Issue 2 | 1st July – 31st December 2020
Fascículo 2 | 1 de julho – 31 de dezembro 2020
XVI
VOLUME
UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA
e-ISSN 2183-4806
FREE | GRATUITO
Issue 2 | 1st July – 31st December 2020
Fascículo 2 | 1 de julho – 31 de dezembro 2020
XVI
VOLUME
UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA
e-ISSN 2183-4806
FREE | GRATUITO
PSIQUE | Volume XVI | Issue 2 | 1st July – 31st December 2020
Semiannual Publication. Scientic Journal of the Centre for Research in Psychology – CIP – from the Universidade
Autónoma de Lisboa – Luís de Camões.
PSIQUE is a scientic journal in Psychology published by the Centre for Psychology of the Universidade
Autónoma de Lisboa.
Since 2005, PSIQUE has been publishing original papers in the scientic eld of Psychology, in its
several elds of specialization, in open access and free of charge.
From 2018, it is a semi-annual journal publication from 1st January to 30th June and from 1st July to
31st December.
Aims and Scope
It is particularly aimed at psychology researchers, lecturers and students but also at general readers
who are interested in this eld of science.
Psique publishes advances in basic or applied psychological research of relevance for understanding
and improving the human condition in the world. Contributions from all elds of psychology addressing
new developments with innovative approaches are encouraged. Articles that (a) integrate perspectives
from dierent areas within psychology; (b) study the roles of physical, social and cultural domains in
human psychological processes; or (c) include psychological perspectives from dierent regions in the
world are particularly welcomed.
The journal publishes papers in Portuguese, Spanish, French and English.
Directory: Repositório Cientíco de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP).
Databases: Repositório Institucional da Universidade Autónoma de Lisboa (Camões).
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PSIQUE | Volume XVI | Fascículo 2 | 1 de julho – 31 de dezembro 2020
Publicação semestral. Revista Cientíca do Centro de Investigação em Psicologia – CIP – da Universidade Autónoma
de Lisboa – Luís de Camões.
A Psique é uma revista cientíca em Psicologia, editada pelo Centro de Investigação em Psicologia da
Universidade Autónoma de Lisboa.
Desde 2005 publica artigos originais e comunicações na área cientíca da Psicologia, nos seus vários
domínios de especialização, de acesso livre e gratuito.
É um periódico semestral, a partir de 2018, com data de publicação de 1 de janeiro a 30 de junho e de
1 de julho a 31 de dezembro.
Âmbito e Objetivos
Dirige-se particularmente a investigadores, docentes e estudantes em Psicologia, mas também aos lei-
tores em geral que se interessem pelo conhecimento desta ciência.
A Psique publica avanços na investigação cientíca básica ou aplicada, em Psicologia, com relevância
para compreender e melhorar a condição humana no mundo. A Psique encoraja a submissão de con-
tribuições de todos os campos da Psicologia, produzindo novos desenvolvimentos cientícos, através
de abordagens inovadoras. Particularmente bem-vindos são os artigos que: (a) integram perspetivas de
diferentes áreas da Psicologia; (b) estudam o papel dos domínios físico, social e cultural nos processos
psicológicos humanos; ou (c) integram perspetivas psicológicas de diferentes regiões do mundo.
A revista aceita artigos em Português, Espanhol, Francês e Inglês.
Diretórios: Repositório Cientíco de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP).
Base de Dados: Repositório Institucional da Universidade Autónoma de Lisboa (Camões).
Indexação: Academic Search (EBSCO Publishers)
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DOI: https://doi.org/10.26619/2183-4806.XVI.2
e-ISSN: 2183-4806
Title tulo: Psique
Site: https://cip.autonoma.pt/revista-psique/
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Periodicity: Semiannual Periodicidade: Semestral
Editor in Chief Director: João Hipólito
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Este trabalho é nanciado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia – no âmbito do
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TABLE OF CONTENTS ÍNDICE
Editorial
Maria Luísa Ribeiro 7
Intervenção psicológica à distância em tempos de pandemia: da revisão de literatura à reexão prossional
Remote psychological intervention inpandemictimes: fromliterature review to professional reection
BeatrizSilva, OdeteNunes, RuteBrites, JoãoHipólito 8
Equilíbrio família-trabalho: considerações apartir dapandemia do COVID-19 para o trabalho
eaaprendizagem em casa
Family-Work Balance: Considerations from the COVID-19 Pandemic for Work and Learning at Home
Liliana Faria, Nazaré Loureiro 22
Ansiedade e depressão como fatores de interferência naqualidade de vida de pessoas com esclerose
múltipla
Anxiety and depression as interference factors in the quality of life of people with multiple sclerosis
Daniele Batista de Sousa, Jislaine de Oliveira da Silva, Thais Mira Simandi,
Dyana Gervana de Oliveira Fernandes, Dra Ana Maria Canzonieri, Dr Carlos Bandeira de Mello Monteiro 34
Construção e evidências iniciais de validade de uma escala brasileira de identicação nacional
Development of a Brazilian scale of national identity and preliminary evidence of validity
Samuel Lins, Juliane Borsa, Sara G. Alves, Rúben Silva 48
Author Instructions
Instruções aos Autores 63
Reviewers instructions
Instruções aos Revisores 67
7
PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVI • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2020
NOTA EDITORIAL
As palavras são, na minha opinião pouco humilde, a nossa fonte inexaurível de magia. Capaz tanto de infligir
danos como de os remediar.
Albus Dumbledore, em Harry Potter.
Esta edição é o resultado de muitas ações de pessoas comuns, unidas numa intenção comum. Foi essa
colaboração e entreajuda, em condições exigentes, no meio de uma pandemia mundial, e apesar de mui-
tas limitações de tempo e espaço, que permitiu que mais uma edição da Psique estivesse completa, reu-
nindo as palavras de quatro artigos originais.
Em sintonia com os esforços da comunidade científica de outras áreas, como a Medicina, Biologia e Epi-
demiologia, os rios autores da área da Psicologia continuaram também as suas investigações, no sen-
tido de melhorar a saúde dos indivíduos nas várias áreas da sua vida. Neste número partilhamos com os
leitores quatro trabalhos bem diversos, abarcando as áreas da Psicologia Clínica, Organizacional e Social.
O nosso primeiro artigo apresenta-nos um estudo sobre intervenção psicológica efetuada à distância,
tendo ocorrido exatamente durante o segundo período de confinamento em Portugal. Apesar deexis-
tirem anteriores práticas de intervenção psicológica à disncia, e estudos sobre o tema, o contexto pan-
démico poderá trazer aqui uma caracterização particular deste tipo de intervenção, tornando este tipo
de estudos particularmente pertinente.
Também a situação de confinamento tornou ainda mais relevante a imporncia do equilíbrio entre a
área laboral e a familiar, quer para a saúde do indivíduo, quer para o bem-estar de todos os elementos
da família, e a produtividade no trabalho. Esta é a temática abordada pelo segundo artigo, fazendo uma
revisão atual do conhecimento desta temática.
O reconhecimento da visão holística do ser humano, e da interação e interdependência entre aquilo que
tradicionalmente é visto como “doença psicológica e “doença física, tem sido um dos desenvolvimentos
mais importantes nas rias ciências que estudam a saúde humana. Esta ideia é central ao terceiro traba-
lho apresentado neste número da Psique, relacionando algumas das doenças psicológicas mais prevalen-
tes, a ansiedade e a depressão, com a esclerose múltipla.
O nosso quarto artigo dedica-se a um tema de cariz mais sociológico, propondo uma escala específica
para a Identidade Nacional. Durante um acontecimento global que torna ainda mais claro a nossa inter-
dependência como habitantes do mesmo planeta, pensar na nossa identidade e como ela reflete a nossa
cultura nacional, é um exercício interessante.
A todos o meu sentido agradecimento: à Direção da Psique, pela perseveraa na manutenção deste pro-
jeto, aos colegas editores, no trabalho incansável para que este projeto tenha frutos, aos autores, que nos
confiam o seu trabalho, aos revisores, que asseguram a qualidade do que apresentamos e ajudam os auto-
res a melhorar, aos editores-assistentes que asseguram que não haja uma vírgula fora do sítio, e a toda a
equipa atrás da capa, que asseguram que tudo chegue da melhor forma aos leitores. E claro, aos leitores,
pela sua preferência.
Que o novo número da Psique nos chegue em melhores condições mundiais.
Maria Luísa Ribeiro
8
INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA À DISTÂNCIA EM TEMPOS
DE PANDEMIA: DA REVISÃO DE LITERATURA À REFLEXÃO
PROFISSIONAL
REMOTE PSYCHOLOGICAL INTERVENTION INPANDEMICTIMES:
FROMLITERATURE REVIEW TO PROFESSIONAL REFLECTION
BeatrizSilva1, OdeteNunes2, RuteBrites3, JoãoHipólito4
PSIQUE • EISSN 21834806 • VOLUME XVI • ISSUE FASCÍCULO 2
1ST JULY JULHO  31ST DECEMBER DEZEMBRO 2020 PP. 821
DOI: https://doi.org/10.26619/2183-4806.XVI.2.1
Submited on March 17th, 2021
Submetido a 17 de março de 2021
Resumo
Nocontexto atual de pandemia de COVID-19, tornou-seimperiosaa utilização dastecnolo-
gias para a prática de intervenções psicológicas à distância, na tentativa de mitigar opotencial
impacto desta situação na saúde mentaldos indivíduos, sem aumentar o risco de infeção epro-
pagação do vírus.A revisão deliteraturainicial teve por objetivo analisar a evidência científica
sobre o sucesso e as características deste tipo de intervenção,por comparação com asinterven-
çõespsicológicaspresenciais. Os dados, ainda quenãoconsensuais, demonstram poucas dife-
renças significativas, sobretudo considerando a perspetiva do cliente e a aliança terapêutica.
No entanto, diversos autores alertam para as diferenças entre os dois tipos de intervenção, na
medida em que em presença se consegue desenvolver uma relação terapêutica efetiva e de
qualidade. A partir desta revisão de literatura, os autores refletem sobre os aspetos idiossincráti-
cos das intervenções psicológicas presenciais, os quais as tornam impossíveis de replicar, à dis-
tância.
Palavras-Chave: Relação terapêutica – COVID-19–Intervenções online – Comunicação
Abstract
In the current context of theCOVID-19 pandemic, the use of technologies for remote psy-
chological interventions has becomeimperioustomitigate the potential impact of this situation
1 Centro Universitário de Psicologia e Aconselhamento, Universidade Autónoma de Lisboa,Lisboa, Portugal blopestomas@
autonoma.pt
2 CIP – Centro de Investigação em Psicologia, Departamento de Psicologia, Universidade Autónoma de Lisboa, Lisboa, Portugal 
onunes@autonoma.pt
3 CIP – Centro de Investigação em Psicologia, Departamento de Psicologia, Universidade Autónoma de Lisboa, Lisboa, Portugal 
rbrites@autonoma.pt
4 CIP – Centro de Investigação em Psicologia, Departamento de Psicologia, Universidade Autónoma de Lisboa, Lisboa, Portugal 
jhipolito@autonoma.pt
9
PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVI • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2020 pp. 8-21
BeatrizSilva, OdeteNunes, RuteBrites, JoãoHipólito
on the mental health of individuals,without increasing the risk of infection and spread of the
virus. The initial literature review aimed to analyse the scientific evidence on the success and
characteristics of this type of intervention, by comparison with face-to-face psychological inter-
ventions. The data, although not consensual, show few significant differences, especially consid-
ering the client’s perspective and the therapeutic alliance. However, several authors warn about
the differences between the two types of intervention, as only in presence can an effective and
quality therapeutic relationship be developed. From this literature review, the authors reflect on
the idiosyncratic aspects offace-to-facepsychological interventions, which make them impos-
sible to replicate at a distance.
Keywords:Therapeutic relationship – COVID-19 –Online interventions –Communication
O novo coronavírus SARS-CoV-2(SevereAcuteRespiratorySyndromeCoronavírus 2)foi
identificado pela primeira vez no final de 2019, na China. Este vírus propagou-se pelo mundo
inteiro e é responsável pela doença Covid-19 (CoronavírusDisease-[20]19), cuja transmissão ocorre
através da libertação de gotículas com partículas virais respiratórias, transmissíveis de pessoa
para pessoa (Direção Geral daSaúde [DGS], 2020;Zhuetal., 2020).Atualmente, a nível mundial, a
pandemia de COVID-19 desencadeoua implementaçãodevárias medidas de prevenção em várias
partes do mundo, nomeadamente a que se tem designado de distanciamentofísico.Astentativas
decontrolodesta doença têm passado pela implementação de medidasde saúde pública, sobres-
saindo o isolamento, a quarentena e o distanciamento social (Centron&Landwirth, 2005;Cen-
tron& Simone, 2004; Reynoldsetal., 2008;Wilder-Smith &Freedman, 2020).
O isolamento consiste na separação de indivíduos com doenças contagiosas, dos indiví-
duosnãoinfetados, de modo a proteger estes últimos (Wilder-Smith &Freedman, 2020). A qua-
rentena é uma das mais antigas e eficazes ferramentas para controlar surtos de doenças conta-
giosas, e consiste na restrição das interações de indivíduos que, presumidamente, tenham sido
expostos a uma doença contagiosa, mas que não se encontram doentes, seja por não terem sido
infetados ou por ainda o exibirem sintomas (Wilder-Smith &Freedman, 2020). O distancia-
mentofísicofoi desenhado para reduzir as interações entre as pessoas, numa comunidade abran-
gente, em que os indivíduos podem estar infetados, mas ainda não terem sido identificados e,
consequentemente, não terem sido isolados (Wilder-Smith &Freedman, 2020).
Estas medidas, úteis ao nível da prevenção e da erradicação da CVID19,não são inócuas nas
suas consequências.Tem-se constatado que as reações psicológicas da população, durante e após
o surto (Cullen,Gulati, & Kelly, 2020), desempenham um papel crítico na propagação da doença
e na ocorrência de sofrimento emocional e desorganização social. Assim, as necessidades da
globalidade da pessoa não devem ser negligenciadas,pois que os fatores psicológicos têm uma
importância acrescida na adesão às medidas de saúde pública, e na gestão da ameaça de infeção
e consequentes perdas (Taylor, 2019).
No que respeita ao distanciamento físico, rios autoresdescrevem asconsequências nega-
tivas para a saúde mental e bem-estar dos indivíduos, a curto e longo prazo (Galea, Merchant,
&Lurie, 2020).Também os indivíduos sujeitos à quarentena (surto de SARS-CoV) experienciaram
um impacto psicológico maior do que a populaçãogeral (Reynoldsetal., 2008), havendo uma
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Intervenção psicogica à distância em tempos de pandemia:
da revisão de literatura à refleo profissional
percentagem significativa de indivíduos com perturbações do foro psicológicocomo consequên-
cia das restrições de liberdade (Hawrylucketal., 2004).
Torna-se assim urgente o recurso dos profissionais de saúde mental a diferentes formas tec-
nológicas para realizar intervenções à distância (Liu, Yangetal., 2020) que possibilitem intervir
de forma positiva no sofrimento da pessoa, tanto no contexto atual como no contextopós-pan-
demia(Ho,Chee, & Ho, 2020;Orr et al., 2020).
Assim, estas medidas de prevenção edeerradicação da infeção tiveram efeito em duas fren-
tes”. Por um lado, um potencial aumento de problemas de saúde mental; por outro, a priorizão
do uso de tecnologias digitais como meio de diminuir a distância social e proporcionar um acesso
cil a serviços de saúde mental, sem aumentar o risco de infeção (Merchant &Lurie, 2020;Rajku-
mar, 2020).
IntervençõesPsicológicasàDistância
Do ponto de vista histórico, constata-se que as intervenções psicológicas à distância emergi-
ram na internet, emmodalidadeonline,por volta de 1982, através de grupos de autoajuda (Kanani
& Regehr, 2003). Contudo, o atendimento psicológico por telefone é uma prática quejá remonta à
década de 50 (Godleski,Nieves,Darkins, &Lehmann, 2008;Scharff, 2013).
As condicionantes e consequências resultantes da pandemia COVID-19aceleraram ocresci-
mento exponencial das intervenções psicológicas à disncia,comouma alternativa às interven-
ções presenciais tradicionais (Banburyetal., 2018; Barak,Klei, &Proudfoot, 2009;Chakrabarti,
2015;Foreman-Tran, 2019;Gloff,LeNoue,Novins, &Myers, 2015;Grist,Croker,Denne, &Stallard,
2019; Kahlon, Lindner, & Nordgreen, 2019; Richardson, Frueh, Grubaugh, Egede, & Elhai,
2009;Spooneretal., 2019;Whealin,Seibert-Hatalsky,Howell, & Tsai, 2015).
Esta forma de eliminar adistância, geográfica, temporal, ou até circadiana (Gradyetal., 2011)
possibilita estabeleceracomunicaçãode forma síncrona (em tempo real), ou asncrona, em fun-
ção do meio tecnológico utilizado. Segundo vários autores, as intervenções à distância visam,
essencialmente,facilitar o acesso aos serviços de saúde mental e reduzir a estigmatização asso-
ciada à utilização dos mesmos (Bird,Chow,Meir, &Freeman, 2019; Bush, Armstrong, &Hoyt,
2019; Chakrabarti, 2015; Edirippulige, Levandovskaya, & Prishutova, 2013; Joyce, 2012; Mor-
landetal., 2013;Whealinetal., 2015). A intervenção por videoconfencia é a que mais se asse-
melha às do tipopresencial, por possibilitar que os intervenientesse vejam e ouçam em tempo
real(Berger, 2017).
Segundo a revisãode literaturaefetuada,estetipo de intervenção nãoreúne o consenso dos
investigadores, verificando-sequeraenumeração de aspetos positivosquera referência a des-
vantagens.Nadefesa dosaspetos positivosé realçada amaiorabrangência geográfica,aalgumas
ofertademeios apopulaçõesmais isoladas(Aboujaoudeetal., 2015;Chakrabarti, 2015;Mac-
Donell & Prinz, 2017; Morland, Poizner, Williams, Masino, & Thorp, 2015; Whealin et al.,
2015);oaumento de possibilidades aosindivíduoscom limitaçõessicas ou psicológicas (ex:ago-
rafobia).
Por outro lado, a flexibilidade e a conveniência também representam uma vantagem des-
tasintervençõespermitindofazer escolhas, tais como,a localização e o dispositivo, tanto pelos
clientes como pelospsicólogos; aconstituão de umgrupointegrando indivíduosde diferentes
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PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVI • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2020 pp. 8-21
BeatrizSilva, OdeteNunes, RuteBrites, JoãoHipólito
localizações geográficas;a poupança de custos por não existir a necessidade deinfraestruturas;a
flexibilidade na organização dos horários; o dispêndio de menos tempo nas deslocações(Abou-
jaoudeetal., 2015;Gradyetal., 2011;MacDonell&Prinz, 2017;Morlandetal., 2013;Safdarietal.,
2019;Shrecketal., 2020). Tambémé enfatizadoobem-estar e conforto dos clientes, surgindo a
opinião que a intervenção à distânciaproporcionamaior privacidade.
Os autores que encontram obstáculos e desvantagens assinalam a ausência de contacto
humano; o potencial impacto na aliança terapêutica; a sensação de pouca intimidade ou proxi-
midade; a ausência de calor humano; a fácil interrupção do processo terapêutico; os problemas
de conexão tecnológica; aeventualpouca experiência no uso dos meios tecnológicos (MacDo-
nell&Prinz, 2017;Safdarietal., 2019); a preocupação com a falta de um espaço privado; a inse-
gurança no que respeita à confidencialidade (Aboujaoudeetal., 2015;Safdarietal., 2019);aredu-
ção na recolha de informação obtida pelos indicadores não-verbais (Aboujaoude et al.,
2015;Gençetal., 2019;Kocsis&Yellowlees2018;MacDonell&Prinz, 2017;Shrecket al., 2020);
easincertezas acerca de algumas implicações legais e éticas.
No que diz respeito à eficácia ecomparando os tipos de intervenção (à distância e presencial),
rios estudos assinalam não ter encontrado diferenças ao nível da eficácia, nomeadamente em
problemáticas tais como adepressão(Berryhilletal., 2019;Osenbachet al., 2013; Yang,Vigod,
&Hensel, 2019),perturbaçõesde ansiedade (Bouchardetal.,2004; Rees &Maclaine, 2015; She-
pherdetal., 2006;Tuerk,Yoder, Ruggiero,Gros, &Acierno, 2010;Yuenetal., 2010), perturba-
çõesrelacionadas com oálcool(Slone,Reese,&McClellan, 2012;Tarp,Bojesen,Mejldal, & Nielsen,
2017),perturbaçãoobsessiva compulsiva (POC,Himleetal., 2006;Stubbings, Rees, &Roberts,
2015), insónia (Lichstein et al., 2013); PSPT (Morland et al., 2014; Shreck et al., 2020), psicose
(Sharp,Kobak, &Osman, 2011).
Relação terapêutica
SegundoRogers(1942), a relação terapêutica representa um tipo de relação social, diferente
de qualquer outra que os clientes possam ter experienciado. O afeto e a responsividade por
parte dospsicoterapeutastornam possível a criação de uma ligação que, gradualmente, se desen-
volve numa relação emocional mais profunda. Nesta relação, existe totalaberturano que toca à
expressão de sentimentos; a aceitação do que é dito, a ausênciadejulgamento e a compreensão
por parte dos psicólogospromovemuma sensação que permite que os clientes reconheçam que
todos os sentimentos e atitudes podem ser expressos.
Do ponto de vista dos clientes, existe uma respostaà atmosfera de liberdade moral. Estes
apercebem-se de que não necessitam das habituaisdefesas”psicológicas para justificar o seu
comportamento, nem sentem que ospsicólogos os culpam, elogiam, apoiam ou que estão con-
tra eles. Consequentemente, os clientes podem, muitas vezes pela primeira vez na sua vida, ser
eles próprios de uma forma genuína, eliminando os mecanismos de defesa e compensações, que
lhes permitem confrontar-se com o mundo em geral.Assim,a relação terapêuticaédefinidatam-
bémpelo que não acontece – não são feitos julgamentos morais nem pressões para seguir deter-
minadas linhas de ação (Rogers, 1942).
Rogers (1951) considera que o sucesso de uma intervenção psicológica está associado ao
modo como os clientes experienciam as particularidades inerentes à relação terapêutica. Nas
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da revisão de literatura à refleo profissional
intervenções presenciais tradicionais, existem evidências de que uma boa relação facilita o
trabalho terapêutico, através da criação de um clima que promove a mudança (Fckigeretal.,
2020;Horvath,DelRe,Fckiger, &Symonds, 2011;Noyce& Simpson, 2018). Considerando que as
intervenções psicológicas, através de tecnologias, influenciam a díade clínica de modos únicos
no que toca ao envolvimento dos clientes (Stubbingsetal., 2015)é,pois,natural que surjam preo-
cupações acerca do impacto que a tecnologia pode ter neste tipo de relação (Aboujaoudeetal.,
2015).
No entanto,numa revisão de literatura sobre a relação terapêuticaà distância(Simpson &
Reid, 2014)constatou-seque, no geral, os clientes e os psicólogos atribuemclassificações altas
a esta relação, mesmo com internet lenta e imagem e áudio de qualidade.Referem, ainda,
quea)uma relação terapêutica pobre não implica a ausência de progresso no processo terapêu-
tico, principalmente se forem utilizadas técnicas psicológicas apropriadas; b) a relação tera-
utica estabelecida por videoconferênciaétão forte quanto a relação estabelecida presencial-
mente;c)os clientes afirmam beneficiar da intervenção, mesmo quando não existe uma relação
forte (Noyce& Simpson, 2018);d)os psicólogos consideram que a relação se vai fortalecendo ao
longo do processo terapêutico. Um outroestudo(Berger, 2017) demonstrou que, independente-
mente da modalidade de comunicação, os clientes avaliam a relação terapêutica construída à dis-
ncia, de um modo praticamente equivalente à relação estabelecida presencialmente.Talsugere
que, do ponto de vista dos clientes, pode ser estabelecida uma relação positiva nas intervenções
à distância, independentemente do modo como a sessão é providenciada e da modalidade de
comunicação.Reeseetal(2016)demonstraramque, após uma sessão de atendimento, os clientes
avaliaram a relação terapêutica de um modo similar,independentemente dea sessãoserpresen-
cial, por telefone ou via videoconferência, reforçando que os vários formatos baseados em tec-
nologia não prejudicam a relação terapêutica. Por fim, um estudo recente, comparou as relações
terapêuticas estabelecidas em intervenções presenciais e à disncia e concluiu que estas eram
equivalentes (Flückigeretal., 2020).
De acordo com os autoressupramencionados,as intervenções presenciais e à disnciapodem
originar resultados equivalentes, mesmo que a relação terapêutica seja avaliada como mais fraca,
sugerindo que esta relação pode ter um impacto reduzido noresultado finalda intervenção(Had-
jistavropoulos,Pugh,Hesser, & Andersson, 2017;Norwood,Moghaddam, Malins, &Sabin-Farrell,
2018; Rees & Stone, 2005).
A satisfação e bem-estar dos clientes são influenciados pela qualidade da relação (Reeseetal.,
2016). Também osclientes que sentem um maior controlo e espaço pessoal durante o processo
terapêutico, mostram-se mais ativos nestas sessões do que nas presenciais (Simpson & Reid, 2014).
É possível que este facto se deva a uma sensação de empoderamento e responsabilidade dos
clientes, na relação terapêutica (Berger, 2017).É,ainda, sublinhado que, do ponto de vistades-
tes,as intervenções à distânciatornamas relaçõesmais igualitárias e, simultaneamente, menos
geradoras de ansiedade paraestes(Kocsis, &Yellowlees, 2018;Shrecketal., 2020)
Independentemente da orientação terapêutica, os psicólogos que providenciam as condições
propostas porRogers(1975)-nomeadamente a atitude de empatia-têm maisprobabilidade de
estabelecer uma boa relação terapêutica e atingir um melhor resultado que os psicólogos que
não o fazem (Witty, 2007).Um elevado nível decompreensão empáticanuma relação é, possivel-
mente, um dos fatores mais potentes na produção de mudanças e aprendizagem (Rogers,1975).
SegundoReeseetal(2016)os psicólogos exibem níveis semelhantes decompreensãoempática,
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independentemente do formatoem queprovidenciam os seus serviços,sendo queestesfazem
ajustes frequentes, de modo a expressarem empatia e calor,de uma forma mais ativa (Simpson
& Reid, 2014).
Não obstantea existência devários estudos indicadores de que a relação terapêutica pode
ser estabelecida com sucesso através de uma intervenção psicológica à disncia, ainda exis-
tem preocupações entre alguns profissionais, relativamente aos efeitos das tecnologias, como
por exemplo, as potenciais perdas de informação não-verbal edeintimidade (Berger, 2017;Koc-
sis&Yellowlees2018; Sharpetal., 2011); os limites e impedimentos técnicos de comunicação,a
diminuão deconfidencialidade e privacidade,a atenção deresponsabilidades legais e outras
questões éticas (Kirkwood, 1998;Lustgarten&Colbow, 2017; VanAllen&Roberts, 2011);bar-
reiras culturais potencialmente exacerbadas (Shreck et al., 2020); a influência das limitações
impostas pela distância física, a capacidade de criar um espaço de atendimento de segurança
e conforto para o cliente (MacDonell&Prinz, 2017;Shrecket al., 2020); limitação da informação
observável pelos psicólogos, desde que os clientes chegamao espaço de consultaaté ao momento
que entram na sala de atendimento (e.g., onde estão sentados, como e com quem interagem,
cheiro, aspeto geral, como andam); falta de controlo da temperatura, ruído ou privacidade da
sala onde os clientes se encontram e a impossibilidade de realizarem gestos empáticos, como a
oferta de um lenço de papel num momento de necessidade. Estes aspetos podem levar a que os
clientes sejam atendidos num espaço demasiado estimulante, com distrações, impedindo-os de
se focarem ou sentirem confiança para uma abertura total (Shrecketal., 2020).
Dados estes aspetos, talvez venha a ser necessária uma alteração na maneira como a relação
terapêutica tem sido estudada até aqui, tendo em conta que, através das tecnologias, esta relação
parece adquirir características não exploradas porBordin(1979).
A situação portuguesa
Em Portugal, a prática da intervenção psicológica à distância parece ainda carecer de
investigação. A pesquisa efetuada em várias bases de dados, revelou a existência de um único
estudo sobre as intervenções psicológicas neste formato, no contexto português, efetuado em
2019, por Gamito. No entanto, a escassez de investigação nesta áreapode não significar a exis-
tência de uma escassez de prática, tendo em conta que a maioria dos profissionais da amostra
deste estudo, praticava ou tinha praticado intervenções psicológicas à distância. Ficou assim
demonstrado, que estes psicólogos portugueses, com grande variedade de idades, estabelecem
contratos terapêuticos com os seus clientes, de forma verbal, e recorrem essencialmente à plata-
forma de videoconferência para providenciarem os seus serviços remotos, por ser o método mais
similar ao atendimento presencial, apesar da maioria não aplicar testes de avaliação psicológica
à distância. Parece haver uma tendência destes psicólogos para extrapolar as regras e técnicas
da prática presencial para a prática remota, sem uma reflexão cuidada, sobre a aquisição de for-
mação e certificação (Gamito, 2019).
O contexto atual tem exigido respostas rápidas e intervenções psicológicas que contenham
a evolução de alterações psicopatológicas e, subsequentemente, previnam comportamentosmal
adaptativose um vasto leque de perturbações emocionais (Orretal., 2020). Na tentativa de miti-
gar estes efeitos, têm sido implementadas várias estratégias e intervenções terapêuticas por todo
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da revisão de literatura à refleo profissional
o mundo, sem que Portugal seja exceção. A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) criou no seu
website, uma área dedica à COVID-19 (OPP, 2020a), onde tem vindo a publicar vários materiais
informativos,psicoeducativose com várias recomendações, dirigidos às diversas populações,
desenvolvidos com o propósito de ajudar a aumentar a motivação para lidar com os desafios
emocionais emergentes. Adicionalmente, a OPP tem disponibilizado diversoswebinarse docu-
mentos de apoio à prática, com o objetivode promover a formão e desenvolvimento profissio-
nal, e tem também incentivado a participação dos psicólogos em fóruns, visando a promoção do
autocuidado e supervisão. Ademais, tem sido visível o investimento prioritário em investigação
de qualidade, com o intuito de avaliar a abrangência dos problemas de saúde mental, e iniciar o
mais rapidamente possível, a constrão e implementação de intervenções direcionadas para as
consequências pós-pandemia (OPP, 2020a, 2020b).
Desde cedo que a OPP colocou também à disposição de todos os psicólogos, uma formação
gratuita, em torno dos processos de atendimento telefónico, denominada “Guia de Orientação
para Linha de Atendimento Telefónico em Fase Pandémica COVID-19” (OPP, 2020c). Esta forma-
ção foi criada com o objetivo de gerar linhas de orientação gerais, que possam orientar a prática
profissional dos psicólogos e, consequentemente, ajudar as pessoas a lidar com as suas emoções,
facilitar as tomadas de decisão face à situação, reduzindo os riscos de infeção, desadaptação
social e de conflito e, comoresultado final, promover a adoção de comportamentos pró-saúde e
pró-sociais.
Da revisão à reflexão profissional
A pandemia de COVID-19 e os esforços para a conter, representam uma ameaça únicaem
termos da saúde mental dos indivíduos,conduzindoàimplementação de intervenções psicoló-
gicas à distânciaque visem mitigar o seu impacto (Galeaetal., 2020). Até ao momento, tem sido
observada uma resposta vigorosa e multifacetada dos profissionais, assim como uma evidente
consideração da saúde mental a rios níveis (Rajkumar, 2020), sendo que é imperativo que se
continue a apurar a eficácia destas intervenções, tendoem conta que após a emergência de saúde
públicapoderá surgir uma emergência de sofrimento psicológico (Orretal., 2020).
Independentemente da controvérsia que ainda permanece, foi demonstrado que este tipo
de intervenção oferece soluções eficientes e eficazes, para compensar algumas lacunas de outras
metodologias implementadas (Baraketal., 2009;Foreman-Tran, 2019;McCordetal., 2015). Por
exemplo, a videoconferência tem vindo a tornar-se um elemento central das intervenções de
saúde pública, por representar um todo de contacto que envolve voz e vídeo e, por isso, ser
considerado como superior a outras plataformas, como o email e mensagens detexto (Galeaetal.,
2020;Morlandetal., 2015). Através desta tecnologia, os sistemas de saúde poderão oferecer maior
conveniência, acesso e eficiência, a custos reduzidos, promovendo o controlo pessoal do cliente
(Bushetal., 2019; Vincent,Barnett,Killpack,Sehgal, &Swinden, 2017).
Os defensores deste tipo de intervenção tecnológica afirmam que os aspetos inerentes
ao processo-como a relação terapêutica-são equivalentes às intervenções presenciais e que,
apesar da inexistência de comunicão não-verbal, os psicólogos experientes têm a capacidade
de estabelecer relações terapêuticas de proximidade, afeto e empatia, e despoletar nos clientes
sentimentos de positividade, estimulação emocional e uma sensação de estarem a ser ajudados.
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Adicionalmente, salientam que este tipo de intervenção providencia anonimato, conveniência e
fácil acesso a populações com acesso limitado ao apoio psicológico presencial, devido a dificul-
dades de transporte, limitações físicas e necessidade de anonimato, gerada por timidez ou medo
de interações cara-a-cara.
Dado que o crescente desenvolvimento da investigação nesta áreanão acompanha a pida
evolução tecnológica, ainda não existem evidências suficientes para afirmar queas interven-
ções psicológicas à distânciapodem substituir totalmente as intervenções psicológicas presen-
ciais (Berryhilletal., 2019;Erbeetal., 2017;Gristetal., 2019;Hollisetal., 2017;Kocsis&Yellow-
lees2018).Este tipo de intervenção à distância assenta essencialmente na comunicação verbal
ou dialógica, na medida em que o meio privilegiado éapalavra (oral ou escrita), apresentando
algum empobrecimento na comunicação não verbal ou analógica. Facto que é comum a qualquer
dos meios tecnológicos utilizados.
Apesar deste meio proporcionar também informação anagica (imagem, som), continua
a não poder ser equiparável à potencialidade da comunicação presencial, na qual estas duas
vertentes da comunicão estão presentes, permitido uma riqueza comunicativa que propor-
cionaaos intervenientes da interação uma apreensão total das emoções e sentimentos transmiti-
dos no aqui e agora da relação.
Como é sobejamente afirmado pelas teorias da comunicação, para além da palavra existem
outros indicadores, talvez mais subtis, que permitem uma descodificação mais aprofundada das
mensagens emitidas, como otipo de timbre da voz, a expressão mímica, a postura, a respiração,
o cheiro,a transpiração,o ritmo respiratório e o olhar, entre outros.
Nas intervenções psicológicas realizadas à distância, a maior parte dos mbolos comuni-
cacionais de tipo analógico não estão presentes, dificultando ou reduzindo a essência das men-
sagens implícitas. Como exemplo, referimos a importância da sintonia do olhar, o qual numa
interaçãoonlinenão es presente. Cada interveniente pode olhar para a câmara, mas a corres-
pondência visual interativa não existe,pois,cada um olha para o vazio da distância. Não há cum-
plicidadee reciprocidadeno olhar nem a possibilidade de ser feita a descodificão das men-
sagens atravésdo cruzamentodeolhares, importanteaspeto na construção de uma seguraa
mútua, isto é, as dimensões sensorial e emocional são claramente distorcidas ou significativa-
mente filtradas.
Partindo deste exemplo, consideramos que, do ponto de vista da apreensão do outro, o estar
em presença aumenta a compreensão e a apreensão do mundo do outro pela diversidade de
níveis comunicacionais presentes na interação e que facilitam a constrão da relação de forma
consistente, possibilitando o encontro existencial.
Os oponentes desta prática demostram-se reticentesperantea ideia de recorrer às tecnolo-
gias, devido a problemas de confidencialidade e regulação, tais como qualificações e licenças de
praticante, treino, experiência, desafios técnicos, conhecimento das leis de um determinado país
e dificuldades com gestão de crises.
Faria, Brites, Paulino e Silva (2020) salientam a pertinência dasintervenções à distância, espe-
cificamente em situações em que o modelo teórico na base da intervenção não prioriza a relação
como fator preponderante para a mudaa do cliente.Quando falamos de intervenções terapêu-
ticas, é fundamental definir o tipo, os contextos, os objetivos e o modeloteórico que sustenta o
técnico. Num contextoespecíficode relação de ajuda (ex:psicoterapia), existem perspetivas cujo
tratamento é mediado essencialmente pelo impacto que a experiência relacional desencadeia
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da revisão de literatura à refleo profissional
namudança construtiva e reorganizadora da pessoa vulnevel. Assim, se umas perspetivas são
estruturadas em torno dos aspetos relacionais, emocionais e afetivos, contudo, existem outras
centradas nas dimensões cognitivas, valorizando mais atécnica e o recurso a manuais,sendo
adimensão relacionalmenosvalorizada.
Apesar dasvantagens referidas mantém-seacontrovérsia, em parte,devido às contínuas
preocupações dos clientes e psicólogos, acerca do impacto que a tecnologia pode ter na rela-
ção terapêutica (Aboujaoudeetal., 2015;Berger, 2017), sobretudo ao nível daaliança terapêu-
tica,considerada um componente essencial para o sucesso de uma intervenção psicológica (Ber-
ger, 2017;Rogers, 1951). Por esse motivo, a sua construção tem sido investigada nas intervenções,
tanto presenciais como à distância (Flückigeretal., 2020).
Como tal, torna-se fundamental continuar a desenvolver a investigação sobre este tipo de
intervenção, sobretudo focada na vivência do terapeuta (interveniente indispensável do pro-
cesso terapêutico),mediada por umquadroespaço-tempo, que parcialmenteo terapeutanão con-
trola.Ocontínuo desenvolvimentodas tecnologiasexigeuma nova análise do que é percebido
e aceite como“relações humanas, reavaliando o que é apropriado para ser realizado através de
tecnologiaà disnciaou presencialmente (Tait, 1999).Porventura, assumir que são intervenções
naturalmente diferentes, em canais comunicacionais distintos, em vez de procurar legitimar as
semelhanças entre dois tipos de intervenção.
Referências
Aboujaoude, E., Salame, W., & Naim, L. (2015).Telementalhealth: A status update.World Psychiatry,14,
223–230.http://doi.org/10.1002/wps.20218
Banbury, A., Nancarrow, S., Dart, J., Gray, L