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VERSÃO PORTUGUESA DA IMPACT OF EVENT SCALE – REVISED IESR
PORTUGUESE VERSION OF THE IMPACT OF EVENT SCALE – REVISED IESR
Cristina Perestrelo Vieira
1
, Rui Paixão
2
, José Tomás da Silva
3
, Henrique Testa Vicente
4
PSIQUE • EISSN 21834806 • VOLUME XVI • ISSUE FASCÍCULO 1
1
ST
JANUARY JANEIRO  30
TH
JUNE JUNHO 2020 PP. 2443
DOI: https://doi.org/10.26619/2183-4806.XVI.1.2
Submited on July, 2019
Submetido em julho, 2019
Resumo
O presente estudo tem como objetivo apresentar os resultados da tradução e adaptação da
escala Impact of Event Scale – Revised (IES-R), de Weiss e Marmar (1997), para a população portu-
guesa. Os resultados foram obtidos com uma amostra de 185 sujeitos divididos por três grupos: n
1
= 130 população geral; n
2
= 46 doentes em seguimento psiquiátrico; n
3
= 9 sujeitos em seguimento
num serviço de violência familiar.
A análise fatorial por componentes principais evidencia a existência de quatro fatores que
explicam 61.3% da varncia total: ativação fisiogica; intrusão, evitamento e anestesia emo-
cional. Esta estrutura apresenta-se congruente com o modelo teórico subjacente à IES-R. A con-
sistência interna é elevada para o total da escala e dos fatores, com exceção do fator anestesia
emocional que apresenta um alfa mais baixo. A validade convergente foi obtida com a versão
portuguesa da Intimate Justice Scale (IJS), revelando uma relação positiva estatisticamente signi-
ficativa entre as duas escalas.
Palavras-chave: Trauma, Stresse, Impact of Event Scale – Revised, Psicometria.
Abstract
This paper reports the results of the translation and adaptation of the Impact of Event Scale –
Revised (IES-R), developed by Weiss and Marmar (1997), for the Portuguese population. Data was
obtained through a sample of 185 subjects, subdivided in three groups: n
1
= 130 from the general pop-
ulation; n
2
= 46 patients from a psychiatric service; and n
3
= 9 subjects from a family violence service.
1
Psicóloga Clínica e Grupanalista. Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Maternidade Bissaya Barreto. Sociedade
Portuguesa de Grupalise e Psicoterapia Analítica de Grupo. E-mail: cristinaperestrelovieira@gmail.com
2
Psicólogo Clínico. Universidade de Coimbra, Professor Associado da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação.
Centro de Estudos Sociais (Universidade de Coimbra). E-mail: rpaixao@fpce.uc.pt
3
Psicólogo Educacional. Universidade de Coimbra, Professor Associado da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação.
Centro de Estudos Sociais (Universidade de Coimbra). E-mail: jtsilva@fpce.uc.pt
4
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta. Instituto Superior Miguel Torga (Coimbra, Portugal), Professor Auxiliar Convidado. Cen-
tro de Estudos da População, Economia e Sociedade (Porto, Portugal). E-mail: henrique.t.vicente@gmail.com
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Cristina Perestrelo Vieira, Rui Paixão, José Tomás da Silva, Henrique Testa Vicente
Principal component analysis reveals a four-factor structure, explaining 61.3% of the total
variance: hyperarousal, intrusion, avoidance, and emotional numbing. This factorial structure is
similar to the theoretical model underlying the IES-R. The Portuguese version of the IES-R shows
high internal consistency for the total scale and factors, with the exception of emotional numb-
ing, that shows a weaker alpha value. Convergent validity was assessed with the Intimate Justice
Scale. A positive and statistically significant correlation was found between these two measures.
Keywords: Trauma, Stress, Impact of Event Scale-Revised, Psychometry
Introdução
Com base na constatação de que a investigação da resposta humana ao stresse requer simul-
taneamente a identificação de acontecimentos significativos e a avaliação do seu efeito, subjeti-
vamente percecionado na vida dos indivíduos, Horowitz et al. (1979) salientaram a necessidade
de construir um instrumento capaz de medir o nível de impacto subjetivo de eventos específicos
stressantes e/ou traumáticos na vida das pessoas. A primeira versão da escala em análise no pre-
sente trabalho, apelidada Impact of Event Scale (IES) (Horowitz et al., 1979), responde a este obje-
tivo, tentando operacionalizar o impacto desses acontecimentos na vida de um indivíduo, mais
especificamente as suas respostas sintomáticas. Considerando que o desenvolvimento do instru-
mento decorreu antes da introdução da categoria diagnóstica Perturbação de Stress Pós-Traumá-
tico (PSPT) no DSM-III (American Psychiatric Association [APA], 1980), este assentava no modelo
de processamento emocional após um acontecimento traumático de Horowitz, que propunha
uma alternância entre pensamentos/sentimentos intrusivos e estratégias de evitamento durante
o processo de assimilação da experiência traumática (Matos et al., 2011). Esta escala de autorres-
posta é constituída por 15 itens, sete dedicados à avaliação da presença de sintomas intrusivos
(pensamentos intrusivos, pesadelos, emoções e fantasias intrusivas) e oito à existência de sinto-
mas de evitamento (embotamento afetivo, evitamento das emoções, situações e ideias relacio-
nadas com o acontecimento stressante), que correspondem aproximadamente aos critérios B e
C para PSPT no DSM-IV (APA, 1994). Todos os itens do instrumento são respondidos em função
de um acontecimento stressante específico (este evento e a data da sua ocorrência são registados
pelo sujeito no topo da página do instrumento) e os respondentes são instruídos a classificar os
itens de acordo com uma escala de quatro pontos, correspondentes à frequência com que esses
sintomas foram sentidos nos últimos sete dias. Desde a sua introdução, a IES foi uma das medidas
de auto-relato da resposta de stresse e sintomas de PSPT mais aplicadas, sendo que, em maio de
2001, a base de dados PILOTS reportava relativamente à sua utilização em 1.147estudos (Weiss,
2007). Foi traduzida para diversas línguas, aplicada em diversas populações, e utilizada para
avaliar respostas de stresse numa grande variedade de incidentes críticos e para aferir a efetivi-
dade de tratamentos (Matos et al., 2011). Em 2002, Sundin e Horowitz realizaram uma revisão da
literatura sobre a investigação focada nas qualidades psicométricas da IES original. Identifica-
ram boas propriedades ao nível estabilidade fatorial, consistência interna, validade convergente
e discriminante, que sustentam a sua utilidade como medida “low-cost” de rastreio de PSPT e da
avaliação da eficácia de tratamentos.
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Versão portuguesa da Impact of Event Scale – Revised (IES-R)
Apesar da grande utilidade da IES, Weiss e Marmar (1997), considerando que a completa
medição das respostas a eventos stressantes implicaria a inclusão de uma dimensão de ativação
fisiológica, decidiram acrescentar, numa versão revista, mais sete itens, designando esta nova
versão de IES-R. Destes sete novos itens, seis referem-se a essa nova dimensão (ativação fisioló-
gica) e um à intrusão, mais especificamente à vivência real de flashback. Estes sete novos itens
foram, também, a forma de Weiss e Marmar (1997) adequarem a IES aos critérios do DSM-IV
(APA, 1994) relativos à PSPT, nomeadamente aos três principais clusters de sintomas: reexperiên-
cia intrusiva do acontecimento traumático; evitamento dos estímulos associados com o trauma
e embotamento da reatividade geral; aumento da ativação fisiológica. A IES-R passa então a ser
constituída por 22 itens, distribuídos por três dimensões: intrusão (8 itens); evitamento (8 itens);
e ativação fisiológica (6 itens). Com a revisão do DSM e a publicação da sua quinta edição (APA,
2013), foram introduzidas diferenças nos critérios de diagnóstico da PSPT. A principal alteração
prende-se com a inclusão de um cluster adicional – alterões negativas nas cognições e humor
(incluindo o embotamento/entorpecimento, dificuldades em recordar eventos, crenças ou expec-
tativas negativas, entre outros) – que, segundo Hosey et al. (2019), não altera substancialmente o
fenótipo da PSPT. Assim, apesar da IES-R não ter sido desenvolvida com o objetivo de diagnosti-
car a PSPT (Weiss, 2004), continua atualmente a ser um instrumento útil para o triagem de sinto-
mas desta perturbação e para aferição da sua gravidade, relevante para a prática clínica e para
a investigação (Bienvenu, Needham, et al., 2013; Bienvenu, Williams, et al., 2013; Morina et al.,
2013). Será ainda de referenciar o desenvolvimento de uma versão reduzida (IES-6), com apenas
seis itens, mais indicada para estudos epidemiológicos, mas igualmente com utilidade clínica de
rastreio (Thoreson et al., 2010).
A IES-R acompanhou o sucesso da sua precursora, apresentando bons indicadores psicomé-
tricos nos sucessivos estudos de validação a que foi sujeita, e que se encontram sumariados na
Tabela 1.
Relativamente às populações avaliadas nos estudos de validação, é possível identificar uma
diversidade significativa, desde pessoas com diagnóstico clínico de PSPT confirmado, até sobre-
viventes de acidentes/crimes e ex-veteranos de guerra, passando por indivíduos sem historial de
experiências traumáticas. Alguns estudos incluem mais do que um grupo para efeitos de com-
paração.
Em termos de consistência interna, os estudos evidenciam valores Alfa de Cronbach entre
.72 e .95 para os fatores, e entre .85 e .96 para os totais. Em relação à estabilidade temporal, os
resultados têm sido igualmente consistentes, com valores oscilando entre .51 e .96 (Brunet et al.,
2003; Mystakidou et al., 2007; Weiss & Marmar, 1997; Wu & Chan, 2003) exceção feita ao estudo
de Báguena et al. (2001), que revelou valores mais modestos, tanto para a escala como para os
fatores, entre .10 e .80.
A validade convergente da IES-R foi avaliada por recurso a uma ampla gama de instrumen-
tos, incluindo entrevistas estruturadas e semiestruturadas (e.g. Clinician-Administered PTSD
Scale [CAPS] e Structured Clinical Interview for DSM [SCID]), escalas de auto-resposta de avalia-
ção de sintomatologia diversa (e.g. Beck Depression Inventory [BDI] e State Trait Anxiety Inven-
tory [STAI]) e outras focados especificamente em sintomas de PSPT (e.g. PTSD Symptom Scale
– Self Report e PTSD Checklist), até instrumentos de avaliação da personalidade (e.g. Eysenck
Personality Questionnaire – Revised). Em termos gerais, os estudos mostram correlações mode-
radas a elevadas com estas diversas medidas. Por exemplo, Creamer et al. (2003) reportam uma
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Cristina Perestrelo Vieira, Rui Paixão, José Tomás da Silva, Henrique Testa Vicente
TABELA1
Revisão da Literatura Concernente à Validação e Avaliação das Propriedades Psicométricas da IES-R
Autor(es) Participantes Procedimentos
de análise da
validade de
construto
Estrutura
fatorial
Correlação entre
subescalas
Consistência
interna
Estabilidade
temporal
Weiss & Marmar
(1997)
Prossionais de emergência
expostos a colapso
de rodovia (n = 429);
trabalhadores envolvidos
em sismo (n = 197)
ACP com rotação
varimax
1 fator (49% da
variância)
I – E = .74
I – AF = .87
E – AF = .74
I = entre .87 e .92
E = entre .84 e .85
AF = entre .79 e .90
I = entre .57 e .94
E = entre .51 e .89
AF = entre .59 e .92
Maercker &
Schützwohl
(1998)
Versão Alemã
Ex-presos políticos (n =
128) e vítimas de crime (n
= 30)
ACP com rotação
varimax
4 fatores (63.8%
da variância)
(Intrusão,
Evitamento,
Ativação
Fisiológica e
Entorpecimento/
Anestesia)
I – E = entre .19
e .59
I – AF = entre .77
e .83
E – AF = entre .39
e .64
I = .90
E = entre .71 e .79
AF = .90
I = .80
E = .66
AF = .79
Báguena et al.
(2001)
Versão Espanhola
Jovens adultos sem
experiências traumáticas (n
= 1078)
ACP com rotação
varimax
2 fatores (58.7%
da variância)
(Intrusão/Ativação
Fisiológica e
Evitamento)
I/AF – E = entre .62
e .70
IES-R total = entre
.91 e .95
I/AF = entre .89
e .95
E = entre .84 e .87
IES-R total = entre
.16 e .66
I/AF = entre .10
e .80
E = entre .24 e .33
Akusai et al.
(2002)
Versão Japonesa
(IES-R-J)
Trabalhadores com vivência
traumática (n = 487);
sobreviventes de crime de
envenenamento (n = 73);
sobreviventes de sismo (n
= 86); sobreviventes de
ataque terrorista (n = 658)
Procedimento
VARCLUS (SAS)
3 clusters (1.
Intrusão/Ativação
Fisiológica; 2.
Evitamento 3.
Sintomas de
stresse não
especícos)
Clusters 1 – 2 = .74
Clusters 1 – 3 = .73
Clusters 2 – 3
= .62
IES-R total = entre
.92 e .95
I = entre .88 e .91
E = entre .81 e .90
AF = entre .80 e .86
IES-R total = .86
Creamer et al.
(2003)
Duas amostras de
veteranos do Vietname:
clínica com diagnóstico
de PSPT (n = 120); da
comunidade (n = 154)
AFC (método
da máxima
verosimilhança)
ACP com rotação
varimax
1 ou 2 fatores
(Intrusão/Ativação
Fisiológica e
Evitamento)
(55.9% da
variância)
I – E = .82
I – AF = .93
E – AF = .83
IES-R total = .96
I = .94
E = .87
AF = .91
Wu & Chan (2003)
Versão Chinesa
(CIES-R)
Utentes do Accident and
Emergency Department of
the Caritas Medical Centre
(Hong Kong) (n = 116)
ACP com rotação
varimax
1 fator (45% da
variância)
I – E = .76
I – AF = .83
E – AF = .75
I = .89
E = .85
AF = .83
I = .74
E = .52
AF = .76
Brunet et al.
(2003)
Versão Francesa
Mulheres grávidas expostas
a intempérie (n = 223)
ACP com rotação
varimax
3 fatores (56% da
variância)
I – E = .62
I – AF = .69
E – AF = .56
Entre .81 e .93 IES-R total = .76
I = .73
E = .77
AF = .71
Olde et al. (2006)
Versão Holandesa
Puérperas holandesas (n
= 435)
AFC 3 fatores I – E = .56
I – AF = .58
E – AF = .56
Mystakidou et al.
(2007)
Versão Grega
(IES-R-Gr)
Pacientes adultos com
diagnóstico de cancro
incurável (n = 82)
ACP com rotação
varimax
3 fatores (57.3%
da variância)
I – E = .74
I – AF = .66
E – AF = .59
IES-R total = .85
I = .72
E = .77
AF = .85
I = .96
E = .96
AF = .94
Beck et al. (2008) Sujeitos em avaliação/
tratamento para problemas
de saúde mental após
acidente de viação (n =
182)
AFC (método
da máxima
verosimilhança)
3 fatores I – E = .74
I – AF = .86
E – AF = .71
IES-R total = .95
I = .90
E = .86
AF = .85
Lim et al. (2009)
Versão Coreana
(IES-R-K)
Pacientes com diagnóstico
de PSPT (n = 93), pacientes
psiquiátricos sem
perturbação psicótica (n
= 73), controlos saudáveis
(n = 88)
ACP com rotação
ortogonal
4 fatores (68.8%
da variância)
(Ativação
Fisiológica,
Evitamento,
Intrusão,
Anestesia/
Dissociação)
IES-R total = .93 IES-R total = .91
Matos et al. (2011)
Versão
Portuguesa
Estudantes universitários e
sujeitos da população geral
(n = 811 sujeitos)
ACP com rotação
varimax
1 fator (55.4% da
variância)
IES-R total = .96 IES-R total =.82
Cunha et al. (2017)
Versão
Portuguesa para
Adolescentes
Adolescentes com idades
compreendidas entre os 12
e os 18 anos (n = 383)
AFC (método
da máxima
verosimilhança)
3 fatores (com um
factor de segunda
ordem)
IES-R total = .94
I = .89
E = .84
AF = .86
IES-R total = .67
Nota. IES-R: Impact of Event Scale – Revised; I: Subescala Intrusão; E: Subescala Evitamento; AF: Ativação Fisiogica; ACP: Análise de Componentes
Principais; AFC: Análise Fatorial Confirmatória
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Versão portuguesa da Impact of Event Scale – Revised (IES-R)
correlação de .84 entre a IES-R e a PTSD Checklist; Wu e Chan (2003) obtiveram correlações de
.54 entre a versão chinesa da IES-R e o General Health Questionnaire – 20 (GHQ-20) para o fator
intrusão .53 para o fator evitamento, e .64 para o fator ativação fisiogica; Lim et al. (2009) assi-
nalam correlações do total da escala com a CAPS de .91, com o BDI de .81, com o STAI-S de .30 e
com o STAI-T de .67.
Dados sobre a validade discriminante da IES-R são mais escassos, e foram reportados apenas
nos estudos de Akusai et al. (2002), Beck et al. (2008), e Lim et al. (2009). No trabalho de Akusai et
al. (2002), ao grupo de sobreviventes de um crime de envenenamento foi aplicado o módulo PSPT
da SCID. No grupo de sobreviventes de terramoto foi aplicado a entrevista CAPS. Foram criadas
três categorias de diagnóstico: PSPT, PSPT parcial, sem PSPT. As médias dos totais IES-R-J dife-
rem significativamente consoante a categoria (valores mais elevados em PSPT, seguido de PSPT
parcial) em ambos os grupos (F = 54.9, p = .0001; F = 9.1, p = .0003, respetivamente). No estudo de
Beck et al. (2008), foram comparados sujeitos com diagnóstico de PSPT (n = 98) e sem diagnóstico
de PSPT (n = 84). Os dois grupos reportaram pontuações significativamente diferentes nas três
subescalas da IES-R (intrusão, t(180) = 5.88, p < .0001; evitamento, t(180) = 4.18, p < .0001; ativa-
ção fisiológica, t(180) = 6.16, p < .0001). No estudo de Lim et al. (2009), os resultados da ANOVA
unidirecional sugerem que o IES-R-K diferencia os três grupos em análise (PSPT, pacientes psi-
quiátricos, controlos) (F = 139.1; p < .001), sendo que o teste post-hoc de Duncan sugere que as
pontuações dos pacientes com PSPT são significativamente mais elevadas quando comparadas
com os outros grupos.
Quando analisadas, as correlações entre fatores tendem a ser positivas e estatisticamente
significativas. Num estudo de validação cruzada da IES original, Zilberg et al. (1982) demonstra-
ram que as correlações entre as duas subescalas (intrusão e evitamento) variavam em função do
nível de sintomatologia e do tempo decorrido desde o evento traumático. A maioria dos estudos
referenciados na Tabela 1 não aborda as correlações entre subescalas desta forma diferenciada,
com exceção do trabalho de Creamer et al. (2003) com duas amostras (clínica e da comunidade).
Neste estudo, os autores referem que embora as correlações entre os fatores intrusão e ativação
fisiogica sejam elevadas para ambas as amostras (.94 e .93), as correlações entre intrusão e
evitamento foram maiores para a amostra da comunidade do que para a amostra clínica (.86 e
.62, respetivamente), assim como as correlações entre ativação fisiogica e evitamento (.93 e .65,
respetivamente).
No estudo da estrutura fatorial da escala, o procedimento estatístico mais frequentemente
utilizado é a Análise de Componentes Principais (ACP) com rotação varimax. Têm-se verificado
soluções de três fatores, consonantes com o modelo original, capazes de explicar entre 56%
e 57% da variância total (Brunet et al., 2003; Mystakidou et al., 2007; Olde et al., 2006; Beck
et al., 2008; Cunha et al., 2017). O estudo de Akusai et al. (2002) também revelou um modelo
tri-fatorial, mas em que um dos fatores se reporta a sintomas de stresse não específicos (dis-
túrbios do sono, irritabilidade, problemas de concentração e sintomas de anestesia emocional).
Nos estudos de Weiss e Marmar (1997), Wu e Chan (2003), e Matos et al. (2011) emergem soluções
unifatoriais; nos trabalhos de Creamer et al. (2003) e Báguena et al. (2001) os dados evidenciam
que um modelo de dois fatores (intrusão/ativação fisiológica e evitamento) se adequa melhor
aos dados. Finalmente, os estudos de Maercker e Schützwohl (1998) e de Lim et al. (2009) apon-
tam para quatro fatores capazes de explicar 63.8% e 68.8% da variância total, respetivamente.
No estudo da versão alemã do instrumento, os autores assinalam que este fator remete para
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Cristina Perestrelo Vieira, Rui Paixão, José Tomás da Silva, Henrique Testa Vicente
o “entorpecimento/anestesia. No trabalho sobre a versão coreana, este fator foi apelidado de
anestesia/dissociação.
Weiss (2007) conclui a este propósito que, embora as propriedades psicométricas básicas
da IES-R (consistência interna, estabilidade e correlação entre subescalas) estejam bem docu-
mentadas, a variabilidade no número de fatores extraídos nos estudos de validação merece
reflexão. Para este autor, esta variabilidade pode dever-se a diferenças amostrais (tamanho,
homogeneidade e nível de sofrimento), assim como a diferenças na exposição ao trauma, tempo
decorrido desde o evento, e queses de comorbilidade. Ao discutir o mesmo assunto, Creamer
et al. (2003) subscrevem esta hipótese, assinalando que parece haver uma menor diferenciação
entre os construtos nucleares (intrusão, evitamento e ativação fisiológica) nos indivíduos com
níveis mais baixos de sintomatologia, que reflete, possivelmente, um “sofrimento traumático”
mais geral do que uma síndrome clínica claramente diferenciada, como a PSPT. Esta hipótese
encontra igualmente suporte nos dados das correlações entre subescalas, acima mencionados,
em que os valores foram inferiores na amostra clínica (quando comparados com a amostra da
comunidade).
A este propósito, importa salientar que a primeira validação da IES-R para a população Por-
tuguesa revelou uma solução unidimensional que, segundo os autores, poderia estar associada
ao facto de o estudo deter uma amostra não-clínica e ter focado, não um incidente crítico, poten-
cialmente traumático, com ameaça à integridadesica, mas antes experiências de vergonha na
infância ou adolescência (Matos et al., 2011). Nesse sentido, foi sublinhada a relevância de con-
duzir estudos psicométricos adicionais com outros tipos de acontecimentos, pois o uso de uma
amostra não clínica ou não traumatizada pode ter condicionado a análise da independência das
subescalas do instrumento (Matos et al., 2011). Já a validação da versão Portuguesa adaptada para
adolescentes da IES-R (Cunha et al., 2017) revelou um modelo composto por três fatores (evita-
mento, intrusão e hiperativação) e um fator de segunda ordem designado “impacto traumático
(Cunha et al., 2017). Contudo, também neste estudo as instrões da versão original da IES-R
foram substancialmente modificadas de modo a avaliar uma experiência indutora de vergonha
e o seu impacto ao longo da vida. Assim, apesar do inegável contributo destes trabalhos em con-
texto nacional, permanece a necessidade de conduzir estudos adicionais de validão do instru-
mento, respeitando as instruções originais, que permitem cobrir um vasto leque de experiências
stressantes, potencialmente traumáticas.
Objetivos
O estudo que a seguir se reporta centra-se na tradução e adaptação para a população portu-
guesa da Impact of Event Scale – Revised (IES-R) de Weiss e Marmar (1997), tendo como objetivo
principal a análise das suas qualidades psicométricas quando mantida a instrução original, de
solicitar aos respondentes a identificação de um acontecimento de vida significativo, que tenha
sido sentido como fonte de grande stresse. Como objetivos específicos foram definidos: i) anali-
sar o comportamento da escala na avaliação do impacto de eventos stressantes em três grupos
de sujeitos e a sua intercessão com variáveis sociodemográficas; ii) analisar a estrutura fatorial
da IES-R; iii) analisar a sua consistência interna e validade convergente.
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Versão portuguesa da Impact of Event Scale – Revised (IES-R)
Metodologia
Participantes
A amostra, não probabilística por conveniência, é constituída por 185 participantes capazes
de identificar, pelo menos, um acontecimento de vida sentido como intensamente stressante,
eventualmente traumático. Estes 185 sujeitos foram divididos em três grupos: n
1
= 130, avaliados
em instituões de ensino superior da cidade de Coimbra (n = 92) e recolhidos da população em
geral na cidade do Funchal (n = 38); n
2
= 46 sujeitos com perturbações psiquiátricas seguidos pelo
Serviço de Consultas Externas de um Hospital Psiquiátrico da Zona Centro de Portugal; n
3
= 9
sujeitos seguidos pelo Serviço de Vioncia Familiar da mesma instituição hospitalar. Este último
grupo (n
3
) é constituído por sujeitos com histórias de vida marcadas por diferentes tipos de maus-
-tratos.
Dos 130 sujeitos de n
1
, 96% são de nacionalidade portuguesa (n = 119) e 84% do género femi-
nino (n = 109). A média etária é de 26 anos (DP = 10.27), 77% (n = 100) são solteiros, 18.4% casados
ou vivendo em união de facto (n = 24), 3.1% divorciados (n = 4) e 1.5% viúvos (n = 2). Relativamente
às habilitações literárias, 89.2% (n = 116) tem o ensino secundário ou curso profissional, 6.1%
(n=8) o 3.º ciclo do ensino básico ou inferior, e 4.6% (n = 6) possui licenciatura ou bacharelato.
O grupo n
2
é constituído por sujeitos diagnosticados com Perturbação Depressiva Não Espe-
cificada (n = 31), Perturbação de Ansiedade Não Especificada (n = 9), Perturbação Bipolar (n=4),
Perturbação de Ansiedade Social (n = 1) e Perturbação de Uso de Álcool (n = 1). Ainda relativa-
mente a este grupo, 98% (n = 45) são de nacionalidade portuguesa, maioritariamente do género
feminino (80%; n = 37) e com uma média de idade de 51 anos (DP = 15.47). As habilitações lite-
rárias, na sua maioria, são inferiores ou equivalentes ao ciclo do ensino básico (72%; n = 33).
Amaioria dos sujeitos é casada (48%; n = 22) sendo os restantes solteiros (26%; n = 12), divorciados
(13%; n = 6) ou viúvos (13%; n = 6).
O grupo n
3
é composto, maioritariamente, por sujeitos de nacionalidade portuguesa (89%; n =
8), do género feminino (78%, n = 7) e com uma idade média de 38 anos (DP = 9.03). A maioria encon-
tra-se empregada (78%, n = 7), sendo as suas habilitações inferiores ou equivalentes ao 3º ciclo do
ensino básico. Quanto ao estado civil, 33% (n = 3) dos sujeitos são casados, 33% (n = 3) estão em
união de facto, 11% (n = 1) são solteiros e 22% (n = 2) divorciados. Para além da situação de violência
familiar que motivou o acompanhamento pelo servo acima referenciado, todos os sujeitos deste
grupo apresentam diagnóstico de Perturbação Depressiva e de Ansiedade Não Especificadas.
Os acontecimentos identificados pelos sujeitos incluíram: agressão física ou outro tipo de vio-
ncia, doença grave, desastre, morte ou perda de alguém muito próximo, situação subjetiva ou
real de perigo (ameaça à integridade física), abuso/violência sexual, exposição à guerra ou outro
acontecimento. Os acontecimentos mais referenciados nos grupos n
1
e n
2
são a morte ou perda de
alguém querido, e no grupo n
3
a agressão/vioncia. Na Tabela 2 são reportadas as situações stres-
santes mais significativas identificadas pelos sujeitos, bem como o tempo entretanto decorrido.
Instrumentos
O protocolo envolveu a passagem do IES-R, da Intimate Justice Scale (IJS) e de um questioná-
rio sociodemogfico construído para o efeito. Este questionário focou-se nos dados de natureza
clínica e biogfica dos participantes. A IJS foi utilizada para analisar a validade convergente
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da IES-R. Trata-se de um instrumento de auto-relato com 15 itens (respondidos numa escala de
Likert de cinco pontos), desenvolvido para o rastreio de abuso psicológico e violência física. A IJS
não avalia atos específicos de abuso, mas antes a “dinâmica ética das relações do casal”, eviden-
ciada atras de padrões atitudinais e comportamentais expressos no decurso da relação (Jory,
2004, p. 29). O estudo original sugere que a IJS permite a identificão de vítimas de violência
nas relações íntimas e a discriminação do grau de severidade do abuso (Jory, 2004). As qualida-
des psicométricas da versão portuguesa da IJS foram analisadas numa amostra de 115 sujeitos
(Canez, 2007). Os resultados obtidos revelaram uma boa consistência interna para o global da
escala (α=.88) e uma estrutura fatorial composta por quatro fatores que explicam 62.75% da
variância.
TABELA2
Tipo de Acontecimento Traumático e Tempo Decorrido
n
1=
130
n
2
=46 n
3
=9
% (n)
% (n) % (n)
Tipo de acontecimento
Morte ou perda de alguém querido
42.2% (55) 43.4% (20) 22.2% (2)
Doença grave
29.2% (38)
15.2% (7) 22.2% (2)
Situação de perigo / ameaça
12.3% (16)
19.6% (9)
Agressão / violência
3.1% (4)
44.4% (4)
Desastre/acidente natural
0.8 (1)
Exposição à guerra
0.8 (1)
2.2% (1)
Abuso sexual
2.2% (1) 11.1% (1)
Outro acontecimento
10.6% (15)
17.4% (8)
Tempo decorrido entre
o acontecimento e o
momento da passagem
da IES-R
1 a 4 semanas inclusive
3.8% (5)
6.5% (3) 11.1% (1)
1 a 6 meses inclusive
13.8% (18)
10.9% (5)
6 meses a 1 ano inclusive
18.5% (24)
8.7 (4) 22.2% (2)
1 a 3 anos inclusive
26.9% (35)
17.4% (8) 33.3% (3)
Mais de 3 anos
36.9% (48)
56.5% (26) 33.3% (3)
Nota. n
1
= grupo não-clínico; n
2
= sujeitos seguidos no serviço de Consultas Externas de Hospital Psiqutrico; n
3
= sujeitos seguidos pelo Serviço de
Violência Familiar de um estabelecimento de sde.
Procedimentos
A aplicação do protocolo foi precedida por uma entrevista onde foram explicitados os pro-
cedimentos, os objetivos e o caráter voluntário da participação dos sujeitos. Numa segunda
fase, a entrevista semiestruturada focou as experiências de vida mais stressantes (eventual-
mente traumáticas) dos sujeitos. Dada a natureza da escala, a não existência ou a incapacidade
dos sujeitos em identificar um acontecimento desta natureza constituiu-se como critério de
exclusão.
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Versão portuguesa da Impact of Event Scale – Revised (IES-R)
Procedimentos de tradução e adaptação da versão portuguesa do IES-R
A primeira fase do processo de adaptação passou pela “tradução-retroversão” da versão
inglesa da escala recorrendo a dois tradutores independentes: o primeiro traduzindo para portu-
guês a versão inglesa da escala e o segundo retrovertendo para inglês a versão portuguesa antes
obtida. Finalmente, a versão retrovertida foi comparada com o original inglês, não se tendo veri-
ficado diferenças significativas entre as versões.
Esta versão foi sujeita a um pré-teste (n = 25) como o intuito de verificar a adequação gráfica
da escala, a compreensão e a clareza das instruções e dos itens. Com base nestes resultados,
foram clarificadas algumas expressões bem como o enquadramento da situação stressante de
referência aos itens.
Resultados
Os valores descritivos das respostas obtidas pelos sujeitos da amostra encontram-se sinteti-
zados na Tabela 3.
Quanto à validade de contdo da IES-R, podemos observar que, para os três grupos da
amostra, a maioria dos itens tem uma média pxima e superior à resposta central, revelando
estes dados que os sujeitos, enquanto grupo, vivenciaram episódios stressantes intensos, even-
tualmente traumáticos para alguns deles.
Os itens com respostas médias mais altas, para o grupo n
1,
foram o 1 e o 5; para o grupo n
2
o 5
e o 21; para o grupo n
3
o 1 e o 22. Os itens com respostas médias mais baixas foram, para o grupo
n
1
, o 19 e o 14; para o grupo n
2
o 13 e o 7 e para o grupo n
3
o 13, o 7 e o 14. O grupo n
2
foi aquele
que obteve maior pontuação média para o total da IES-R e o grupo n
3
o que obteve valores mais
baixos.
o foram analisados os resultados da IES-R em função do tipo de acontecimento expe-
rienciado e do tempo decorrido entre este e o preenchimento do questionário devido ao
número reduzido de sujeitos em algumas das categorias. Quanto às diferenças nas respostas
considerando a variável género, é de salientar que esta foi significativa para o grupo n2,
nomeadamente no total da IES-R [t(44) = -3.06, p < .001] e no fator ativação fisiogica [t(44)
=-3.67 p<.001]. Nestes casos, os sujeitos do género feminino obtiveram valores mais elevados.
Quanto às correlações entre a idade e as respostas à IES-R nos três grupos é de salientar a exis-
ncia de uma única relação fraca mas estatisticamente significativa, no grupo n
1
entre a idade
e o fator intrusão (r = .183,p<.05).
Com o objetivo de analisar a estrutura da escala procedeu-se a uma Análise de Componen-
tes Principais (Tabela 4) com rotação ortogonal e procedimento varimax sobre os dados dos 185
sujeitos da amostra. Esta opção teve por objetivo manter a compatibilidade metodológica do pre-
sente estudo com os procedimentos predominantemente usados nas investigações precedentes
e consequentemente contribuir para a continuidade de acumulação da evidência psicométrica
sobre o instrumento. Os indicadores de adequação do modelo evidenciam valores MSA superio-
res a .5, um teste de Bartlett significativo (X
2
= 2163.426, p < .0001) e um valor de .91 para o teste
de Kaiser-Meyer-Olkin.
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TABELA3
Médias e Desvios Padrão nos Três Grupos da Amostra
Itens
n
1
= 130 n
2
= 46 n
3
= 9
M (DP) M (DP) M (DP)
1) Qualquer recordação relativa ao acontecimento suscita em mim
todas as emoções vividas nessa altura
3.30 (0.947) 3.56 (0.958) 3.33 (1.118)
2) Tive grandes problemas de sono 2.77 (1.163) 2.78 (1.190) 3.00 (1.322)
3) Outras situações continuavam a fazer-me pensar no
acontecimento
3.05 (1.021) 3.65 (0.848) 3.00 (1.000)
4) Senti-me irritadiço(a) e enraivecido(a) 2.87 (1.207) 3.04 (1.210) 2.55 (1.333)
5) Tentava não car perturbado(a) quando pensava no acontecimento
ou quando alguém me fazia recordá-lo
3.26 (1.025) 4.00 (1.154) 2.77 (1.201)
6) Surgiam-me pensamentos sobre o acontecimento mesmo quando
não queria
3.16 (1.004) 3.58 (1.066) 2.77 (0.833)
7) Senti como se nada tivesse acontecido ou como se tudo o que
aconteceu não fosse real
2.42 (1.112) 2.39 (1.324) 2.22 (1.092)
8) Evitei tudo o que me zesse recordar o acontecimento 2.59 (1.145) 3.52 (1.295) 3.00 (1.414)
9) Imagens sobre o acontecimento apareciam de repente na minha
cabeça
2.90 (1.216) 3.52 (0.809) 3.11 (1.166)
10) Estava com os nervos “à or da pele” 2.89 (1.136) 3.19 (1.147) 2.33 (0.707)
11) Tentei não pensar sobre o sucedido 2.99 (0.984) 3.84 (0.815) 3.11 (1.054)
12) Tive consciência que ainda tinha dentro de mim imensos
sentimentos relativos ao acontecimento, mas não lidei com eles
2.70 (1.097) 3.54 (0.689) 3.00 (0.866)
13) Sentia-me anestesiado em relação ao que aconteceu 2.50 (1.065) 1.60 (0.954) 2.00 (1.000)
14) Dei por mim a agir e/ou a sentir como se estivesse de volta ao
tempo em que tudo aconteceu
2.33 (1.102) 2.82 (1.017) 2.22 (0.833)
15) Tive diculdades em adormecer 2.72 (1.239) 2.93 (1.254) 2.66 (1.658)
16) Tive fases em que vivi sentimentos muito fortes relativos ao
acontecimento
3.20 (1.111) 3.30 (1.092) 2.88 (0.927)
17) Tentei apagar o acontecimento da minha memória 2.47 (1.195) 3.56 (1.344) 2.44 (1.130)
18) Tive problemas de concentração 2.78 (1.154) 2.82 (1.121) 2.55 (1.424)
19) Tudo o que me fazia recordar o acontecimento causava em
mim reações físicas como, por exemplo, transpirar, diculdades em
respirar, náuseas ou taquicardia
2.23 (1.139) 3.39 (0.930) 2.33 (1.224)
20) Sonhei muitas vezes com coisas relativas ao acontecimento 2.59 (1.185) 2.71 (1.067) 2.77 (1.092)
21) Senti-me atento e/ou cauteloso 2.87 (1.106) 3.93 (1.041) 3.11 (1.269)
22) Tentei não falar sobre o acontecimento 2.79 (1.172) 3.06 (1.496) 3.22 (1.201)
Total IES-R 61.49 (15.85) 70.82 (12.73) 60.44 (15.08)
Ativação Fisiológica 22.09 (7.32) 24.19 (6.95) 21.11 (7.32)
Intrusão 20.91 (5.48) 25.08 (4.27) 20.33 (5.29)
Evitamento 13.55 (4.16) 17.54 (3.87) 14.77 (4.18)
Anestesia Emocional 4.93 (1.81) 4.00 (1.92) 4.22 (1.48)
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Versão portuguesa da Impact of Event Scale – Revised (IES-R)
TABELA4
Estrutura Fatorial da Versão Portuguesa da IES-R
Itens
Fatores
F1 F2 F3 F4
h
2
18 .792 .214 .191 .103 .720
15 .779 .333 .099 .186 .761
2 .733 .357 .038 .214 .711
10 .726 .189 .292 -.025 .649
4 .668 .162 .298 .023 .562
16 .637 .467 .035 .196 .664
19 .579 .436 .207 -.208 .612
20 .492 .350 -.003 .357 .492
3 .293 .703 .156 .126 .620
9 .384 .656 .193 .204 .657
1 .269 .655 .105 .051 .515
6 .371 .643 .154 .182 .608
21 .240 .627 .229 -.315 .602
5 -.004 .539 .506 .118 .560
14 .430 .513 .210 .220 .540
11 .460 .180 .822 .080 .716
8 .108 .202 .802 .115 .709
17 .181 .153 .717 -.103 .581
22 .352 -.113 .569 .155 .484
12 .289 .328 .546 .138 .509
7 .097 .187 .185 .744 .632
13 .140 .017 .049 .739 .569
Eigenvalue 8.828 2.048 1.434 1.165
Variância Total 40,13% 9,31% 6,52% 5,29%
Nota. F1 – Ativão fisiológica; F2 – Intruo; F3 – Evitamento; F4 – Anestesia emocional
Seguindo o critério de Kaiser e a análise da curva de inflexão no scree plot, a estrutura obtida
aponta para a existência de quatro fatores diferentes dos verificados por Weiss e Marmar (1997).
Forçando a rotação varimax a três fatores verifica-se que a estrutura obtida é, também, substan-
cialmente diferente da obtida pelos autores originais, embora semelhante à referenciada noutros
estudos (Maercker & Schützwohl, 1998). Comparando as duas soluções verifica-se que a estru-
tura de quatro fatores é a que melhor se adequa (detém maior grau de semelhança com a estru-
tura fatorial original, mesmo considerando o fator adicional, que tem vindo a ser reportado na
literatura), explicando 61.3% da variância total (Tabela 4). Esta estrutura inclui um primeiro fator
constituído por oito itens, capazes de explicar 40.1% da variância comum. Este fator inclui os
itens que avaliam as sensações fisiológicas ativadas pelo reviver do acontecimento, razão pela
qual foi denominado deativação fisiológica. O fator 2, composto por 7 itens, explica 9.3% da
variância total e foi denominado “intrusão, visto incluir os itens relativos às vivências intrusivas
consequentes da exposição ao acontecimento. O fator 3, constituído por 5 itens, explica 6.6%
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da varncia total e foi denominado “evitamento”, pois caracteriza a resistência dos sujeitos ao
confronto com a situação stressante. O fator 4, constituído por apenas dois itens, explica 5.2%
da varncia total e foi denominado “anestesia emocional, segundo a denominação de Foa et al.
(1995). Caracteriza o desgaste afetivo e a consequente anestesia emocional associada ao acon-
tecimento. Contudo, verifica-se que muitos itens, particularmente aqueles incluídos nos Fatores
1, 2 e 3 obtêm saturações consideráveis (pximas ou superiores a .3) em mais do que um fator
(exceção feita para os itens 1, 7, 8, 10, 17, 18 e 23). Nestes casos foram seguidos os seguintes cri-
rios para a atribuição dos itens aos fatores: magnitude da saturação factorial e consonância do
conteúdo e significado psicológico dos itens com a faceta do construto.
A análise das correlações entre fatores nos três grupos da amostra (Tabela 5) revela que estes
se correlacionam de modo diferente entre os grupos. No grupo n
1
todos os fatores têm correlações
significativas e positivas entre si. No grupo n
2
apenas o fator ativação fisiológica se correlaciona
de modo significativo com o fator intrusão e o fator evitamento. No grupo n
3
existe apenas uma
correlação significativa entre o fator ativação fisiológica e intrusão. Contudo, considerando o
número reduzido de sujeitos neste grupo, importa sobretudo analisar a magnitude das correla-
ções, que acabam por ser bastante similares ao grupo n
1
, com exceção das correlações entre os
fatores ativação fisiogica e anestesia emocional, e entre este último e o fator evitamento, que
revelam magnitudes inferiores.
TABELA5
Valores de Correlação Entre os Fatores e Total da Escala nos Três Grupos da Amostra
Grupos da amostra fatores n
1
n
2
n
3
AF – I .79* .62* .67*
AF – E .53* .32* .49
AF – AE .41* .26 .22
I – E .55* .26 .64
I – AE .46* .22 .50
E – AE .45* .02 .29
AF – Total .91* .89* .87*
I – Total .90* .78* .90*
E – Total .74* .60* .76*
AE – Total .57* .43 .46
Nota: AF – Ativação Fisiogica; I – Intruo; E – Evitamento; AE – Anestesia Emocional. * Correlação significativa ao nível .05 (2 extremidades).
Para estudar a consistência interna da escala, além do Alfa de Cronbach para os fatores e
total da escala (Tabela 6), verificou-se a contribuição de cada fator e itens para o resultado total,
através das matrizes correlacionais (Tabela 4).
Considerando o valor crítico do Alfa=.70, proposto por Nunnally (1978), para se reterem esti-
mativas adequadas da representatividade dos itens em cada fator, verifica-se que a maioria dos
fatores apresenta um valor superior a esta referência. O fator mais consistente é o referente à
ativação fisiológica, seguido de intrusão e evitamento. Refira-se, ainda, que o fator com Alfa mais
baixo (anestesia emocional) é aquele que possui menos itens, pelo que se pode atribuir a sua
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Versão portuguesa da Impact of Event Scale – Revised (IES-R)
menor homogeneidade a este facto. Neste sentido, partindo das recomendações de Pallant (2003),
considerámos como mais apropriada a análise da média de correlação inter-item (.354), que apre-
senta um valor aceitável. Os valores de Alfa de Cronbach obtidos permitem verificar que a maio-
ria dos fatores, assim como a escala no seu conjunto, são aceiveis e admissíveis, demonstrando
uma consistência interna satisfatória.
TABELA6
Valores do Alfa de Cronbach para os Fatores e Total da IES-R
Fatores Itens Alfa
Ativação Fisiológica 2, 4, 10, 15, 16, 18, 19, 20 .904
Intrusão 1, 3, 6, 9, 14, 21 .849
Evitamento 5, 8, 11, 12, 17, 22 .812
Anestesia Emocional 7, 13 .523
Total .923
As correlações corrigidas (esta correção implicou a subtração do valor do item ao total a cor-
relacionar com esse item) entre os fatores e o total da escala nos três grupos são significativas
(p<.05), exceto para os grupos n
2
e n
3
onde o fator anestesia emocional não se correlaciona de
modo significativo com o total da escala. Para o grupo n
1
e n
2
o fator ativação fisiogica é o que
mais se correlaciona com o resultado total. No grupo n
3
isto acontece com o fator intrusão. Para
os três grupos o fator anestesia emocional é aquele que menos se correlaciona com o total.
O valor total do Alfa de Cronbach varia pouco com a retirada de qualquer um dos itens do
inventário, revelando a homogeneidade dos itens na avaliação do construto geral que lhes sub-
jaz. A variação do Alfa, na maioria dos casos, corresponde a uma diminuição do mesmo, exce-
tuando com o item 7 e 22 que, se retirados, fariam aumentar muito ligeiramente o valor global da
consistência interna. As correlações entre os itens e o total da IES-R são, na sua maioria, modera-
das, significando que cada item explica algo específico, apesar de ter uma parte comum com os
restantes. As correlações entre itens e total variam entre .244 para o item 13, e .369 para o item 7.
Apesar de não se ter realizado o cruzamento da IES-R com outras escalas que meçam espe-
cificamente o mesmo construto, muito em conseqncia da ausência deste tipo de instrumentos
devidamente adaptados para a população portuguesa, foi utilizada a IJS para verificar a conver-
gência entre as vivências de violência nas relações afetivas e o impacto potencialmente traumá-
tico que estas possam ter. Estas duas escalas (IES-R e a IJS) foram administradas aos 92 sujeitos
avaliados em instituições de ensino superior da cidade de Coimbra. Os resultados revelam corre-
lações positivas e estatisticamente significativas (r = .37, p < .01).
Discussão
A versão portuguesa da IES-R revela uma elevada consistência interna para o total da escala,
bem como para os fatores que a compõem (exceção feita ao fator anestesia emocional), aproxi-
mando-se dos resultados verificados no estudo original de Weiss e Marmar (1997) e dos estudos
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de Maercker e Schützwohl (1998), Mystakidou et al. (2007) e de Wu e Chan (2003), relativos às
versões alemã, grega e chinesa respetivamente.
Apesar da validade convergente não ter sido efetuada com instrumentos que meçam cons-
trutos semelhantes, a correlação positiva e estatisticamente significativa com a IJS revela a exis-
tência de relação entre o impacto stressante, eventualmente traumático, e as vivências de vio-
ncia na relação afetiva. Tal resultado é consistente com a dimensão traumática subjacente às
situações de violência doméstica (Serra, 2003).
A estrutura fatorial da versão portuguesa da IES-R revela que esta é constituída por quatro
fatores que explicam 61.3% da variância total, embora inclua itens que saturam em mais do que
um fator. Estes fatores coincidem, em parte, com os obtidos nos estudos de Weiss e Marmar (1997)
e de Maercker e Schützwohl (1998), particularmente no que se refere ao quarto fator. Como foi
referenciado na introdução, a literatura reporta uma dificuldade em encontrar uma estrutura
clara para os fatores que compõem a escala, facto este também evidenciado em estudos relativos
à análise fatorial dos sintomas de PSPT, tal como eram definidos pelo DSM-IV, e que sustentaram
a criação da IES-R (Creamer et al., 2003; King et al., 1998; Taylor et al., 1998). Contudo, a emergên-
cia deste quarto fator, referente à anestesia emocional, é parcialmente consonante com o quarto
cluster de sintomas adicionado aos critérios de PSPT no DSM-5: alterações negativas na cognição
e no humor. Tal sustenta a importância de uma linha de investigação futura que aborde a possibi-
lidade da IES-R ser utilizada como ferramenta de rastreio da PSPT, segundo a mais recente formu-
lação do DSM-5 (Morina et al., 2013), um trabalho que deverá ser complementado por uma explo-
ração e refinamento dos modelos teóricos subjacentes à definão da perturbação. Efetivamente,
Creamer et al. (2003) reconhecem que uma das principais desvantagens da IES-R é a ausência de
uma conexão directa entre os itens e os critérios de diagnóstico do DSM, mas questionam se não
será vantajoso trabalhar com uma escala mais focada em avaliar construtos nucleares, do que em
aderir a critérios volúveis e instáveis.
Um dos estudos portugueses precedentes (Matos et al., 2011), que utilizou procedimentos
estatísticos similares na análise da dimensionalidade da IES-R, encontrou uma solução unifato-
rial, que os autores hipotetizam poder estar associada ao facto de ter sido estudada uma amostra
não cnica e de se ter focado uma experiência de vergonha (ao invés de um incidente trau-
tico). Osresultados do presente estudo, nomeadamente a estrutura de quatro fatores que emer-
giu numa amostra inquirida a propósito de acontecimentos geradores de grande stresse (com
diagnóstico de psicopatologia em dois dos grupos que a compõem), corroboram essa hipótese,
sublinhando a imporncia de considerar a natureza da amostra (principalmente no que respeita
ao tipo de acontecimento experienciado e à extensão e cronicidade da psicopatologia subjacente)
quando estudadas as características psicométricas das subescalas que compõem a IES-R (Crea-
mer et al., 2003).
Quanto à distribuição dos itens pelos fatores, e como já foi referido, alguns itens saturaram
em fatores distintos daquilo que se verificou no estudo original de Weiss e Marmar (1997). Neste
caso, encontram-se três itens do fator ativação fisiológica (itens 2, 16 e 20), incluídos original-
mente no fator intrusão; dois itens do fator intrusão, que no estudo original pertenciam ao fator
ativação fisiológica (item 21) e ao fator evitamento (item 5). A questão associada ao item 2 foi
igualmente detetada no estudo de Weiss e Marmar (1997), onde o item em causa apresentava
saturações próximas nos fatores intrusão e ativação fisiológica. Também na versão francesa e
alemã da IES-R este item teve maior saturação no fator ativação fisiogica (Brunet et al., 2003;
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Maercker & Schützwohl, 1998). A saturação do item 5 no fator intrusão foi igualmente detetada
na versão francesa da IES-R (Brunet et al., 2003). Também no estudo de Weiss e Marmar (1997)
este mesmo item evidenciou-se como problemático, obtendo saturações altas no fator evita-
mento. Neste sentido, ainda, este problema com o item 5 poderá estar relacionado com a sua
deficiente constrão, particularmente com o facto de poder ser interpretado de dois modos dis-
tintos: a primeira parte remetendo para sintomas de evitamento (tentava não ficar perturbado)
e a segunda para sintomas intrusivos (quando pensava no acontecimento ou quando alguém me
fazia recordá-lo). A elevada saturação do item 16 no fator ativação fisiológica poderá relacionar-
-se com o facto de o seu contdo apelar à dimensão mais emocional das vivências. A saturação
do item 20 no mesmo fator poderá estar relacionada com o facto dos outros itens relativos à quali-
dade do sono fazerem parte deste fator. Por fim, o item 21, ao remeter para a necessidade de estar
em constante alerta relativamente ao meio, pode ser interpretado como uma vivência ligada aos
sintomas de ativação fisiológica. Ainda neste contexto, os itens do fator ativação fisiológica são,
também, aqueles que mais saturam no fator intrusão. Também da análise das correlações entre
os fatores, nos três grupos da amostra, se verifica que as maiores correlações são entre o fator
ativação fisiológica e o fator intrusão. Estes resultados, já verificados noutros estudos (Brunet et
al., 2003; Olde et al., 2006; Wu & Chan, 2003), evidenciam uma parte comum importante entre os
fatores, particularmente entre os pensamentos intrusivos e as reações fisiológicas, uma vez que,
por hipótese, ambos podem ser sentidos como vivências involuntárias e incontroláveis, sepa-
veis apenas pela mediação do pensamento e do corpo numa e noutra destas dimensões. De
acrescentar, ainda, que a ativação fisiológica além de se correlacionar de modo elevado com
a intrusão, é o único fator que apresenta correlações significativas com outros fatores, nos três
grupos da amostra. Este facto indica que a ativação fisiogica inclui uma dimensão geral comum
aos restantes fatores, ou seja, à intrusão, evitamento e anestesia emocional. Este dado pode ainda
ser interpretado como indiciador de uma certa fraqueza e falta de consistência deste fator, sendo
mais viável o seu uso como indicador geral do nível de intensidade e sofrimento com que o acon-
tecimento foi experienciado. Esta posição é também sustentada por Olde et al. (2006), quando
sugerem que a IES é mais consistente como instrumento de medida do impacto traumático dos
acontecimentos do que a IES-R. Emntese, a proeminência da ativação fisiológica poderá estar
relacionada com o facto de a escala ser mais sensível a um construto geral de stresse (Creamer et
al., 2003; Zilberg et al., 1982).
No mesmo sentido, o facto de, neste estudo, o fator ativação fisiológica ser aquele que maior
explicação da variância obtém (40.13%) remete diretamente para a ideia de que o impacto dos
acontecimentos selecionados pelos sujeitos do estudo foi, no geral, mais stressante do que pro-
priamente traumático. Apesar disso, pode verificar-se a existência de diferenças estatistica-
mente significativas nas respostas à IES-R nos três grupos da amostra. No grupo n
1
, por exemplo,
os fatores encontram-se significativamente correlacionados entre si, sugerindo que neste caso
a escala foi mais sensível ao construto geral de stresse antes referido. No grupo n
2
, no entanto,
apenas o fator ativação fisiológica apresenta uma correlação positiva e estatisticamente signifi-
cativa com o fator intrusão e com o evitamento. No grupo n
3
, e comparativamente com o grupo
n
1
, verificou-se que a magnitude das correlações entre o fator anestesia emocional e os fatores
ativação fisiológica e evitamento era inferior. Estes dados sugerem que, nestes sujeitos, o impacto
do acontecimento, apesar de ter evocado intenso stresse, permanece numa dimensão pouco inte-
grada, típica dos processos traumáticos, tal como descrito por Horowitz (1979) nos processos de
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completion tendency. Os resultados das correlações entre subescalas sustentam ainda a hipótese
avançada por Weiss (2007) e Creamer et al. (2003) de que os construtos nucleares subjacentes à
IES-R se encontram menos diferenciados nos grupos que apresentam menores níveis de sintoma-
tologia ou que não revelam uma síndrome clínica delimitada, como a PSPT.
O fator intrusão é o segundo fator, depois da ativação fisiológica, com maiores pontuações
nos três grupos. Este resultado, na sequência do anterior, poderá estar relacionado com dificulda-
des específicas na elaboração do acontecimento, onde a sua evocação não é um simples produto
de uma recordação, mas antes a reprodução do acontecimento em “estado bruto, acompanhado
pela intensa ativação fisiogica e emocional a ele ancoradas (Joseph & Linley, 2005). Estes resul-
tados, no entanto, poderão estar igualmente relacionados com o facto da população do grupo n
2
e n
3
estar diagnosticada, na sua maioria, com Depressão e Perturbação de Ansiedade, patologias
onde os sintomas de intrusão são característicos (Taylor et al., 1998).
O surgimento de um quarto fator na estrutura da versão portuguesa da IES-R, anestesia emo-
cional, é salientado em diversos estudos relativos à PSPT (Foa et al., 1995; Litz et al., 2000; Kinzie,
1989; Taylor et al., 1998). Apesar deste fator ser estatisticamente pouco significativo, a sua exis-
tência como fator independente sai reforçada, evidenciando a necessidade de ser pensado como
um aspeto do construto.
Efetivamente, na IES-R o conceito de evitamento proposto por Horowitz (1979) parece reunir
diferentes tipos de mecanismos destinados a eliminar o desprazer. O mecanismo de evitamento,
por outras palavras, contém aspetos referentes ao mecanismo de repressão, tal como foi conce-
bido por Freud (1926/1959), ou de anestesia emocional, proposto por Foa et al. (1995). Torna-se,
assim, relevante a proposta destes últimos autores quando equacionam a possibilidade de sepa-
rar o mecanismo de evitamento em dois fatores distintos, considerando a sua dimensão mais
psicológica e mais automática.
A análise do comportamento deste fator no presente estudo, nomeadamente a alise das
correlações entre os fatores do grupo n
1
(visto ser só neste grupo que estes se correlacionam de
modo significativo) evidencia uma maior correlação entre o fator evitamento e a intrusão e uma
semelhante correlação entre o fator anestesia emocional e os fatores ativação fisiológica e evi-
tamento. Mais uma vez, estes resultados vão no sentido dos obtidos por Foa et al. (1995), onde
o mecanismo de anestesia emocional é ativado quando o sujeito vivencia uma intensa ativa-
ção fisiológica, evidenciando-se como um mecanismo mediado por processos mais automáticos,
enquanto o evitamento parece ser mediado por estratégias psicológicas persistentes, organiza-
das com o intuito de diminuir a intrusão. No estudo de Olde et al. (2006), foi detetada uma corre-
lação significativa entre o fator evitamento da Post-Traumatic Stress Symptom Scale – Self-Report
com o fator ativação fisiogica da IES-R. Assim, e ainda segundo os mesmos autores, o evita-
mento parece ser uma estratégia ligada aos sintomas de ativação fisiogica. A elevada correla-
ção obtida entre o fator evitamento e a ativação fisiológica, neste estudo, poderá relacionar-se
com o facto de, nesta versão, os itens pertencentes ao fator anestesia emocional se encontrarem
integrados no fator evitamento.
A fraca consistência deste fator, no presente estudo, poderá estar mais relacionada com o
facto da população em causa, na sua grande maioria, não sofrer de PSPT, nem ter vivenciado
traumas severos, pois, quando tal acontece, é suposto a ativação deste mecanismo ser mais proe-
minente (Kinzie, 1989; Foa et al., 1995). No entanto, note-se que é no grupo n
1
que este fator apa-
rece com maior pontuação, seguindo-se o grupo n
3
. Este facto leva-nos a colocar como hipótese a
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presença deste mecanismo não só na vivência de grandes traumas como, igualmente, em vivên-
cias “microtraumáticas” continuadas, como parece acontecer no grupo n
3
. Este resultado poderá
estar, também, relacionado com o facto de vários sujeitos destes grupos (n
1
e n
3
) terem selecio-
nado acontecimentos que ocorreram entre um a ts anos, enquanto a maioria dos sujeitos do
grupo n
2
o acontecimento selecionado ocorreu há mais de três anos. Isto é, a menor distância
temporal poderá tornar este mecanismo mais proeminente.
Finalmente, importa referenciar as interceses entre resultados da escala e variáveis socio-
demográficas. Relativamente às diferenças entre o género e as respostas à IES-R, verificou-se no
grupo n
2
uma pontuação mais elevada para os sujeitos do género feminino, tanto para o total da
IES-R, como para o fator ativação fisiológica. Este facto foi igualmente detetado noutros estudos,
como o de Zilberg et al. (1982). Quanto à idade, a única correlação estatisticamente significativa
encontrada verificou-se entre o fator intrusão e a idade dos sujeitos do grupo n
1
, facto também
detetado no estudo de Wu e Chan (2003).
Conclusões
A versão portuguesa da IES-R, além de revelar uma boa consistência interna para o total
e fatores, apresentou uma estrutura fatorial semelhante aos pressupostos teóricos dos autores
originais, indicando um instrumento adequado para fins de investigação e avaliação clínica.
Aemergência de um quarto fator, associado à anestesia emocional, apesar de representar um
desvio relativamente à estrutura original, é consonante com outros estudos sobre a escala (Maer-
cker & Schützwohl, 1998; Akusai et al., 2002; Lim et al., 2009) e com diferentes propostas teóricas
sobre a PSPT (Foa et al., 1995; Litz et al., 2000; Kinzie, 1989; Taylor et al., 1998), contribuindo assim
para fomentar a discussão sobre esta perturbação.
Os resultados evidenciam, também, que o conteúdo das experiências consequentes à vivên-
cia de um acontecimento stressante é similar para todos os sujeitos, independentemente do tipo
de acontecimento ou da população em causa, corroborando a hipótese de Horowitz (1979), assim
como a de Zilberg et al. (1982).
No entanto, o estudo aqui reportado comporta um conjunto de limitações que devem ser
clarificadas, nomeadamente na composição da amostra, com alguns grupos a apresentarem um
reduzido número de sujeitos, o que não permitiu, por exemplo, a análise dos resultados da IES-R
em fuão do tipo de acontecimento e do tempo decorrido entre este e o preenchimento do ques-
tionário. De destacar a necessidade de aprofundar os estudos psicométricos de adaptação e afe-
rição do inventário para a população portuguesa, ampliando as amostras e introduzindo grupos
devidamente diagnosticados com PSPT. Esta sugestão conecta-se ainda com a possibilidade de
analisar a intercessão entre a IES-R e os critérios de diagnóstico de PSPT do DSM-5. Por outro
lado, seria proveitoso que futuros estudos realizassem Análises Fatoriais Confirmatórias sobre a
estrutura fatorial que emergiu no presente estudo.
Outra limitão significativa deste trabalho prende-se com o facto de não terem sido obti-
dos dados relativos à estabilidade temporal da escala. A validade convergente mereceria, tam-
bém, uma análise mais específica com a utilização de instrumentos capazes de medir o mesmo
construto.
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