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CARACTERIZAÇÃO DO BURNOUT EM PROFISSIONAIS
DESAÚDEEMPORTUGAL: UM ARTIGO DE REVISÃO
BURNOUT CHARACTERIZATION IN HEALTH PROFESSIONALS
IN PORTUGAL: A REVIEW ARTICLE
Nuno Álvaro Caneca Murcho
1
, José Eusébio Palma Pacheco
2
PSIQUE • EISSN 21834806 • VOLUME XVI • ISSUE FASCÍCULO 1
1
ST
JANUARY JANEIRO  30
TH
JUNE JUNHO 2020 PP. 823
DOI: https://doi.org/10.26619/2183-4806.XVI.1.4
Submited on May, 2019
Submetido em maio, 2019
Resumo
O objetivo desta pesquisa é contribuir para um melhor conhecimento da síndrome de bur-
nout nos profissionais de saúde em Portugal. É um estudo de revisão sistemática, sem metalise,
da literatura publicada entre 2015 a 2019 sobre a problemática do burnout nestes profissionais,
a partir da consulta dos estudos publicados neste âmbito, disponíveis nas bases de dados DOAJ,
SciELO e RCAAP, baseado nos princípios da metodologia PRISMA, utilizando os descritores
Burnout” e “Burnout Syndrome. Os critérios de inclusão foram: serem estudos pririos de tipo
descritivo e quantitativo relativos a esta síndrome, medida através do Maslach Burnout Inventory
(MBI); realizados com profissionais de saúde em Portugal entre 2015 a 2019; e apresentarem as
prevalências para esta síndrome. Concluímos que, apesar de a maioria de estes profissionais não
apresentarem burnout, há uma prevalência de 30% desta síndrome nos mesmos, que é preocu-
pante, sendo maior para a exaustão emocional e para a eficácia profissional reduzida, embora
estes resultados não possam ser generalizados porque as amostras foram de conveniência, o que
é uma limitação encontrada. Sugere-se assim, a realização de estudos alargados, com utilização
de amostragens probabilísticas, visando também outros aspetos relacionados com a saúde men-
tal ocupacional nestes profissionais, designadamente a ansiedade e a depressão.
Palavras-Chave: Burnout, Profissionais de Saúde, Revisão Sistemática Sem Metanálise, Portugal.
Abstract
The objective of this research is to contribute for a better knowledge of the burnout syn-
drome in health professionals in Portugal. It is a systematic review without meta-analysis, of
1
Núcleo de Formação Profissional, Administração Regional de Saúde do Algarve, IP, Faro, Portugal. E-mail: nunalvaro@net-
cabo.pt
2
Escola Superior de Saúde, Universidade do Algarve, Faro, Portugal. E-mail: jpacheco@ualg.pt
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the literature published between 2015 and 2019, about the problematic of burnout in these pro-
fessionals, from the consultation of published studies in this area, available in the databases
DOAJ, SciELO e RCAAP, based on the principles of the PRISMA methodology, using the descrip-
tors “Burnout” e “Burnout Syndrome. The inclusion criteria were: to be primary studies of a
descriptive and quantitative type related to this syndrome, measured through the Maslach Burn-
out Inventory (MBI); conducted with health professionals in Portugal between 2015 to 2019; and
which present the prevalences for burnout. We conclude that, although most of these profession-
als do not present burnout, there is a prevalence of 30% of this syndrome in the same profession-
als, which is worrying, being higher to the emotional exhaustion and to the reduced personal
efficacy, however these results cannot be generalized because convenience samples were used,
which is a limitation found. We propose the realization of extended studies, using probabilistic
sampling, also aiming other aspects related to occupational mental health of these professionals,
namely anxiety and depression.
Keywords: Burnout, Health Professionals, Systematic Review Without Meta-Analysis, Portugal.
A incidência dandrome de burnout e o seu reconhecimento têm vindo a aumentar subs-
tancialmente nos últimos anos, como uma das consequências mais significativas do stresse labo-
ral, de acordo com os resultados de diversos estudos realizados em muitos países (International
Labour Organization [ILO], 2016).
Na verdade, estandrome tornou-se epidémica e transversal no mundo laboral, entre outras
razões pela perda do valor intrínseco do trabalho, a globalização da economia, a tecnologia, a
redistribuição do poder e da diminuição da responsabilidade social, e ao nível dos trabalhadores,
pelos sentimentos de sobrecarga, perda de controlo, de recompensa desadequada pelo trabalho
feito, de colapso da comunidade, de tratamento injusto e da existência de valores conflituantes
(ILO, 2016; Maslach, & Leiter, 1997).
O que levou a que, se inicialmente a maioria estudos incidiam em trabalhadores de servi-
ços humanos, nomeadamente nas profises assistenciais, como os profissionais de saúde, ou
professores, mais tarde vieram a abranger outro tipo de profissionais, como biblioterios, polí-
cias, militares, administradores, estudantes, informáticos, religiosos, entre outros (Maslach et al.,
2001; Treviño-Reyes et al., 2019). Deste modo, podemos dizer que desde que surgiu até aos nossos
dias, este conceito foi evoluindo, quer no que concerne às populações estudadas, como aos p-
prios modelos explicativos deste construto (Treviño-Reyes et al., 2019).
Assim, e embora seja usual a literatura mencionar que foi Freudenberg em 1974, quem primeiro
descreveu esta síndrome, como sendo um estado de fadiga ou frustração surgido pela devoção a
uma causa, por uma forma de vida ou por uma relação que fracassou no que respeita à recompensa
esperada (Marôco et al., 2016; Maslach et al., 2001; Silva & Neto, 2018; Silva et al., 2016), contudo, há
referências de que já antes, em 1969, Bradley se tenha referido ao burnout, ao descrever as alterações
de atitudes e comportamentos de fadiga e desmotivação em polícias (Treviño-Reyes et al., 2019).
Fazendo uma breve resenha dos modelos explicativos deste constructo, podemos dizer que
genericamente, estes se podem classificar em modelos compreensivos, que englobam os mode-
los elaborados a partir da teorias sociocognitivas do Eu, de intercâmbio social e organizacional,
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e em modelos de processo, que englobam o modelo tridimensional do Inventário de Burnout de
Maslach (Maslach Burnout Inventory [MBI]), o modelo de Edelwich e Brodsky, o modelo de Price e
Murphy e o modelo de Gil Monte (Treviño-Reyes et al. 2019).
De qualquer forma, considerando que o modelo explicativo mais utilizado é o de Maslach e
Jackson (Marôco et al., 2016), nomeadamente para explicar esta síndrome nos servos humanos,
como é o caso dos serviços de saúde (Treviño-Reyes et al. 2019), e uma vez que a população alvo
deste estudo é constituída por profissionais de saúde, então será este o modelo que utilizaremos.
Este conceito foi aprofundado e desenvolvido por Maslach e colaboradores em 1984, definin-
do-o como uma síndrome multifatorial que surge nos trabalhadores, resultante do stresse ocupa-
cional crónico e prolongado, afetando principalmente aqueles profissionais que entram nas suas
carreiras com índices elevados de motivação, de envolvimento pessoal e de ideais, e que poste-
riormente se sentem frustrados por não conseguirem alcaar os objetivos que se haviam (ideal-
mente) traçado, sendo que é mais caraterística em indivíduos com profissões onde existe intera-
ção/ajuda com ou tras pessoas (Maslach et al., 1996; Maslash & Leiter, 1997; Maslach et al., 2001).
Para estes autores, o burnout é constituído por três dimensões que são a exaustão emocional
(EE), que é dimensão central do burnout, refletindo a sua componente de stresse, a despersona-
lização ou cinismo (Cn), que se manifesta pelo distanciamento emocional para com os outros, o
qual surge como uma reação imediata à EE, e a reduzida realização pessoal ou eficácia profissio-
nal reduzida (EPR), (Maslach et al., 1996; Maslash & Leiter, 1997; Maslach et al., 2001).
A partir deste modelo, desenvolveram um instrumento de avaliação do burnout, já anterior-
mente mencionado, que é o MBI, o qual foi originariamente desenhado para medir estandrome
nos profissionais de serviços humanos, passando mais tarde este instrumento a ser designado
como MBI – HSS (Human Services Survey, ou Avaliação de Serviços Humanos), e que rapidamente
se popularizou internacionalmente, sendo ainda hoje o instrumento de eleição utilizado no
diagnóstico deste problema nos profissionais destes serviços, embora posteriormente Maslach
e colaboradores tenham desenvolvido outras duas versões, uma destinada a avaliar o burnout
em profissões de ensino e outra destinada a avaliar o burnout noutras profissões que não as que
trabalham em serviços humanos ou de ensino, que se designam respetivamente como MBI – ES
(Educators Survey, ou Avaliação de Educadores) e MBI – GS (General Survey, ou Avaliação Geral)
(Marôco et al., 2016, Maslach et al., 1996).
Na leitura dos resultados do MBI – HSS, considera-se que existe burnout quando os scores são
elevados para a EE e para o Cn e baixos para a EPR (Maslach et al., 1996).
A síndrome de burnout pode ocorrer quando há uma desconexão entre a organização e o
indivíduo relacionada com algumas áreas principais da vida laboral, como os valores, justiça,
comunidade, recompensa, controlo e carga de trabalho, sendo frequentemente o resultado de
alguns fatores psicossociais como uma carga de trabalho elevada ou descontrolada (exigências
quantitativas e emocionais), ambiguidade de papéis, alterações organizacionais, baixa satisfa-
ção laboral e de realização pessoal, desequilíbrio entre a vida pessoal e profissional, relações
pessoais pobres, baixo suporte no trabalho e violência no local de trabalho, incluindo o assédio
(Faria et al., 2019; ILO, 2016; Marôco et al., 2016).
Estandrome pode levar, se não for devidamente intervencionada, ao surgimento de alguns
sintomas como cefaleias, insónia, desordens do sono e do apetite, cansaço e irritabilidade, insta-
bilidade emocional e rigidez nas relações sociais, e em alguns casos, também está associada com
o consumo de substâncias psicotrópicas e alcoolismo, bem como à hipertensão arterial e enfarte
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do miordio, e em casos mais graves ao suicídio, para além de se traduzir em termos organiza-
cionais, em baixa produtividade, absentismo e presenteísmo, erros e conflitos no trabalho (Faria
et al., 2019; ILO, 2016; Marôco et al., 2016).
Alguma da literatura consultada, menciona a associação de fatores sociodemográficos com
o burnout designadamente, o estado civil, as habilitações literárias a idade e o sexo, sendo men-
cionado que os indivíduos solteiros, com um maior grau de habilitações literárias e académicas,
mais jovens ou de sexo feminino, apresentam níveis mais elevados de burnout, e que os indi-
víduos de sexo feminino manifestam uma maior vulnerabilidade à EE e os indivíduos de sexo
masculino ao Cn (ILO, 2016; Marôco et al., 2016; Martins, 2017; Silva et al., 2015).
De referirmos ainda a este respeito, que a maior vulnerabilidade no sexo feminino à EE e no
sexo masculino ao Cn, pode estar relacionada com o facto de as mulheres responderem de forma
mais emotiva a situações de stresse laboral (Martins, 2017), e também de serem mais afetadas
pelos fatores psicossociais relacionados com o trabalho, como o duplo papel que desempenham
em casa e no trabalho ou os papéis de género e as influências das expetativas sociais (ILO, 2016),
em associação com fatores culturais, como a socialização e os estereótipos de papel de género,
levando a que os homens tenham uma maior tendência a reprimir os conflitos internos e a mani-
festação de sentimentos e emoções, e a apresentar estratégias de gestão de coping mais focadas
no problema e na evitação, bem como na relação entre género e ocupação (e.g., profissões mas-
culinas e profissões femininas) (Houkes et al., 2011; Maslach et al., 2001).
Por outro lado, a maior vulnerabilidade dos indivíduos com maior grau de habilitações e mais
jovens, pode estar relacionada com os níveis e capacidade para gerir expetativas profissionais, as
quais são mais elevadas nos indivíduos com maior habilitação, os quais também eventualmente
poderão ter mais responsabilidades e níveis de stresse mais elevados, e mais jovens (ILO, 2016;
Martins, 2017; Maslach et al., 2001).
Considerado como um problema epidémico, esta síndrome apresenta uma maior prevalência
em alguns grupos profissionais, como os profissionais de saúde, e tem sido apontado como uma
das situações de doença profissional da área da saúde mental mais relevante nestes profissionais,
entre outros aspetos, devido ao contacto quotidiano com pessoas debilitadas/doentes, terem que
lidar com relações interpessoais tensas e hierárquicas nas instituições de saúde, e pela estrutura
do horário de trabalho (turnos com trabalho noturno) que podem contribuir para a sua sobre-
carga física, cognitiva e emocional, destacando-se a particular vulnera bilidade de enfermeiros e
médicos ao desenvolvimento de burnout (Marôco et al., 2016).
A este respeito ainda, de mencionarmos que a literatura tem apresentado prevalências para
o burnout global muito variadas, que no caso dos profissionais de saúde, nos estudos de base
amostral alargada mais recentes, se situa em valores que variam entre 4.1% a 47.8%, em Portugal
(Marôco et al., 2016; Reis, 2019) e 12% a 70% na Europa ((Reis, 2019; Sousa-Ferreira et al., 2017),
oque dificulta a comparação das diferentes prevalências, podendo ter relação com as diferenças
nos tamanhos nas amostras bem como das metodologia adotadas (Houkes et al., 2011).
O crescente interesse da comunidade científica sobre o burnout, tem levado à discussão
sobre a sua inclusão como doença nos sistemas de classificação nosológica internacionais como
a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) da
Organização Mundial de Saúde (OMS) ou o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações
Mentais (DSM) da Associação Americana de Psiquiatria (APA), embora a este respeito não tenha
havido ainda consenso, uma vez que para alguns autores esta síndrome é entendida como um
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fenómeno contínuo, que resulta de uma forma de anstia crónica que es relacionada com um
ambiente de trabalho altamente stressante, enquanto que para outros, é entendida de uma forma
dicotómica, traduzindo-se numa condição médica (Martins, 2017).
De qualquer forma, a CID, na sua 11.ª versão, já contempla esta síndrome, referindo que a
mesma é um fenómeno específico exclusivamente do contexto ocupacional e não de outras áreas
da vida (OMS, 2019).
Deste modo, quisemos então saber qual a dimensão da problemática do burnout nos estudos
disponíveis realizados com esta população, entre outros, pelos seguintes motivos: pelo impacto
mediático, e mesmo político e social, que nos parece que a problemática do burnout tem, seja a
nível internacional como nacional, designadamente no que respeita aos seus efeitos e consequên-
cias para profissionais e organizações de saúde; pelo facto de constatarmos que existem imeros
estudos realizados sobre esta síndrome nestes profissionais, com amostras distintas, e mesmo dife-
rentes métodos e indicadores, não permitindo uma fácil caraterização global da prevalência deste
fenómeno nos profissionais de saúde a exercerem no sistema de saúde português; e por termos a
perceção, que poderão haver outros fatores que possam interferir nestes efeitos e consequências.
Nesse sentido, elaboramos esta revisão sistemática sem metanálise, a partir da revisão da
literatura publicada nos últimos cinco anos (entre 2015 e a 2019), disponível em bases de dados
de acesso livre, com o objetivo de procurar contribuir para um melhor conhecimento sobre o
burnout nos profissionais de saúde em Portugal.
Método
Para este estudo atendemos genericamente aos princípios da metodologia PRISMA (Prefer-
red Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses ou Principais Itens a Relatar para
Revisões Sistemáticas e Metanálises), os quais estabelecem que o processo de revisão deve ser
documentado de forma transparente em todas as partes, reproduzível e relatado claramente na
publicação final, assentando num conjunto mínimo de itens baseados em evidências para relatar
em revisões sistemáticas e metanálises (Donato & Donato, 2019).
Para a pesquisa das referências bibliográficas a serem incluídas neste estudo, foram consulta-
das as seguintes bases de dados de acesso livre: Directory of Open Access Journals (DOAJ, https://
doaj.org/), Scientific Electronic Library Online (SciELO, https://scielo.org/) e Repositório Científico
de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP, http://projeto.rcaap.pt/).
A pesquisa foi feita a partir dos descritores “Burnout” e “Burnout Syndrome, o primeiro dos
quais, tem o mesmo significado em língua portuguesa e inglesa, tendo-se também utilizado como
restritor para o período de realização destes estudos, os últimos cinco anos, que corresponde ao
período compreendido entre 2015 e 2019.
Os critérios de inclusão e de exclusão que definimos foram os seguintes:
Critérios de inclusão – estudos efetuados com profissionais de saúde em Portugal relativos
à síndrome de burnout, que tenham sido realizados no período compreendido entre 2015
e 2019 (cinco anos), que sejam estudos primários de tipo descritivo e quantitativo, que uti-
lizem como instrumento de medida o MBI e que apresentem a prevalência para esta sín-
drome nas amostras estudadas;
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Critérios de exclusão – não serem revisões de literatura ou estudos qualitativos, estudos
que não apresentem o indicador considerado, terem sido realizados fora deste período de
tempo, não serem realizados com profissionais de saúde em Portugal, serem realizados
com os mesmos grupos profissionais nos mesmos locais e nos mesmo períodos ou também
abrangerem os mesmos grupos profissionais e mesmo locais e períodos (para evitar repeti-
ção ou sobreposição das amostras), e que não sejam somente resumos (abstracts).
A partir dos critérios estabelecidos para a revisão bibliográfica, foram identificadas 767 refe-
rências (ou estudos), de acordo com os descritores definidos, das quais, se selecionaram 50 refe-
ncias para análise, que cumpriam os critérios de inclusão.
A partir das 50 referências selecionadas para análise, foram removidas 36, consideradas não
elegíveis, pela aplicação dos critérios de exclusão, nomeadamente os seguintes: serem estudos
qualitativos, terem sido realizados pelos mesmos autores com amostras dos mesmos locais nas
mesmas datas e não apresentarem as prevalências.
Assim foram apuradas para inclusão neste estudo 14 referências (oito artigos, quatro dis-
sertações de mestrado, um projeto final de licenciatura e um poster em encontro científico), que
representam 1.83% do total das referências pesquisadas.
Todas estas referências são estudos pririos, com um desenho metodológico de tipo quan-
titativo, transversal, descritivo e o procedimento de colheita de dados adotado foi pela aplicação
de um questionário autoadministrado em que uma das escalas aplicadas foi o MBI. Destas refe-
ncias, quatro são em inglês e as restantes em português.
De referir ainda, que nas fases de identificação e seleção, a pesquisa e seleção inicial das
referências a incluir neste estudo, foi feita pelos seus autores, e que as fases de elegibilidade e
inclusão das referências a serem analisadas, foram efetuadas por um painel independente de
dois jurados.
Para uma melhor compreensão desta metodologia, apresentamos seguidamente o fluxo-
grama da seleção das referências a estudar (vd. Figura 1).
Resultados
Conforme podemos observar na Tabela 1, a maioria dos estudos foi realizada com profissio-
nais dos Cuidados Primários de Saúde (CSP) ou incluíram profissionais desta área (n = 8 estudos),
e os grupos socioprofissionais estudados foram médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos
de radiologia, assistentes técnicos (AT) e assistentes operacionais (AO), incidindo a maioria dos
estudos em médicos e enfermeiros (n = 8, para ambos, num total de 12 estudos em que estes estes
profissionais foram estudados). Os restantes grupos registam um estudo para cada, num total de
quatro estudos onde estes profissionais são participantes.
Em relação à dimensão das amostras, a média (M) é de 229.21 profissionais de saúde, com
um desvio-padrão (DP) de 151.76 profissionais, variando entre 23 (Silva, 2019) e 585 profissionais
(Pereira, Teixeira, Carvalho, & Herndez-Marrero, 2016), sendo de referir que todos os métodos
de amostragem destes estudos foram não probabilisticos por conveniência.
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FIGURA1
Fluxograma de seleção das referências a estudar
Nota. As bases de dados utilizadas foram a DOAJ (Directory of Open Access Journals: https://doaj.org/), a Scielo (Scientific Electronic Library Online:
https://scielo.org/ ) e a RCAAP (Reposirio Científico de Acesso Aberto de Portugal: http://projeto.rcaap.pt/).
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No que respeita à idade média dos participantes, para os estudos que apresentam esta var-
vel (n = 12 estudos), a média é de M = 35.49 anos (DP = 5.31 anos), variando entre 28.4 anos (Joa-
quim et al., 2018) e 49 anos (Mata et al., 2016).
No que concerne ao sexo, a maioria dos participantes são de sexo feminino, em todos os estu-
dos (n = 14), sendo a média das percentagens de M = 74.23% (DP = 5.64%), variando entre 64.1%
(Reis, 2019) e 82.3% (Esteves, 2016).
De mencionarmos, relativamente aos grupos profissionais estudados, que estes resultados
estão de acordo com o perfil socioprofissional dos profissionais de saúde que trabalham no Ser-
viço Nacional de Saúde (SNS) português, uma vez que, de acordo com os dados oficiais, os grupos
profissionais de maior dimensão são os enfermeiros (33%) e os médicos (22%), representando 55%
do total dos profissionais do SNS, 65% dos trabalhadores apresentam idade inferior a 50 anos,
com uma média global das idades dos trabalhadores de 44 anos, variando as idades médias entre
os 30 e os 50 anos, dos quais quase 77% são do sexo feminino, sendo a taxa de feminização nos
grupos de maior dimensão, de 61% para médicos e de 84% para enfermeiros (Autoridade Central
do Sistema de Saúde, IP [ACSS], 2018).
TABELA1
Distribuição dos Estudos pelo Grupo Profissional Estudado, Dimensão da Amostra (n) e Sexo (%)
Estudos Grupo Prossional Estudado
(Área de Cuidados)
n
Média da
Idade
(em anos)
Sexo (%)
Masc. Fem.
Esteves (2016) Enfermeiros e médicos (CSP) 96 45.48
(DP = 9.45)
17.7 82.3
Mata et al. (2016) AT, enfermeiros e médicos (CSP) 261 49
(DP = 19)
18.4 81.6
Nogueira (2016) Enfermeiros (CH) 37 39 27 73
Pereira et al. (2016) Enfermeiros e médicos (CH) 585 31 69
Queirós et al. (2016) Enfermeiros (CSP e CH) 347 34.49
(DP = 8.42)
28 72
Silva et al. (2016) Enfermeiros (CH) 200 33.8
(DP = 7.6)
30 70
Guerra (2017) Técnicos radiologistas (CSP e CH) 103 30.2
(DP = 5.9)
14.7 85.3
Mendes et al. (2017) Médicos de MGF (CSP) 227 29.04
(DP = 4.9)
28.1 71.9
Pereira (2017) AO, enfermeiros e médicos (CH) 225 31.97 19.6 80.4
Quintas et al. (2017) Enfermeiros (CH) 301 37.06
(DP = 6.98)
19 81
Santos et al. (2017) Médicos internos de MGF (CSP) 327 28.7 19.3 80.7
Joaquim et al. (2018) Médicos internos (hematologia,
oncologia e radioterapia) (CH)
118 28.4
(DP = 2.2)
26.3 73.7
Reis (2019) Médicos de MGF (CSP) 359 35.9 64.1
Silva (2019) Fisioterapeutas (CSP e CH) 23 33.4
(DP = 8)
30.43 69.57
M
229.2 35.5 25.8 74.2
DP
151.8 5.3 5.6 5.6
Nota. AT – Assistentes Técnicos; AO – Assistentes Operacionais; CH – Cuidados Hospitalares; CSP – Cuidados Primários de Saúde; MGF – Medicina
Geral e Familiar.
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No que respeita aos níveis de burnout, os estudos que mencionam a existência ou não de bur-
nout nos participantes, definem os seus valores da seguinte forma: sem burnout ou com burnout
reduzido, para scores médios inferiores a dois; com burnout para scoresdios superiores a dois
(Joaquim et al., 2018; Mata et al., 2016; Mendes et al., 2017; Pereira et al.,2016; Quintas et al., 2017;
Reis, 2019; Santos et al., 2017; Silva et al., 2016; Silva; 2019).
Para as dimensões desta síndrome, os estudos que mencionam os níveis baixo, médio e ele-
vado para as diferentes dimenes do burnout, definem os seus valores da seguinte forma: EE
– nível elevado, quando os valores são superiores a 27 pontos, nível médio, quando os valores
se situam entre 19 a 26 pontos, e nível baixo, quando o valor é inferior a 19 pontos; Cn – nível
elevado, quando os valores são iguais ou superiores a 10 pontos, nível médio quando os valores
se situam entre 6 a 9 pontos, e nível baixo, quando os valores são inferiores a 6 pontos; eficácia
profissional (EP) – nível elevado, quando os valores são iguais ou menores a 33 pontos, nível
médio quando os valores se situam entre 34 a 39 pontos, e nível baixo (ou EPR), quando os valores
são iguais ou superiores a 40 (Guerra, 2017; Mata et al., 2016; Mendes et al., 2017; Nogueira, 2016;
Pereira, 2017; Queirós et al., 2016; Reis, 2019; Santos et al., 2017; Silva, 2019).
Relativamente à prevalência de burnout, para os estudos que apresentam esta varvel (nove
estudos), conforme podemos verificar na Tabela 2, a média das prevalências mais elevada é
para os profissionais que não apresentam burnout (M = 69.9%, DP = 12.3%), variando entre 53.1%
TABELA2
Distribuição dos Estudos pela Prevalência do Burnout nos Participantes (%), relativamente à sua Existência
(Com e Sem Burnout) e aos níveis (Elevado, Médio e Baixo) nas suas Dimensões (EE, Cn e EP)
Estudos Burnout (%)
CB SB EE Cn EP
Bxa. Mda. Elv. Bxa. Mda. Elv. Bxa. Mda. Elv.
Esteves (2016) 41.7 29.2 29.2 80.2 12.5 7.3 14.6 39.6 45.8
Mata et al. (2016) 5.7 94.3 41 28.4 22.6
Nogueira (2016) 10.8 35.1 54.1 35.1 37.8 35.1 13.5 27.0 54.1
Pereira et al. (2016) 27 73
Queirós et al. (2016) 33 26 41 81 12 7 1 5 94
Silva et al. (2016) 30 70
Guerra (2017) 38.7 32.3 29 48.9 36.2 14.9 29.3 38 32.6
Mendes et al. (2017) 29.8 70.2 20.2 50 29.8 56.6 25.8 17.7 43.3 30.3 26.3
Pereira (2017) 37.8 17.3 44.9 52.9 17.8 29.3 33.3 31.1 35.6
Quintas et al. (2017) 38.5 61.5
Santos et al. (2017) 46.9 53.1 38.1 45.2 26.5
Joaquim et al. (2018) 45.2 54.8
Reis (2019) 17 83 11.4 22.6 66 35.9 18.4 45.7 48.2 23.4 28.4
Silva (2019) 30.4 69.6 4.3 13 82.6 4.3 60.9 34.8 100
M
30.1 69.9 24.7 28.2 43.1 49.4 26.5 24.8 37.3 31.4 34.4
DP
12.3 12.3 14.8 11.5 17.9 25.2 17.6 14.2 28 5.7 10.4
Nota. CB – Com Burnout; SB – Sem Burnout; EE – Exaustão Emocional; Cn –Cinismo; EP – Eficácia Profissional; Bxa. – Baixa; Mda. – Média; Elv. – Elevada.
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(Santos et al., 2017) e 94.3% (Mata et al., 2016), enquanto que para os participantes que apresentam
burnout, a média das prevalências é de M = 30.1% (DP = 12.3%), variando entre 5.7% de partici-
pantes com burnout (Mata et al., 2016) e 46.9% de participantes (Santos et al., 2017).
No que respeita aos níveis de burnout, para a prevalência de Exaustão Emocional (EE), nos
estudos que analisam esta variável (n = 10 estudos), a média mais elevada é para os participantes
que apresentam um elevado nível de EE (M = 43.1% de participantes, DP = 17.9%), variando entre
29% de participantes com elevado nível de EE (Guerra, 2017) e 82.6% (Silva, 2019).
Para a prevalência de Cn, nos estudos que analisam esta variável (n = 11 estudos), a média
mais elevada é para os participantes que apresentam um baixo nível de Cn (M = 49.4% de parti-
cipantes, DP = 25.2%), variando entre 4.3% de participantes com baixo nível de Cn (Silva, 2019) e
81% (Queirós et al., 2016).
Para a prevalência da EP, nos estudos que analisam esta varvel (10 estudos), a média mais
elevada é para os participantes que apresentam EPR (M = 37.3% de participantes, DP = 28%),
variando entre 1% de participantes com EPR (Queirós et al., 2016) e 100% (Silva, 2019).
No que concerne à distribuição da prevalência do burnout total (participantes que apresen-
tam burnout) relativamente à idade, de acordo com a Tabela 3, somente um estudo apresenta este
resultado (Reis, 2019), que é maior no grupo etário dos participantes com idade igual ou inferior
a 45 anos (22,5%).
Para a distribuição das prevalências das dimensões do burnout (EE, Cn e EPR) relativamente
à idade, nos dois estudos que apresentam este resultado (Mata et al., 2016 e Reis, 2019), também
podemos observar que as maiores prevalências se situam neste grupo etário para a elevada EE
(variando entre 42.6% no estudo de Mata et al., 2016, e 68.1%, no estudo de Reis, 2019), e para a
EPR (variando entre 27.8% no estudo de Mata et al., 2016, e 32.6%, no estudo de Reis, 2019) nestes
dois estudos, enquanto que para o elevado Cn, é maior somente num dos estudos considerados
(52.9% no estudo de Reis, 2019).
TABELA3
Distribuição dos Estudos pelas Prevalências (%) do Burnout Total e das Dimensões do Burnout (EE, Cn e EPR)
relativamente à Idade dos Participantes
Estudos Idade Burnout (%)
Total Elv. EE Elv. Cn EPR
Mata et al. (2016) ≤ 45 anos 42.6 20.9 27.8
> 45 anos 39.7 34.2 18.5
Reis (2019) ≤ 45 anos 22.5 68.1 52.9 32.6
> 45 anos 13.4 64.1 39.7 25.6
Nota. EE – Exaustão Emocional; Cn – Cinismo; EPR – Eficácia Profissional Reduzida; Elv. – Elevada; ≤ – igual ou inferior; > – superior.
Em relação à distribuição da prevalência do burnout total relativamente ao sexo, conforme
verificamos na Tabela 4, somente um estudo apresenta este resultado (Reis, 2019), que é mais ele-
vado nos participantes de sexo feminino (17.6%).
Para a distribuição das prevalências das dimensões do burnout (EE, Cn e EPR) relativamente
ao sexo, nos três estudos que apresentam este resultado (Mata et al., 2016; Mendes et al., 2017;
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Caracterização do Burnout em Profissionais deSaúdeemPortugal: Um Artigo de Revisão
Reis, 2019), observamos que a prevalência da elevada EE é maior para o sexo feminino em dois
dos estudos (variando entre 30.8% no estudo de Mendes et al., 2017, e 67.8%, no estudo de Reis,
2019), o elevado Cn é maior no sexo masculino no três estudos (variando entre 33.3% no estudo
de Mendes et al., 2017, e 53.5%, no estudo de Reis, 2019) e a EPR é maior para o sexo feminino em
dois dos estudos (variando entre 30% no estudo de Reis, 2019, e 45.5%, no estudo de Mendes et
al., 2017).
TABELA4
Distribuição dos Estudos pelas Prevalências (%) do Burnout Total e das Dimensões do Burnout (EE, DP e EPR)
relativamente ao Sexo dos Participantes
Estudos Sexo Burnout (%)
Total Elv. EE Elv. Cn EPR
Mata et al. (2016) Masculino 46.8 34 26.8
Femenino 39.4 27.2 23
Mendes et al. (2017) Masculino 27.3 33.3 40
Feminino 30.8 12.7 45.5
Reis (2019) Masculino 16.5 62.2 53.5 21.3
Feminino 17.6 67.8 41.9 30
Nota. EE – Exaustão Emocional; Cn – Cinismo; RP – Realização Profissional; Bxa. – Baixa; Mda. – Média; Elv. – Elevada.
Discussão
Relativamente ao total de refencias pesquisadas para esta revisão (n = 767) só foi possível
incluir na mesma 1.83% destes estudos, tendo em conta os critérios de inclusão e exclusão defi-
nidos, nomeadamente serem realizados com os mesmos grupos profissionais nos mesmos locais
e nos mesmo períodos ou também abrangerem os mesmos grupos profissionais e mesmo locais
e períodos, o que pode denotar que nos últimos cinco anos (entre 2015 e 2019), que foi o período
considerado, pode ter havido alguma repetição dos mesmos participantes nos estudos relativos
ao burnout efetuados com profissionais de saúde
Por outro lado, todos os estudos incluídos nesta pesquisa (n = 14) utilizam o método de amos-
tragem por conveniência (als, a maioria das referências consultadas utilizam esta metodologia),
o que até é compreensível, atendendo à dificuldade técnica e os custos associados na utilização
de métodos de amostragem probabilísticos, para além da reduzida dimensão destas amostras,
com uma dimensão média de 229.21 participantes (DP = 151.76), variando entre 23 (Silva, 2019) e
585 profissionais (Pereira et al., 2016).
Contudo, esta situação também tem algumas limitações, designadamente o facto de não se
dever generalizar os resultados dos resultados dos mesmos para as populações estudadas, que
neste caso são os profissionais de saúde.
Por outro lado, a possibilidade de haver repetição de participantes em diferentes estudos
sobre o burnout, conforme anteriormente mencionado, poderá ser suscetível de introduzir um
fator de distorção na real perceção da dimensão desta problemática nestes profissionais, pelo
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que, estes resultados deverão ser analisados cautelosamente, uma vez que podem induzir a vie-
ses interpretativos, pelos motivos expostos.
O facto de a maioria dos estudos incidir em médicos e enfermeiros (n = 8, para ambos, num
total de 12 estudos em que estes dois grupos foram estudados), está de acordo não só com a
dimensão destes mesmos grupos profissionais no seio das profissões da saúde no SNS, na qual
representam 55% do total dos profissionais (ACSS, 2018), embora outros fatores como a sua repre-
sentatividade social e influência sociopolítica dos seus organismos de regulação profissional e de
representação dos trabalhadores, eventualmente possa levar a que haja uma maior preocupação
na realização de estudos sobre estes grupos.
De referir ainda que a maioria dos estudos foi realizada com profissionais dos CSP ou incluí-
ram profissionais desta área (n = 8 estudos).
Relativamente à caracterização sociodemogfica dos participantes dos estudos incluídos
nesta pesquisa, para as variáveis consideradas, que são a idade e o sexo, verificamos que a média
de idades é de 35.49 anos (DP = 5.31 anos), variando entre 28.4 anos (Joaquim et al., 2018) e 49
anos (Mata et al., 2016) e que em todos os estudos (n = 14) a maioria dos participantes são de sexo
feminino, sendo a média das percentagens de M = 74.23% (DP = 5.64%), variando entre 64.1%
(Reis, 2019) e 82.3% (Esteves, 2016), o que está de acordo com o perfil sociodemográfico dos pro-
fissionais de saúde que trabalham no SNS português (ACSS, 2018).
Relativamente à caraterização das prevalências do burnout, em relação à sua existência e às
suas dimensões, verificamos que a média das prevalências dos participantes com burnout é de M
= 30.1% (DP = 12.3%) variando entre 5.7% de participantes com burnout (Mata et al., 2016) e 46.9%
de participantes (Santos et al., 2017), e embora esta média seja muito maior para os participantes
que não apresentam burnout (M = 69.9%, DP = 12.3%), ou seja, a grande maioria dos participantes
dos estudos que consideram esta variável (nove em 14 estudos) não apresenta burnout, contudo
o valor da média das prevalências dos participantes que apresentam burnout, não deixa de ser
preocupante, o que de qualquer forma es de acordo com os resultados apresentados em estudos
de base amostral mais alargada mais recentes que estudaram esta síndrome nestes profissionais
(Marôco et al., 2016; Reis, 2019; Sousa-Ferreira et al., 2017).
Contudo, e tal como constatamos na literatura, também aqui uma grande variação entre
os valores das prevalências apresentadas, que poderá estar relacionada com os tamanhos das
amostras, que são reduzidas, e com a sua grande variação, como mencionamos anteriormente,
bem como com as metodologias adotadas, o que dificulta por um lado a comparação entre as
diferentes prevalências, bem como a generalização dos seus resultados (Houkes et al., 2011).
No que concerne às médias das prevalências das dimensões do burnout, estas são maiores
para a EE elevada (M = 43.1%, DP = 17.9%), para o Cn baixo (M = 49.4%, DP = 25.2%) e para a EPR (M
= 37.3%, DP = 28%), o que, no caso da EE e do Cn, pode estar relacionado com o facto da maioria
dos participantes ser de sexo feminino, uma vez que estas dimensões têm relação com o género,
sendo a EE mais prevalente em mulheres e o Cn em homens (Houkes et al., 2011; ILO, 2016; Mar-
tins, 2017; Maslach et al., 2001; Silva et al., 2015).
Finalmente, ao analisarmos a distribuição da prevalência do burnout total relativamente à
idade e ao sexo, apesar de somente um estudo apresentar este indicador (Reis, 2019), verifica-
mos que a maior prevalência se situa nos participantes que têm idade igual ou inferior a 45 anos
(22.5%), e que são de sexo feminino (17.6%), enquanto no que concerne à distribuição das preva-
lências nas dimensões do burnout em relação a estas duas variáveis, verificamos que as maiores
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prevalências para a elevada EE (42.6% em Mata et al., 2016) e para a EPR (68.1% em Reis, 2019) se
situam neste grupo erio, nos dois estudos que apresentam este indicador, embora para o baixo
Cn somente tal se verifique num destes estudos (52.9% em Reis, 2019).
Em relação ao sexo, nos três estudos que apresentam este indicador (Mata et al., 2016, Men-
des et al., 2017 e Reis, 2019), verificamos que a maioria apresenta maiores prevalências para o
sexo feminino, na elevada EE e na EPR (variando entre 30.8% em Mendes et al., 2017, e 67.8% em
Reis, 2019), e maiores prevalências no elevado Cn, para o sexo masculino em todos os estudos
considerados (variando entre 33.3% em Mendes et al., 2017, e 53.5% em Reis, 2019), o que vem ao
encontro da literatura consultada, nomeadamente no que respeita à associação de fatores socio-
demográficos como a idade, em que os indivíduos mais novos apresentam níveis mais elevados
de burnout, e do sexo, em que há uma maior vulnerabilidade no sexo feminino à EE e dos homens
ao Cn (Houkes et al., 2011; ILO, 2016; Martins, 2017; Maslach et al., 2001; Silva et al., 2015).
Conclusões
Os resultados desta pesquisa estão de acordo com a literatura relativa à problemática do
burnout, seja no que concerne ao perfil socioprofissional como demográfico dos profissionais
de saúde a trabalhar no SNS, bem como no que respeita à prevalência desta problemática, seja
em termos globais como nas suas dimensões, ou seja, a maioria dos participantes não apresenta
burnout, embora cerca de 30% apresente esta síndrome, sendo os valores mais elevados para a
elevada EE e para os baixos Cn e EPR, o que não deixa contudo, de ser um valor preocupante
(Houkes et al., 2011; ILO, 2016; Marôco et al., 2016; Martins, 2017; Maslach et al., 2001; Reis, 2019;
Silva et al., 2015; Sousa-Ferreira et al., 2017), atendendo às suas consequências, seja a nível pes-
soal como organizacional (Faria et al., 2019; ILO, 2016; Marôco et al., 2016).
De qualquer forma, e considerando a relevância mediática do burnout, seja ao nível da comu-
nicação social como até político (ILO, 2016), sendo até considerado um problema epidémico
(Marôco et al., 2016), e atendendo à expressão da sua prevalência no grupo dos profissionais de
saúde, que está de acordo com literatura consultada, como aliás mencionamos (Houkes et al.,
2011; ILO, 2016; Marôco et al., 2016; Martins, 2017; Maslach et al., 2001; Reis, 2019; Silva et al.,
2015; Sousa-Ferreira et al., 2017), uma vez que a maioria dos participantes não apresenta bur-
nout, será de pensarmos da existência de outros problemas que interfiram também na saúde
mental dos profissionais de saúde, nomeadamente os transtornos mentais comuns (TMC), como
a depressão e a ansiedade, que sabemos terem uma prevalência elevada na população geral, e
como tal também poderem afetar estes profissionais, e a depressão laboral, que é um fator pouco
estudado, sendo que pode surgir como consequência dandrome de burnout ou não.
Assim, concluímos que embora a maioria dos profissionais de saúde que participaram nestes
estudos não apresentem burnout, há uma prevalência significativa desta síndrome nestes profis-
sionais, o que é preocupante, sendo maior para EE e para a EPR.
Contudo, é importante ressalvarmos que o facto de todas as amostras serem de conveniência,
de terem uma dimensão relativamente pequena e de existir uma grande variação na seu tama-
nho e da diferença dos seus tamanhos, o que aliás também se verifica em estudos realizados
noutros países (Houkes et al., 2011), para além de poder haver a possibilidade de sobreposição de
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participantes em diferentes estudos, ser uma limitação deste estudo que dificulta não a com-
paração entre as diferentes prevalências, como a generalização dos seus resultados.
Desta forma, sugerimos, como uma implicação possível desta revisão, a necessidade da rea-
lização de estudos primários mais alargados e com a utilização de metodologias de amostragem
(probabilísticas) que permitam uma perspetiva mais consistente desta problemática em profis-
sionais de saúde.
Por outro lado, estes resultados levam-nos a induzir ser também importante conhecermos
melhor outros aspetos relativos à saúde mental destes profissionais, nomeadamente os transtor-
nos mentais comuns, e em particular, a ansiedade e a depressão, sugerindo assim o seu estudo,
quer pela relação que têm com o burnout, como pelo impacto que podem ter na qualidade de vida
das pessoas afetadas, seja ao nível individual e familiar, como no caso dos profissionais de saúde,
nas próprias organizações e na qualidade dos cuidados que prestam, facilitando dessa forma o
desenvolvimento e a implementação de programas e intervenções de promoção da saúde mental
ocupacional e de prevenção dos riscos psicossociais associados ao trabalho, que sejam mais ade-
quados à realidade existente e por essa via mais proficientes.
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