Geral da Saúde (2006, p. 8): “Uma boa saúde é essencial para que as pessoas mais
idosas possam manter uma qualidade de vida aceitável e possam continuar a assegurar os
seus contributos na sociedade uma vez que as pessoas idosas ativas e saudáveis, para além de
se manterem autónomas, constituem um importante recurso para as suas famílias, comunida-
des e economias. Torna-se importante assegurar a melhor ligação entre o envelhecimento e o
declínio cognitivo e funcional, reduzindo e atrasando as alterações emocionais e os sintomas
depressivos, que influenciam diretamente a saúde, e em particular, o estado nutricional (Ama-
ral et al., 2016).
Um estado nutricional inadequado, por sua vez, compromete a qualidade de vida do idoso,
contribuindo para a alteração da função muscular, em resultado da diminuição da massa muscu-
lar e da força que por sua vez originam uma perda progressiva da mobilidade e funcionalidade,
diminuição da massa óssea, disfunção imunitária, alteração do estado cognitivo, fragilidade, má
cicatrização, maior tempo de permanência hospitalar, recuperação pós-cirúrgica lenta ou morte
(Duarte, 2017). Deste modo, contribui de forma significativa para o aumento da morbilidade e
mortalidade, com consequente recurso à hospitalização e institucionalização (Associação Portu-
guesa de Nutrição, 2013; Ferreira da Costa et al., 2013).
Os sinais e sintomas do processo de envelhecimento são muitas vezes confundidos com os
sinais de desnutrição, o que induz a uma intervenção inadequada e menos eficaz. A deteção
precoce de sinais de desnutrição através do rastreio do risco nutricional e da avaliação do estado
nutricional possibilita uma intervenção nutricional individualizada, capaz de reverter o quadro
de desnutrição e restabelecer as funções orgânicas, comprometidas por um estado nutricional
inadequado (Dias, 2017).
Cerca de 20 milhões de idosos nos países da União Europeia (UE) apresentam patologias
associadas à desnutrição, custando aos governos da UE um total de 120 mil milhões de euros
anuais. A Alemanha, o Reino Unido e a Irlanda, apresentaram custos anuais associados à desnu-
trição em idosos de nove mil milhões de euros em 2006, 15 mil milhões de euros em 2007 e 1.5 mil
milhões de euros em 2009, respetivamente (Freijer et al., 2013). A prevenção, o rastreio do risco
de desnutrição e a avaliação do estado nutricional nos idosos adquirem uma grande imporncia
e devem integrar os cuidados de saúde, de modo a reduzir as complicações clínicas associadas e
os consequentes gastos económicos (Dias, 2017).
Estudos recentes indicam que a população idosa portuguesa poderá atingir níveis signifi-
cativos de desnutrição e em risco de desnutrição. O projeto “Nutrition UP 65 – nutritional strate-
gies facing an older demography”, reporta que 14.8% da população idosa estudada apresenta risco
de desnutrição e 1.3%, está efetivamente desnutrida (FCNAUP, 2018). Madeira e a sua equipa,
no estudo Portuguese elderly nutritional status surveillance system (PEN-3S) analisaram 1120 ido-
sos portugueses a viver na comunidade, e concluíram que 0.5% da amostra estava desnutrida,
enquanto 16.4% se encontrava em risco de desnutrão. Verificou-se também que a prevalência
de desnutrição e do seu risco era superior no sexo feminino.
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cia Filipa Guerreiro da Rocha & Nídia Maria Dias Azinheira Rebelo Braz
Quando se analisaram idosos institucionalizados – 1186 indivíduos com uma idade média de
83.4 anos – o mesmo estudo de Madeira et al. (2018), revelou 4.8% dos idosos residentes desnutri-
dos e que 38.7% se encontravam em risco de desnutrição.
Os fatores que comprometem o estado nutricional na idade avançada são diversos, dos quais
se destacam a redução da massa corporal magra (músculo e osso) e a consequente diminuição
do metabolismo basal, alterações na mastigação e deglutição, perda de paladar, alterações gas-
trointestinais, patologias crónicas e agudas, polimedicação, perda ou diminuição da capaci-
dade sensorial, desidratação, patologias neuro psicológicas, tabagismo e alcoolismo (Associação
Portuguesa de Nutrição, 2013; Brownie, 2006). Muitos destes fatores comprometem a ingestão
alimentar e refletem-se na perda de apetite ou ausência da sensação da fome, fenómeno des-
crito comoanorexia do envelhecimento”, cuja fisiopatologia ainda só é parcialmente entendida
(Landi et al., 2016).
A ansiedade e a depressão são questões de saúde mental que têm sido fortemente associadas
ao risco de desnutrição. Um estudo realizado com 1558 homens e 1553 mulheres com idades com-
preendidas entre os 65 e 87 anos, evidenciou que quanto mais comprometida está a saúde mental
de um individuo, maior é o risco deste apresentar desnutrição (Kvamme et al., 2011).
A demência é uma síndrome neurológica de agravamento progressivo e sem cura. Estan-
drome provoca a atrofia de regiões cerebrais responsáveis pela regulação do apetite e do com-
portamento alimentar e origina alterações patológicas que contribuem para a evolução da ano-
rexia, para ausência de refeições por esquecimento e diminuição da capacidade de reconhecer e
selecionar os alimentos adequados, incapacidade para cozinhar, incapacidade de uso de talheres
e alterações na capacidade de mastigação e deglutição (Pessoa et al., 2020; Volkert et al., 2015). A
conjugação destas mudanças conduz à diminuição da ingestão alimentar e ao aumento do risco
de desnutrição (Volkert et al., 2015).
O nível de independência também tem sido fortemente associado ao estado nutricional (Par-
ente et al., 2018). Andre et al. (2012), verificaram em 2011, que os indivíduos desnutridos apresen-
tam uma maior prevalência de dependência (87.6%) comparativamente aos utentes com estado
nutricional normal (50.9%). Um estudo português realizado com 5373 idosos inscritos num Cen-
tro de Saúde em Bragança, verificou que os idosos independentes revelam maior probabilidade
de apresentar estado nutricional normal, quando comparados com os idosos com dependência
ligeira a moderada (p <.001) (Parente et al., 2018).
Segundo a declaração europeia de 2011 The Fight Against Malnutrition – Final Declaration,
todos os indivíduos residentes em instituições de cuidados a idosos, devem ser submetidos a ras-
treio nutricional de modo a detetar a presença de desnutrão (Nauki, 2011).
Torna-se então imperativo caracterizar o estado nutricional da população idosa utente deste
tipo de respostas sociais, bem como os fatores de risco que levam à degradação deste seu estado.
Método
Estudo epidemiológico, observacional e transversal, realizado em idosos em Estruturas Resi-
denciais para Pessoas Idosas (ERPI) e Centros de Dia (CD), no Algarve. A seleção das instituições
e participantes que constituíram a amostra foi não aleatória, de conveniência.
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A dencia ou depreso grave: fatores de risco do estado nutricional em idosos institucionalizados
Para a recolha dos dados aplicou-se a versão portuguesa completa do “Mini Nutritional Asses-
sment” – MNA®, que consiste num questionário destinado a determinar o risco nutricional da
população idosa, constituído por três partes: caracterização do individuo (sexo, idade, peso e
altura); triagem ou rastreio nutricional, composta por seis questões (diminuição da ingestão ali-
mentar, perda ponderal nos últimos três meses, Índice de Massa Corporal, ...); avaliação global,
composta por 12 questões (grau de autonomia, hábitos alimentares, circunferência branquial
(PB), circunfencia de panturrilha (PP), ...). Em cada questão, existe uma pontuação atribuída a
cada resposta e o somario das pontuações permite classificar os indivíduos em “estado nutri-
cional normal” para uma pontuação entre 24 e 30 pontos, “sob risco de desnutrição” para 17 a
23,5 pontos e “desnutrido” para < 17 pontos (Nestlé Nutrition Institute, 2009).
Os dados antropométricos (peso, altura e circunferências braquial e da panturrilha) foram
recolhidos de acordo com protocolos de referência e o índice de Massa Corporal (IMC), foi obtido
através do peso do indivíduo, em quilogramas, dividido pelo quadrado da altura, em metros. Os
pontos de corte utilizados para a análise do IMC foram os estabelecidos por Lipschitz para idosos
com idades superiores a 65 anos, segundo Souza et al. (2013) com as seguintes categorias: baixo
peso (<22 kg/m2); normoponderal (22 kg/m2 -27 kg/m2) e excesso de peso (> 27 kg/m2).
Utilizou-se o software IBM Statistical Package for the Social Science – SPSS® versão 24.0 (SPSS
Inc., Chicago, IL, USA) para a análise estatística. Para comparações entre dois grupos utilizou-se
o teste t-de-Student ou o teste de Mann-Whitney, para comparações de múltiplos grupos utilizou-
-se o teste de Kruskal-Wallis. Para analisar a associação entre variáveis calcularam-se os coefi-
cientes de correlação de Pearson e de Spearman.
Resultados
Caracterização da amostra
A amostra foi constituída por 322 indivíduos, dos quais 77% (n=248) estavam integrados numa
Estrutura Residencial para Idosos (ERPI) e 23% (n=74) em Centro de Dia (CD). A idade média dos
inquiridos é 84.5±7.3 anos, sendo a idade mínima encontrada de 65 e a máxima de 101 anos. Rela-
tivamente ao sexo, verificou-se que 70.5% dos indivíduos pertencem ao sexo feminino (n=227) e
29.5% ao sexo masculino (n=95). Em relação à mobilidade, 30.4% dos inquiridos estavam restritos
a cadeira de rodas ou acamados (n=98), 30.7% deambulavam, mas não eram capazes de sair de
casa sem ajuda de terceiros (n=99), e 38.8% apresentavam mobilidade normal (n=125). Quanto
ao estado de saúde, 9.3% da amostra não reporta nenhuma patologia diagnosticada (n=30), 82%
reporta uma a três patologias (n=264) e 8.7% quatro a seis patologias (n=28) (Tabela 1).
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TABELA1
Caracterização da Amostra
Total Homem Mulher
% n % n % n
Total 100 322 29.50 95 70.50 227
Idade
<75 11.5 37 3.4 11 8.1 26
75-84 32.9 106 12.7 41 20.2 65
>84 55.6 179 13.4 43 42.2 136
Resposta social
ERPI 77.0 248 23.6 76 53.4 172
CD 23.0 74 5.9 19 17.1 55
Mobilidade
Restritos a cadeira de rodas ou acamados 30.4 98 8.7 28 21.7 70
Deambulavam, mas não são capazes de sair
de casa sem ajuda de terceiros
30.7 99 9.3 30 21.4 69
Mobilidade normal 38.8 125 11.5 37 27.3 88
Patologias
0 9.3 30 3.4 11 5.9 19
Uma a três 82.0 264 23.3 75 58.7 189
Quatro a seis 8.7 28 2.8 9 5.9 19
n – Frequência absoluta; % – Frequência relativa; ERPI – Estrutura Residencial para Pessoas Idosas; CD – Centro de Dia.
Estado Nutricional
A recolha dos dados antropométricos peso e altura, foi condicionada pela mobilidade dos
inquiridos, tendo sido possível em 209 indivíduos. Nestes casos, calculou-se o respetivo IMC, que
apresentou um valor médio de 26.8±4.7 kg/m2, um máximo de 44.1 kg/m2 e um mínimo de 17.4
kg/m2. De acordo com os pontos de corte de Lipschitz, 14.0% dos indivíduos analisados enqua-
dram-se na categoria “baixo peso” (n=29), 41.0% na categoria “normoponderal” (n=85) e 45% na
categoria “excesso de peso” (n=95) (Tabela 2).
De acordo com os resultados obtidos, a média da pontuação total do MNA® para os 332 inqui-
ridos foi de 20.9±4.33 pontos, o que corresponde à classificação “sob risco de desnutrão, com
valores máximo de 29 pontos e mínimo de 8.5 pontos. A avaliação do risco nutricional mostrou
que 19.6% dos indivíduos se encontram desnutridos (n=63), 50.9% estão em risco de desnutrão
(n=164) e 29.5% apresentam estado nutricional normal (n=95) (Tabela 2).
Analisando os resultados por género, no sexo feminino, 22.9% das mulheres encontram-se
desnutridas (n=52), 50.2% em risco de desnutrição (n=114) e 26.9% enquadram-se na categoria de
estado nutricional normal (n=61). Em contrapartida, no sexo masculino existe uma prevalência
menor de indivíduos desnutridos 11.6% (n=11), uma maior prevalência de utentes sob risco de
desnutrição 52.6% (n=50) e também em estado nutricional normal 35.8% (n=34) (Tabela 2).
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A dencia ou depreso grave: fatores de risco do estado nutricional em idosos institucionalizados
Neste estudo observou-se uma média do PP de 30.94.1 cm, atingindo um máximo de 46,0
cm e um mínimo de 16 cm. Por sua vez, a média do PB foi de 25.3.8 cm, atingindo um máximo
de 39 cm e um mínimo de 13.5 cm (Tabela 2).
Analisando os resultados entre géneros, verifica-se que o sexo masculino apresenta uma
média de PP e PB superiores comparativamente ao sexo feminino: (PP: 32.11± 3.78 cm vs. 20.46
± 4.16 cm ) e (PB: 25.83 ± 3.71 cm vs. 24.75 ± 3.85 cm ) (Tabela 2).
TABELA2
Estado Nutricional
Total Homem Mulher Valor de p
% n % n % n
IMC categorias
kg/m2
(n=209)
Baixo peso 14.0 29 12.78 8 14.38 21 0.768a
Normoponderal 41.0 85 44.44 28 39.04 57
Excesso de peso 45.0 95 42.86 27 46.58 68
Categorias do Estado Nutricional
(n=322)
Desnutrido 19.6 63 11.6 11 22.9 52 0.0015*b
Sob risco de
desnutrição
50.9 164 52.6 50 50.2 114
Estado
nutricional
normal
29.5 95 35.8 34 26.9 61
Pontuação MNA®
(n=322)
M±DP 20.9 ± 4.33 21.88 ± 3.69 20.53 ± 4.53
Min; Max 8.50; 29.0 10.50; 27.50 8.50; 29.0
Perímetro da circunferência da panturrilha
cm
(n=322)
M±DP 30.95 ± 4.1 32.11 ± 3.78 20.46 ± 4.16 0.001**b
Min; Max 16.0; 46.0 23.0; 44.0 16.0; 46.0
Perímetro da circunferência branquial
cm
(n=322)
M±DP 25.1 ± 3.8 25.83 ± 3.71 24.75 ± 3.85 0.014*b
Min; Max 13.5; 39.0 16.30; 38.0 13.50; 39.0
n – frequência absoluta; % – frequência relativa; M – Média; DP – Desvio padrão; Min – valor mínimo; Max – valor máximo; ª valor de p – teste t de
student; b valor de p – teste de Mann-Whitney; * Diferenças estatisticamente significativas do estado nutricional entre sexos (p<.05); ** Diferenças
estatisticamente significativas do estado nutricional entre sexos (p<.001).
Verificou-se que existe uma correlação positiva moderada entre as categorias de IMC e a
pontuação do MNA® (coeficiente de correlação de Spearman ρ=0,390; p=.001, respetivamente).
Ao analisar a média da pontuação do MNA® nas categorias de IMC, verificou-se que os indiví-
duos com excesso de peso apresentam em média um estado nutricional normal (24,2,7 pontos
de MNA®). Em contrapartida, os indivíduos com baixo peso e eutróficos, apresentam em média
sob risco de desnutrição, 19.8±3.5 pontos e 22.5±3.1 pontos, respetivamente (p<.001) (Tabela 3).
Na categoria de desnutrido, o IMC mais prevalente é de baixo peso (64.3%), na categoria sob
risco de desnutrão é de normoponderal (48.6%), e na categoria estado nutricional normal é de
excesso de peso (65.9%) (Tabela 3).
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TABELA3
Relação entre IMC e Categorias do Estado Nutricional (n=209)
Pontuação MNA® Categorias do Estado Nutricional
M±DP Min; Max Desnutrido Sob risco de
desnutrição
Estado
nutricional
normal
r Valor
de pa
% n % n % n
IMC
categorias
kg/m2
(n=209)
Baixo peso 19,76 ± 3,47 13,50; 25,50 64.3 9 16.8 18 2.3 2
0,390** < .001**
Normoponderal 22,45 ± 3,16 13,50; 27,50 35.7 5 48.6 52 31.8 28
Excesso de peso 24,01 ± 2,68 17,00, 29,00 0.0 0 34.6 37 65.9 58
Total 22,78 ± 3,30 13,50; 29,00 100.0 14 100.0 107 100.0 88
M – Média; DP – Desvio pado; Min – valor mínimo; Max – valor máximo; n – frequência absoluta; % – frequência relativa; ª valor de p – teste de Kruskal
Wallis; ** Difereas estatisticamente significativas da pontuão do MNA® entre categorias do IMC (p <.001), r – correlão de Spearman.
Na Tabela 4, verifica-se que dos 248 indivíduos residentes em ERPI, 23,4% encontram-se des-
nutridos (n=58), 50,8% sob risco de desnutrição (n=126) e 25,8% enquadram-se na categoria estado
nutricional normal (n=64). Em CD, 6,8% dos indivíduos apresentam-se desnutridos (n=5), 51,4%
sob risco de desnutrição (n=38) e 41,9% estado nutricional normal (n=31). A análise através do
teste de Mann-Whitney revelou que as diferenças observadas são estatisticamente significativas
(p<.001).
TABELA4
Diferenças do Estado Nutricional entre Respostas Sociais
ERPI CD Valor de
pa
% n % n
Categorias do Estado Nutricional
(n=322)
Desnutrido 23.4% 58 6.8% 5
p < .001**
Sob risco de desnutrição 50.8% 126 51.4% 38
Estado nutricional normal 25.8% 64 41.9% 31
Total 100.0% 248 100.0% 74
Pontuação MNA®
(n=322)
M±DP 20.33 ± 4.41 22.95 ± 3.36
Min; Max 8.50; 29.0 13.50; 29.0
n – frequência absoluta; % – frequência relativa; ERPI – Estrutura Residencial para Pessoas Idosas; CD – Centro de Dia; M – Média; DP – Desvio padrão;
Min – valor mínimo; Max – valor máximo; n – frequência absoluta; % – frequência relativa; ª valor de p – teste de Mann- Whitney; ** Difereas esta-
tisticamente significativas da pontuação do MNA® entre respostas sociais (p < .001).
Na Tabela 5, é possível observar que a maioria dos indivíduos desnutridos apresentam idades
superiores a 85 anos (69.8%) e destes, 62.8% apresentam valores de PP inferiores a 31 cm.
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A dencia ou depreso grave: fatores de risco do estado nutricional em idosos institucionalizados
TABELA5
Relação entre a Idade e o Estado Nutricional
Categorias do Estado nutricional Circunferência da panturrilha
Desnutrido Sob risco de
desnutrição
Estado
nutricional
normal Valor de
PP<31cm PP≥31 cm Valor de pb
n % n % n % n % n %
Faixas
etárias
<75 5 7.9 21 12.8 11 11.6
0.002*
13 9.5 24 13.0
< .001**
75-84 14 22.2 54 32.9 38 40.0 38 27.7 68 36.8
>84 44 69.8 89 54.3 46 48.4 86 62.8 93 50.3
Total 63 100.0 164 100.0 95 100.0 137 100.0 185 100.0
Idade
(anos)
M±DP 87 ± 7 84 ± 7 84 ± 7 86 ± 8 83 ± 7
Min;
Max 65; 98 65; 101 65; 96 65; 101 65; 96
M – Média; DP – Desvio padrão; Min – valor mínimo; Max – valor máximo; n – frequência absoluta; % – frequência relativa; ª valor de p – teste de Kruskal
Wallis;b valor de p-teste de Mann-Whitney * Diferenças estatisticamente significativas da idade entre categorias do estado nutricional (p < .05); **
Difereas estatisticamente significativas da idade entre categorias do PP (p < .001).
Relativamente às categorias do PB, verificou-se que em todas as categorias do estado nutricio-
nal, o perímetro mais prevalente é superior a 22 cm. Também se observou que nenhum indivíduo
com estado nutricional normal apresentou um PB inferior a 21 cm. Relativamente às categorias
do PP verificou-se que todos os indivíduos desnutridos apresentaram um PP inferior a 31 cm. Por
sua vez, o PP≥31 foi o mais prevalente nas restantes categorias do estado nutricional (Tabela 6).
TABELA6
Relação entre Categorias do Estado Nutricional e Circunferências PP e PB
Total
(n=322)
Categorias do Estado nutricional
Valor de pª
Desnutrido
(=63)
Sob risco de desnutrição
(n=164)
Estado nutricional normal
(n=95)
n % n % n % n %
PB
PB<21 34 10.6 21 33.3 13 7.9 0 0.0
0.000**21≤PB≤22 26 8.1 7 11.1 17 10.4 2 2.1
PB>22 262 81.4 35 55.6 134 81.7 93 97.9
PP
PP<31 137 42.5 63 100.0 65 39.6 9 9.5 0.000**
PP≥31 185 57.5 0 0.0 99 60.4 86 90.5
n – freqncia absoluta; % – freqncia relativa em percentagem; PB – Circunferência branquial; PP – Circunfencia da Panturrilha; ª valor de p
segundo o teste de Kruskal Wallis; ** Difereas estatisticamente significativas do PB e PP entre as categorias do estado nutricional (p < .001).
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Ana Sofia Ferreira Albuquerque, Maria Palma Mateus, Paulo Filipe Henriques Marques Rodrigues Niza,
cia Filipa Guerreiro da Rocha & Nídia Maria Dias Azinheira Rebelo Braz
Fatores que afetam o estado nutricional
Na Tabela 7 verifica-se a existência de diferenças estatisticamente significativas nos fatores
que afetam o estado nutricional, 22.2% dos indivíduos desnutridos apresentam diminuão grave
da ingestão alimentar nos últimos três meses, enquanto apenas 2.2% dos indivíduos com estado
nutricional normal registam diminuição da ingestão alimentar (p < .001). Observou-se uma pre-
valência maior de perda de peso superior a ts quilos na categoria desnutrido (11.1%) compara-
tivamente às restantes categorias do estado nutricional (p < .001); 74.6% dos indivíduos desnutri-
dos estão restritos ao leito ou cadeira de rodas, comparativamente com 4.6% que apresentam um
estado nutricional normal (p < .001).
Os fatores psicológicos e neurológicos também apresentaram diferenças estatisticamente
significativas, 28.6% dos indivíduos desnutridos passaram por algum stresse psicológico; na
categoria “em risco de desnutrição” 25% dos indivíduos também passou por algum stresse e na
categoria “estado nutricional normal” apenas 13.7% apresentaram este fator (p < .05). A demência
ou depressão grave está presente em 46% dos indivíduos desnutridos, enquanto apenas 1.1% dos
indivíduos com estado nutricional normal apresentou este fator de risco (p < .001).
Relativamente a outros fatores que afetam o estado nutricional, verificou-se que 92,1% dos
indivíduos que se apresentam desnutridos não vivem na sua própria casa comparativamente
com 67.4% de indivíduos que apresentam um estado nutricional normal nesta situação enquanto
(p < .05); 81% dos indivíduos desnutridos bebem menos de três copos de água por dia enquanto
apenas 31,6% dos indivíduos com estado nutricional normal apresentam esta redução na inges-
tão de líquidos (p < .001); 42.9% não são capazes de se alimentar sozinhos, enquanto 98.9% dos
indivíduos com estado nutricional normal se alimentam sozinhos sem dificuldade (p < .001);
68.9% dos indivíduos desnutridos não sabem dizer se apresentam algum problema nutricional
enquanto 85.3% dos indivíduos com estado nutricional normal acreditam não ter um problema
nutricional (p < .001); 84.1% dos indivíduos desnutridos não sabem responder à questão “Em
comparação com outras pessoas da mesma idade, como considera o doente a sua própria saúde”,
enquanto 57.9% dos indivíduos com estado nutricional normal consideram a própria saúde igual
à dos outros (p < .001).
TABELA7
Relação entre Risco nutricional e Categorias do Estado Nutricional
Fatores de risco (MNA®)
Total
(n=322)
Categorias do Estado nutricional
Valor
de pª
Desnutrido
(=63)
Sob risco de
desnutrição
(n=164)
Estado
nutricional
normal
(n=95)
n % n % n % n %
Diminuição da ingesta
devido a perda de apetite,
problemas digestivos
ou diculdades para
mastigar ou deglutir, nos
últimos três meses
Diminuição
grave da ingesta
31 9.6 14 22.2 15 9.1 2 2.1
< .001**
Diminuição
moderada da ingesta
40 12.4 15 23.8 21 12.8 4 4.2
Sem diminuição da
ingesta
251 78.0 34 54.0 128 78.0 89 93.7
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Fatores de risco (MNA®)
Total
(n=322)
Categorias do Estado nutricional
Valor
de pª
Desnutrido
(=63)
Sob risco de
desnutrição
(n=164)
Estado
nutricional
normal
(n=95)
n % n % n % n %
Perda de peso nos
últimos três meses
Superior a três quilos 23 7.1 9 14.3 13 7.9 1 1.1
.001**
Não sabe informar 75 23.3 21 33.3 43 26.2 11 11.6
Entre um a três
quilos
12 3.7 7 11.1 4 2.4 1 1.1
Sem perda de peso 212 65.8 26 41.3 104 63.4 82 86.3
Mobilidade Restrito ao leito ou
cadeira de rodas
98 30.4 47 74.6 47 28.7 4 4.2
0.000**
Deambula, mas não
é capaz de sair de
casa
99 30.7 11 17.5 59 36.0 29 30.5
Normal 125 38.8 5 7.9 58 35.4 62 65.3
Algum stresse psicológico Sim 72 22.4 18 28.6 41 25.0 13 13.7 .029*
Não 250 77.6 45 71.4 123 75.0 82 86.3
Problemas
neuropsicológicos
Demência ou
depressão grave
82 25.5 29 46.0 52 31.7 1 1.1
0.000**Demência ligeira 73 22.7 17 27.0 35 21.3 21 22.1
Sem problemas
psicológicos
167 51.9 17 27.0 77 47.0 73 76.8
Vive na própria casa Não 248 77.0 58 92.1 126 76.8 64 67.4 .004*
Sim 74 23.0 5 7.9 38 23.2 31 32.6
Quantos copos de
líquidos (água, sumos,
café, chá, leite)
Menos de três copos 171 53.1 51 81.0 90 54.9 30 31.6
0.000**Três a cinco copos 96 29.8 9 14.3 52 31.7 35 36.8
Mais de cinco copos 55 17.1 3 4.8 22 13.4 30 31.6
Alimenta-se Não é capaz de se
alimentar sozinho
41 12.7 27 42.9 14 8.5 0 0.0
0.000**
Alimenta-se
sozinho, porém com
diculdade
31 9.6 13 20.6 17 10.4 1 1.1
Alimenta-se sozinho
sem diculdade
250 77.6 23 36.5 133 81.1 94 98.9
Considera ter algum
problema nutricional
Acredita estar
desnutrido
36 11.2 14 22.2 20 12.2 2 2.1
0.000**Não sabe dizer 135 41.9 44 69.8 79 48.2 12 12.6
Acredita não ter um
problema nutricional
151 46.9 5 7.9 65 39.6 81 85.3
Comparado com outros
como classica a própria
saúde
Pior 11 3.4 4 6.3 7 4.3 0 0.0
0.000**
Não sabe 165 51.2 53 84.1 92 56.1 20 21.1
Igual 119 37.0 5 7.9 59 36.0 55 57.9
Melhor 27 8.4 1 1.6 6 3.7 20 21.1
n – frequência absoluta; % – frequência relativa; ª valor de p segundo o teste de Kruskal Wallis; *Diferenças estatisticamente significativas dos
fatores de risco entre categorias do estado nutricional (p<.05); **Diferenças estatisticamente significativas dos fatores de risco entre as categorias
do estado nutricional (p<.001).
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Ana Sofia Ferreira Albuquerque, Maria Palma Mateus, Paulo Filipe Henriques Marques Rodrigues Niza,
cia Filipa Guerreiro da Rocha & Nídia Maria Dias Azinheira Rebelo Braz
Discussão de resultados
Neste estudo, verificou-se uma idade média de 84.5±7.27 anos, sendo que 55.6% dos indiví-
duos apresentam idades superiores a 85 anos, seguindo a tendência nacional do aumento da lon-
gevidade e de resultados encontrados em outros estudos realizados em Centros de Dia e Estrutu-
ras Residenciais para Pessoas Idosas, (INE, 2020; Madeira et al., 2018; Parente et al., 2018).
Verificou-se neste estudo que o sexo feminino predomina em número (70.5% vs. 29.5%).
Estes resultados vão ao encontro dos valores das estatísticas nacionais, que indicam que a 31
de dezembro de 2019, Portugal, apresentava uma população residente predominante do sexo
feminino (4 859 977 homens vs. 5 435 932 mulheres) (INE, 2020). O mesmo se verificou no estudo
PEN-3S com idosos institucionalizados (72.8% de mulheres e 27.2% de homens) (Madeira et al.,
2018) e no projeto Nutrition UP 65 – nutritional strategies facing an older demography, com idosos
a viver autonomamente na comunidade, em que a amostra foi constituída por 872 mulheres e 627
homens (FCNAUP, 2018).
Os resultados sobre índice de massa corporal (IMC) assemelham-se também aos do mesmo
estudo onde 44.3% e 38.6% da população idosa apresentavam excesso de peso e obesidade, res-
petivamente, enquanto 0.2% se enquadravam na categoria de baixo peso (FCNAUP, 2018).
Gama e a sua equipa, em 2020, realizaram um estudo com 443 idosos de instituições do con-
celho de Lisboa, e verificaram uma média de IMC de 29.75.22 kg/m2. Do total da amostra, 69.5%
dos participantes apresentavam excesso de peso e obesidade, 25.8% eutrofia e 4.7% baixo peso,
havendo diferenças estatisticamente significativas entre sexos (Homem: média IMC 27.6±4.4 kg/
m2 vs. Mulher: média IMC 30.4±5.3 kg/m2; p<.001). No presente estudo não se encontraram dife-
renças estatisticamente significativas.
Os resultados da aplicão do MNA® indicam que 19.6% dos indivíduos se encontram des-
nutridos, 50.9% sob risco de desnutrão e 29.5% enquadram-se na categoria estado nutricional
normal. A prevalência de desnutrição e de indivíduos em risco de desnutrão encontrada no
presente estudo é elevada, quando comparada com a descrita noutros estudos portugueses que
observaram em idosos na comunidade, uma prevalência de 1.3% e 0.5% para o risco de desnutri-
ção e de 14.8% e 16.4% para desnutrição, nos estudos Nutrition UP 65 e PEN-3S, respetivamente
(FCNAUP, 2018; Madeira et al., 2020). Estes resultados vão de encontro a outros que indicam que
os idosos institucionalizados apresentam uma probabilidade maior de sofrer de desnutrão
(Cereda, 2012; Madeira et al., 2018).
Ao comparar o estado nutricional entre sexos, verificou-se que o sexo feminino apresenta
uma maior prevalência de desnutrição comparativamente ao sexo masculino (p<0.05). Relati-
vamente à relação entre as categorias do estado nutricional e o IMC, observou-se que a maioria
dos utentes desnutridos apresentam baixo peso (64.3%), na categoria sob risco de desnutrição, o
IMC mais prevalente é o de normoponderal (48.6%), e na categoria estado nutricional normal a
maioria apresenta excesso de peso (65.9%) (p<.001). Estes resultados, vão de encontro aos obtidos
pelo estudo PEN-3S, em que verificaram que, na categoria estado nutricional normal, existe uma
maior prevalência de obesidade (68%), na categoria sob risco de desnutrão, o IMC normoponde-
ral foi o mais prevalente (52.9%), e na categoria de desnutrição, a maioria apresentava baixo peso
(39%) (p<0,001) (Madeira et al., 2018).
No estudo PEN-3S, verificou-se uma percentagem de estado em risco de desnutrição sig-
nificativamente maior nos indivíduos com faixa etária superior (Madeira et al., 2018), situação
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A dencia ou depreso grave: fatores de risco do estado nutricional em idosos institucionalizados
também verificada no presente estudo, em que a maioria dos indivíduos desnutridos apresentam
idades superiores a 85 anos (69.8%) (p<.001).
A circunfencia da panturrilha avalia a depleção muscular e, esta está associada ao risco
nutricional (Melo, 2015). Os resultados encontrados indicam que todos os utentes desnutridos
apresentam a circunfencia da panturrilha abaixo do limite crítico, inferior a 31 cm (p<.001).
A literatura relata a existência de uma correlação negativa entre a idade e a circunferência
da panturrilha (Melo, 2015). Neste estudo, observou-se uma média de idade de 86±8 anos entre os
indivíduos com PP<31 cm e uma média de 87 anos entre os indivíduos com PP≥31 cm (p<.001).
Outros fatores, como a diminuição grave da ingestão alimentar e a perda de peso superior a
três quilos nos últimos 3 meses, a diminuição ou ausência de mobilidade e a perda de autonomia
apresentaram prevalências elevadas com significado estatístico (p<.001), entre os indivíduos des-
nutridos ou em risco de desnutrão. Têm sido descritos resultados semelhantes noutros estudos,
que apontam para existir uma associação entre a dependência funcional, a ingestão alimentar e
o risco de desnutrição (Andre et al., 2012; Fonseca, 2009; Madeira et al., 2018; Parente et al., 2018).
Foram ainda encontradas diferenças estatisticamente significativas entre respostas socias
neste estudo, verificando-se uma maior prevalência de desnutrição nos utentes em ERPI compa-
rativamente aos utentes em CD (p<.001). Sabe-se que os utentes de Centro de dia são mais inde-
pendentes que os utentes das estruturas residenciais. Um estudo realizado em Portugal, revelou
que o estado nutricional está diretamente associado ao nível de independência em cada uma das
atividades básicas da vida diária, bem como ao nível de indepenncia global (p <.001), sendo
que se verificou uma maior probabilidade de estado nutricional normal nos idosos independen-
tes, face aos idosos com dependência ligeira e moderada (p<.001) (Parente et al., 2018).
As alterações da saúde mental, como ansiedade, depressão e demência, estão fortemente
associadas ao risco de desnutrição (Kvamme et al., 2011; Madeira et al., 2018; Volkert et al., 2015).
No presente estudo, verificou-se que 28.6% dos indivíduos desnutridos passaram por algum
stresse psicológico e que apenas 13.7% dos indivíduos com estado nutricional normal também
presenciaram deste fator (p<0,05). Tendo-se observado ainda uma maior prevalência de indiví-
duos desnutridos com demência ou depressão grave (46%) (p<.001).
Apesar da concordância entre os presentes resultados e os estudos semelhantes referidos,
a generalização destes resultados carece de fundamentação em trabalho futuro, a realizar com
metodologia de amostragem que garanta a sua representatividade.
Conclusões
A prevalência de desnutrição e o risco de desnutrão encontrados neste estudo são rele-
vantes e superiores ao observado noutros estudos realizados em Portugal, tendo-se verificado
que 70.5% dos indivíduos se encontram sob risco de desnutrão ou desnutridos, o que reforça a
necessidade de avaliação precoce e sistemática de todos os institucionalizados.
De entre os fatores de risco mais prevalentes destacaram-se a demência ou depressão grave,
e as situações de stresse.
A mobilidade e a funcionalidade revelam-se cruciais para o estado nutricional, uma vez que
apenas 4.2% dos indivíduos restritos ao leito ou a cadeira de rodas apresentam estado nutricional
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Ana Sofia Ferreira Albuquerque, Maria Palma Mateus, Paulo Filipe Henriques Marques Rodrigues Niza,
cia Filipa Guerreiro da Rocha & Nídia Maria Dias Azinheira Rebelo Braz
normal. Contrariamente, entre os indivíduos que são capazes de se alimentar sozinhos sem difi-
culdade, 98.9% apresentam estado nutricional normal.
Estes trabalhos contribuirão para a adoção de estratégias alternativas para o envelhecimento
com saúde e qualidade de vida, em idades cada vez mais avançadas.
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